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Estado de Minas REPRESENTATIVIDADE

Dublagem de 'Red: crescer é uma fera' gera debates sobre representatividade

Filme original tem dublagem de atores de origem asiática. No Brasil, a preocupação não foi a mesma


17/03/2022 17:13 - atualizado 17/03/2022 17:53

Quadro comparativo entre os personagens do filme com os respectivos atores que os dublam. A semelhança entre os atores e os personagens é notável e dá para perceber que a produção teve cuidado em fazer a seleção
Personagens e atores que os dublam na produção original possuem a mesma ascendência (foto: Aussie Disney Girl/Youtube/Reprodução)

O filme "Red: crescer é uma fera", dirigido pela chinesa Domee Shi, é o mais recente lançamento da Pixar e ganhou repercussão, em boa parte, pela sua estética que remete aos primeiros anos da década de 2000. Teve sua estreia exclusivamente pela plataforma de streaming Disney+, em 11 de março, e conta com um elenco conhecido, com nomes como Sandra Oh (Grey’s Anatomy) e Maitreyi Ramakrishnan (Eu Nunca…).

O filme é sobre amadurecimento e conta a história da jovem sino-canadense Meilin Lee, e da relação com sua família e com seus amigos. Fortemente influenciado pelas experiências da própria equipe - a primeira na história da Pixar a ser liderada por mulheres - , o longa tem o cuidado de conciliar referências culturais com um enredo sensível e atraente para os mais diversos públicos.

Quadro comparativo entre a personagem Meilin e a atriz Rosalie Chiang. Na imagem, Meilin usa uma blusa vermelha e seu sorriso é grande. Tem cabelos curtos e uma presilha presa em seu cabelo. Rosalie está em um evento de divulgação do filme. Seus cabelos são longos, ela sorri e usa um vestido branco. Ambas são amarelas e de ascendência chinesa.
Meilin, personagem sino-canadense, é dublada pela atriz sino-americana Rosalie Chiang (foto: Pixar/Getty Images/Reprodução)


Uma das maiores preocupações do filme foi, inclusive, a de procurar atores das mesmas etnias - ou raças - dos personagens para as dublagens do material original. A família de Meilin foi dublada por atores asiáticos-amarelos e Priya, personagem asiática-marrom, teve a voz da atriz Maitreyi Ramakrishnan, que é de origem tâmil.

No Brasil, entretanto, não houve o mesmo esforço. Ary Fontoura, Rodrigo Lombardi e Flávia Alessandra foram atores selecionados para dublar personagens de origem asiática, apesar de serem brancos. O fato gerou indignação na internet e usuários das redes sociais começaram a comentar sobre o tema. "Triste demais, principalmente vendo que, em inglês, eles tiveram essa preocupação", comenta o ilustrador Monge Han.


Em busca de levantar esse debate, as atrizes Aya e Cláudia Okuno postaram um vídeo em suas redes sociais falando sobre a dublagem original e a brasileira, ainda sugerindo artistas amarelos que poderiam ter feito parte da produção. "Por que nenhum artista asiático brasileiro foi escalado?", questionaram.


Casos anteriores

Após o lançamento do filme "Pantera Negra", do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), em fevereiro de 2018, parte do público percebeu que a dublagem brasileira de grande parte dos personagens foi feita por profissionais brancos. O caso torna-se emblemático uma vez que o filme tem como um dos objetivos principais dar visibilidade à comunidade negra.

Pôster do filme Pantera Negra com atores com expressões sérias posicionados em uma montagem que deixa T'Challa em destaque
Pantera Negra teve elenco e produção majoritariamente negros, mas dublagem brasileira teve maioria branca (foto: Marvel/Divulgação)


Na ocasião, as críticas giraram em torno da falta de representatividade que o filme procurou levar ao público com elenco e produção majoritariamente negros e o apagamento desse esforço ao selecionarem dubladores brancos para a representação desses papéis no Brasil.

Guilherme Briggs, profissional consolidado na área, chegou a comentar sobre o assunto, explicando que a escalação dos dubladores se dá pela voz e adequação ao personagem ou ao ator, não tendo relação com a cor da pele. "Vários queridos colegas e irmãos dubladores negros dublam personagens ou atores brancos e vice-versa, da mesma forma que dubladores brancos dublam vários personagens e atores negros", comentou em uma de suas redes sociais.

Montagem com Shang-Chi centralizado em seu traje de batalha vermelho. Atrás dele estão os Dez Anéis nos braços de seu pai. Abaixo dele, há uma miniatura de seu pai em batalha. À sua esquerda, estão sua tia, sua irmã e um de seus inimigos. À sua direita, sua melhor amiga. Todos com expressões sérias.
Shang-Chi teve produção e elenco majoritariamente amarelos, mas dublagem brasileira também foi maioria branca (foto: Marvel/Divulgação)


Mais recentemente, outro filme da Marvel, "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" (2021), que conta com produção e elenco majoritariamente asiáticos-amarelos, também recebeu dublagem de atores e dubladores brancos no Brasil.

O ano de 2020 foi um marco para que mudanças pudessem começar a acontecer em diversos cenários. Assim que o movimento Black Lives Matter estourou nos Estados Unidos em consequência do assassinato de George Floyd em uma abordagem policial, a pressão para que grandes corporações se posicionassem a respeito do racismo também cresceu.

A família dos Simpsons está em uma gangorra. Homer de um lado e o restante da família do outro. Mesmo assim, o peso dele é maior.
Os Simpsons anunciaram a mudança de elenco após pressão do movimento Black Lives Matter (foto: FOX/Divulgação)


Em busca de levar mais representatividade às telinhas, séries televisivas como "Os Simpsons", "Uma Família da Pesada", "Central Park" e "Big Mouth" tiveram alterações nos elencos. No fim de junho de 2020, os produtores de "Os Simpsons" anunciaram que atores brancos deixariam de dar voz a personagens de outras etnias.

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