Na última quinta-feira (17/03) o rapper porto-riquenho Residente lançou o clipe de sua música “This is not America” (Isso não é América), que critica o posicionamento dos Estados Unidos, de se autointitular como América. Recheado de referências à história latino-americana, inclusive uma referência direta ao atual presidente Jair Bolsonaro (PL), o clipe tem direção do francês Grégory Ohrel e participação da dupla de Ibeyi, composto pelas gêmeas franco-cubanas Lisa-Kaindé e Naomi Díaz.
Para os brasileiros, duas cenas em especial chamaram a atenção. A primeira é um homem loiro, representando um presidente, que almoça um prato de carne enquanto uma criança indígena observa a cena, depois limpa a boca na bandeira do Brasil. Residente chegou a afirmar que a escolha foi proposital para fazer uma referência a Bolsonaro, representando todos os presidentes que não visam o bem dos países que governam, como hoje acontece na Nicarágua, Cuba e Venezuela, além do próprio Brasil.
A segunda cena é uma montagem onde metade da cena é um jogador de futebol em um estádio segurando a taça da Copa do Mundo e a outra metade é um homem segurando um fuzil em uma favela, mostrando como o símbolo da cultura brasileira convive com o tráfico com uma inegável proximidade.
REFERÊNCIAS E PARALELOS
A primeira cena é uma referência direta à obra do chileno Alfredo Jaar, exibida na Times Square, NY, em 1987. O letreiro entregava a mensagem “This is not américa” (isso não é América) e “This is not the american flag” (essa não é a bandeira americana), mostrando o mapa e a bandeira dos estados Unidos respectivamente, depois mostrando um mapa de todo o continente americano escrito “America”.
Em meio a representações de danças típicas e outras expressões culturais, referências ao longo do clipe reforçam a violência e a presença do imperialismo estado-unidense com crianças vestindo roupas típicas sentadas sobre pilhas de embalagens que lembram os copos da Starbucks e caixas do Mc’Donalds.
A cena mais impactante do clipe recria a execução de Victor Jara, cantor e compositor morto em 1973 pela ditadura de Augusto Pinochet, no Chile. A cena ter lugar em um estádio se deve ao fato de o Estádio Nacional do Chile ter sido usado como campo de concentração durante a ditadura Pinochetista e o local da execução de Jara. Atualmente o estádio foi rebatizado com o nome do artista.
A produção também recriou a execução do líder peruano Tupac Amaru em moldes mais modernos. Tupac liderou o Peru contra o controle da Espanha em 1780 e teve seu corpo preso a quatro cavalos que o puxaram em direções opostas para esquartejá-lo, no clipe há policiais puxando um manifestante. Na letra, residente lembra que o rapper 2pac, um dos mais lembrados rappers dos EUA, escolheu seu nome artístico em homenagem à figura histórica.
A crise migratória faz sua aparição na cena onde uma família está separada por uma grade, e as mulheres do Exército Zapatista de Libertação Nacional, grupo revolucionário do México é referenciado no trecho “o facão não é só pra cortar cana, também é pra cortar cabeças”.