Jornal Estado de Minas

ARQUITETURA SUSTENTÁVEL

Conheça Francis Kéré, o primeiro negro a ganhar o 'Nobel' de Arquitetura


Diébédo Francis Kéré, arquiteto, educador e ativista social, foi o primeiro negro a receber o Prêmio Pritzker de Arquitetura, considerado o Nobel da área. Kéré se dedica principalmente a criar uma arquitetura contemporânea e afro-futurista valorizando o uso inovador de recursos locais. 



“Espero mudar o paradigma, levar as pessoas a sonhar e arriscar. Não é porque você é rico que você deve desperdiçar material. Não é porque você é pobre que você não deve tentar criar qualidade”, declarou Kéré ao Pritzker. “Todo mundo merece qualidade, todo mundo merece luxo e todo mundo merece conforto. Estamos interligados e as preocupações com o clima, a democracia e a escassez são preocupações de todos nós”, completa.

Kéré, nascido em 1965, é natural de uma vila chamada Gando, em Burkina Faso na África Oriental, sem água ou energia elétrica. Deixou sua cidade natal aos 7 anos para viver com um tio em uma cidade próxima, Tenkodogo, e ser o primeiro de sua família a frequentar a escola, que não tinha luz ou ventilação, o que levou Kéré a jurar que um dia faria escolas melhores. 
Escola primária de Gando, feita por e para os moradores da cidade (foto: Erik-Jan Owerkerk - cortesia do Pritzker Architecture Prize)

"Lembro-me da sala onde minha avó se sentava e contava histórias com um pouco de luz, enquanto nos aconchegávamos e sua voz dentro da sala nos envolvia, convocando-nos a chegar mais perto e formar um lugar seguro. Essa foi minha primeira sentido de arquitetura", declarou.



Formação na Alemanha

Em 1985, deixa Burkina Faso para estudar carpintaria em Berlim, Alemanha, além de frequentar a escola secundária à noite. Dez anos depois, recebe uma bolsa de graduação em arquitetura na Technische Universität Berlin, concluindo sua formação em 2004.
Kéré no Parque Nacional do Mali (foto: Reprodução: Kéré Architecture )

Apesar de obter dupla cidadania, Kéré nunca esqueceu suas raízes, dividindo seu tempo entre Alemanha e Burkina Faso. Fundou uma organização sem fins lucrativos para melhorar Gando, sendo responsável pela construção da Escola Primária de Gando, em 2001, feita por e para a população da cidade. O sucesso do projeto concedeu ao ativista o prêmio Prêmio Aga Khan em 2004.

"A arquitetura é um instrumento que podemos usar para criar cidades melhores, criar espaço para inspirar as pessoas, criar salas de aula que inspirem a melhor geração", disse ele à BBC Afrique.

Inspiração na natureza

Uma das marcas do burquinense é o uso da luz natural e de usar inspirações nas formas da natureza. Um exemplo é o Pavilhão Serpentine, construído em Londres em 2017. Segundo o site da Serpentine Gallery, sua inspiração para o projeto foram as árvores em sua aldeia natal, com estruturas que buscavam conectar os visitantes com a natureza ao redor.



Pavilhão Serpentine, inspirado nas árvores da terra natal de Kéré (foto: Iwan Baan)


“Uma expressão poética da luz é consistente em toda a obra de Kéré. Os raios de sol se infiltram em edifícios, pátios e espaços intermediários, superando as duras condições do meio-dia para oferecer locais de serenidade ou encontro”, afirma a declaração oficial do Prêmio Pritzker. 

Através de seu escritório, Kéré Architecture, realizou projetos em Benin, Mali, Dinamarca, Alemanha, Itália, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos e recebeu diversos prêmios em Arquitetura, entre eles, o Schelling Architecture Award, em 2014, e a Medalha da Fundação Thomas Jefferson em Arquitetura em 2021. Além disso, é membro honorário do Royal Architectural Institute of Canada, do American Institute of Architects e do Royal Institute of British Architects.

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