Jornal Estado de Minas

DIVERSIDADE NO OSCAR

Oscar da diversidade: atriz queer e o primeiro ator surdo levam estatuetas



A premiação do Oscar mostrou que está mais atento às críticas e comentários sobre a representatividade de grupos diversos nas indicações, principalmente depois do cancelamento da transmissão do Globo de Ouro 2022 devido às manifestações que exigiam maior diversidade em Hollywood. Desde a escolha dos apresentadores das categorias até os vencedores, é possível ver uma mudança gradual em andamento. 



A entrega da premiação, na noite de domingo (27/03), foi marcada pelo filme “No ritmo do coração”, que conquistou três estatuetas. O filme acompanha uma família de surdos na qual Ruby (Emilia Jones) é a única que não é deficiente auditiva, sendo a conexão da família com o resto do mundo. A produção teve o cuidado de que os personagens surdos da trama fossem interpretados por atores que também tinham a deficiência.  

O longa rendeu o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante para Troy Kotsur, no papel de Frank Rossi, o primeiro ator surdo a ganhar um Oscar. Troy contracena no filme com Marlee Matlin, a primeira atriz surda a vencer um Oscar pelo filme Filhos do Silêncio, em 1987.

"Quero dizer que este prêmio é dedicado à comunidade de déficit auditivo, à comunidade CODA (Child of deaf adult - filho de adulto surdo em tradução livre) e à comunidade de pessoas portadoras de deficiência. Este é o nosso momento. Para a minha mãe, o meu pai e meu irmão, Mark: eles não estão aqui hoje, mas olhem para mim. Eu cheguei aqui!", declarou Troy em seu discurso feito em língua de sinais. A fala do ator foi aplaudida em sinais pela plateia de pé.

Diversidade nas premiações

Além do prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, “No Ritmo do Coração” também ganhou o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme, prêmio que foi anunciado por Lady Gaga e Liza Minnetti. Aos 76 anos, Liza foi acolhida por Gaga que segurou sua mão, quando ela titubeou ao falar.  “Estou com você”, disse à colega de apresentação que é cadeirante.



Na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante o Oscar foi para Ariana DeBose, pelo filme “Amor, Sublime Amor” no papel de Anita. Ariana é a primeira afrolatina e abertamente queer a ganhar o prêmio. A atriz usou um conjunto de blusa e calça vermelhos, completado por uma capa também vermelha, e em resposta para quem opina sobre ela se vestir como homem ou como mulher, disse apenas que estava se vestindo como ela mesma.

Ariana DeBose é a primeira afro-latina a ganhar o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (foto: FREDERIC J. BROWN)


"Imagine essa menina no banco de trás de um Ford Focus branco. Olhe nos olhos dela, veja uma mulher de cor abertamente queer e afro-latina que encontrou sua vida e sua força na arte. Isso é o que acredito que celebramos aqui. Então, se alguém, alguma vez, questionou a sua identidade, prometo a você, há um lugar para nós", afirmou Ariana em seu discurso ao receber o prêmio. 

Jane Campion ganhou o Oscar de Melhor Direção com “Ataque dos Cães”, a primeira vez que duas mulheres vencem na categoria em anos consecutivos. Ano passado Chloe Zhao ganhou a estatueta por “Nomadland”. 



Na categoria de Melhor Animação o vencedor foi “Encanto”, animação da Disney sobre uma família com poderes mágicos que se passa na Colômbia. Além dos personagens serem representados com características latinas, Mirabel é a primeira personagem principal da Disney a usar óculos. 

Apresentações marcantes

O início da cerimônia foi emblemático por trazer as atletas negras, Serena e Vênus Willians, cuja vida e relação com o pai foi inspiração para o filme "King Richard: Criando Campeãs" que fizeram a chamada para a apresentação de Beyoncé, que concorria ao prêmio de Melhor Canção Original com “Be Alive”. A canção foi interpretada ao vivo da quadra onde as irmãs treinavam tênis no início da carreira e contava com orquestra, coral e time de dançarinas totalmente formado por mulheres.

Amy Schumer, Wanda Sykes e Regina Hall, fizeram o discurso inicial do Oscar (foto: ROBYN BECK)


Na sequência, Amy Schumer, Wanda Sykes e Regina Hall, duas atrizes negras e uma lésbica, fizeram o discurso inicial com severas críticas ao sexismo, e à LGBTfobia. "É mais barato contratar três mulheres do que apenas um homem para apresentar a cerimônia", declarou Wanda. O trio ainda fez referência à carta dos funcionários da Pixar contra o apoio da Disney à um político que era a favor da aprovação da Lei apelidada de “Don’t say gay” (não diga gay) no estado de Flórida, afirmando “gay, gay, gay” diversas vezes no palco.



A noite também teve apresentação de Elliot Page, Jennifer Garner e J. K. Simmons, todos do elenco de “Juno” (2007), em comemoração dos 15 anos do longa. Na época das filmagens de Juno, Elliot ainda se identificava como Ellen, e surge na cerimonia do Oscar já com a transição completa. 

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*Estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz