O filme "Red: crescer é uma fera", dirigido pela chinesa Domee Shi, é o mais recente lançamento da Pixar e ganhou repercussão, em boa parte, pela sua estética que remete aos primeiros anos da década de 2000. Teve sua estreia exclusivamente pela plataforma de streaming Disney+, em 11 de março, e conta com um elenco conhecido, com nomes como Sandra Oh (Grey’s Anatomy) e Maitreyi Ramakrishnan (Eu Nunca…).
O filme é sobre amadurecimento e conta a história da jovem sino-canadense Meilin Lee, e da relação com sua família e com seus amigos. Fortemente influenciado pelas experiências da própria equipe - a primeira na história da Pixar a ser liderada por mulheres - , o longa tem o cuidado de conciliar referências culturais com um enredo sensível e atraente para os mais diversos públicos.
Uma das maiores preocupações do filme foi, inclusive, a de procurar atores das mesmas etnias - ou raças - dos personagens para as dublagens do material original. A família de Meilin foi dublada por atores asiáticos-amarelos e Priya, personagem asiática-marrom, teve a voz da atriz Maitreyi Ramakrishnan, que é de origem tâmil.
No Brasil, entretanto, não houve o mesmo esforço. Ary Fontoura, Rodrigo Lombardi e Flávia Alessandra foram atores selecionados para dublar personagens de origem asiática, apesar de serem brancos. O fato gerou indignação na internet e usuários das redes sociais começaram a comentar sobre o tema. "Triste demais, principalmente vendo que, em inglês, eles tiveram essa preocupação", comenta o ilustrador Monge Han.
Em busca de levantar esse debate, as atrizes Aya e Cláudia Okuno postaram um vídeo em suas redes sociais falando sobre a dublagem original e a brasileira, ainda sugerindo artistas amarelos que poderiam ter feito parte da produção. "Por que nenhum artista asiático brasileiro foi escalado?", questionaram.
Casos anteriores
Após o lançamento do filme "Pantera Negra", do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), em fevereiro de 2018, parte do público percebeu que a dublagem brasileira de grande parte dos personagens foi feita por profissionais brancos. O caso torna-se emblemático uma vez que o filme tem como um dos objetivos principais dar visibilidade à comunidade negra.
Na ocasião, as críticas giraram em torno da falta de representatividade que o filme procurou levar ao público com elenco e produção majoritariamente negros e o apagamento desse esforço ao selecionarem dubladores brancos para a representação desses papéis no Brasil.
Guilherme Briggs, profissional consolidado na área, chegou a comentar sobre o assunto, explicando que a escalação dos dubladores se dá pela voz e adequação ao personagem ou ao ator, não tendo relação com a cor da pele. "Vários queridos colegas e irmãos dubladores negros dublam personagens ou atores brancos e vice-versa, da mesma forma que dubladores brancos dublam vários personagens e atores negros", comentou em uma de suas redes sociais.
Mais recentemente, outro filme da Marvel, "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" (2021), que conta com produção e elenco majoritariamente asiáticos-amarelos, também recebeu dublagem de atores e dubladores brancos no Brasil.
O ano de 2020 foi um marco para que mudanças pudessem começar a acontecer em diversos cenários. Assim que o movimento Black Lives Matter estourou nos Estados Unidos em consequência do assassinato de George Floyd em uma abordagem policial, a pressão para que grandes corporações se posicionassem a respeito do racismo também cresceu.
Em busca de levar mais representatividade às telinhas, séries televisivas como "Os Simpsons", "Uma Família da Pesada", "Central Park" e "Big Mouth" tiveram alterações nos elencos. No fim de junho de 2020, os produtores de "Os Simpsons" anunciaram que atores brancos deixariam de dar voz a personagens de outras etnias.
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