Pesquisador e mestre em Comunicação Tarcízio Silva lança livro "Racismo algorítmico – Inteligência artificial e discriminação nas redes sociais" e questiona como as estruturas de inteligência artificial (IA) reproduzem comportamentos racistas por meio de ferramentas como reconhecimento facial, filtros para selfies, moderação de conteúdo, chatbots, policiamento preditivo e escore de crédito, entre outros.
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“Quando se pensa, mede e critica “por quem” é feito, é possível descobrir que as grandes plataformas usadas em países como o Brasil costumam ser feitas por homens brancos, cis, afluentes, dos Estados Unidos. Promovendo a diversidade há, por exemplo, organizações que apoiam desenvolvedores e startups negras”, declara Tarcízio.
Máquinas racistas?
O pesquisador explica que na lógica de otimização que se baseia no aprendizado da máquina, os dispositivos partem do princípio que os dados que alimentam o sistema representam um mundo reproduzível. Busca-se partir do histórico de um determinado tipo de decisão para otimizá-la continuamente em favor de métricas de negócio ou gestão pública.
“Entretanto, temos inúmeros exemplos de como esta lógica reproduz e intensifica – ao mesmo tempo que esconde – decisões discriminatórias que foram tomadas de forma massiva anteriormente. Não podemos projetar o futuro da segurança pública ou da mídia repetindo os mesmos erros de desigualdade e discriminação do passado”, afirma.
As redes sociais, por exemplo, usam um algoritmo que coleta dados a partir das buscas e curtidas dos usuários para recomendar novos conteúdos, criando o que chamam de “bolhas”, ou seja, as pessoas consomem ideias parecidas com as suas e não são expostas a novos tipos de pensamentos, fazendo com que ideais antigos perpetuem.
Quando as empresas que desenvolvem as plataformas se isentam da responsabilidade de moderar conteúdos preconceituosos, a violência discursiva, incluindo falas racistas, se torna padrão para usuários e para algoritmos que aprendem e replicam.
Para além do uso das redes sociais e meios de comunicação, a plataformização, modelo de negócios que utiliza da tecnologia para ligar fornecedores e prestadores de serviço aos clientes, acelerou nos últimos anos. Isso significa que a concentração econômica e cultural através de aplicativos de transporte, entregas, paquera, saúde etc, é gerenciados um pequeno grupo de empresas.
Quando as empresas que desenvolvem as plataformas se isentam da responsabilidade de moderar conteúdos preconceituosos, a violência discursiva, incluindo falas racistas, se torna padrão para usuários e para algoritmos que aprendem e replicam.
Para além do uso das redes sociais e meios de comunicação, a plataformização, modelo de negócios que utiliza da tecnologia para ligar fornecedores e prestadores de serviço aos clientes, acelerou nos últimos anos. Isso significa que a concentração econômica e cultural através de aplicativos de transporte, entregas, paquera, saúde etc, é gerenciados um pequeno grupo de empresas.
Tarcízio afirma que a plataformização busca aumentar taxas de lucro e concentração econômica através da aparente comodidade de serviços digitais, mas resulta em erosão da capacidade de consumidores e cidadãos buscarem seus direitos. É um reflexo do acirramento da desigualdade e tem relações com o racismo estrutural, ao precarizar ainda mais as condições das populações já minorizadas.
Como combater o racismo algorítmico?
Sendo o racismo algorítmico o desdobramento digital-tecnológico do racismo estrutural, também está imbricado em várias camadas da sociedade e dos artefatos. Desse modo, para combate-lo, o pesquisador aponta que é preciso apoiar a diversificação dos desenvolvedores por trás dos algoritmos e o apoio a startups negras.
Outra forma de criar um mundo digital mais igualitário, é promovendo grupos de pesquisa, organizações e coletivos que mostram os impactos dos sistemas na sociedade a fim de criar uma população crítica que possa pressionar empresas, legisladores e governo.
“Cada vez parece que uma defesa forte de uma web plural é possível e urgente. Precisamos ter nos nossos imaginários sobre tecnologia a capacidade de lutar por futuros que hoje parecem utópicos, mas que podemos construir coletivamente”, afirma Tarcízio.