Jornal Estado de Minas

GASTRONOMIA

Chef Carmem Virginia apresenta o encontro da gastronomia e ancestralidade

 

A relação entre memória, ancestralidade e gastronomia será apresentada pela chef pernambucana Dona Carmem Virgínia. Ela é a convida da edição especial do “Conversa ao Pé do Fogão”, apresentando o tema Culturas Populares, que será apresentado nesta quinta-feira (31/3), às 19h, no Centro Cultural Usina de Cultura, no bairro Ipiranga, na Região Nordeste de BH. Mulher negra, a chef encontrou sua missão como cozinheira dentro da religiosidade de matriz africana.





 

“Amo Minas Gerais, seu povo, sua gente, sua comida, e a força de Minas é uma grande potência cultural. No quesito cozinha, é uma cozinha de excelência. Então um convite desses me faz ter vontade de estar mais em Minas, de provar mais, saborear mais, e isso eu vou poder sentir um pouquinho através das pessoas que estarão no evento”, declara Dona Carmem.

 

O evento terá lugar no Centro Cultural Usina de Cultura, cujo nome remete à capacidade e à potência de se produzir energia, contará com uma roda de conversa com Dona Virgínia que compartilhará sua trajetória, histórias de comida e afeto, e referências na culinária afro-brasileira. “É muito bacana ser convidada justamente por ser reconhecidamente uma pessoa da área da gastronomia que tem  total sintonia com a comida brasileira”, conta.

 

A chef acredita que falar sobre comida é tão importante quanto fazê-la, pois é uma maneira de abordar a cultura de um povo. Ela explica que há três matrizes da culinária brasileira: europeia, indígena e africana. Ela destaca que a comida mineira é uma gastronomia de negros e dos tropeiros, as pessoas que passavam nas estradas. Formou-se no estado uma gastronomia de quintal, de família, voltada para a festa.





 

Já na Bahia, é uma gastronomia mais voltada para a religiosidade, a cozinha de orixá, que está dentro da cozinha africana. Pernambuco é uma gastronomia mista, da chamada “casa grande” e da negra. “Pessoas que vieram enjauladas, acorrentadas, sequestradas e ainda sim conseguiram fazer essa coisa maravilhosa que os negros conseguiram fazer dentro da gastronomia brasileira é algo que me orgulho muito”, declara.

 

O “Conversa ao Pé do Fogão” também contará com a apresentação da peça teatral “Mata Rasteira”, do grupo Caras Pintadas, que contará a história de luta pela liberdade da população afro-brasileira. O grupo trabalha com a musicalidade e corporeidade da capoeira, além da contação de histórias dos griots africanos para narrar a odisseia de Nlongi, um menino nascido em Angola.

 

Também integra a programação, a atividade Laboratório sem receita, ação formativa com a artista Luisa Macedo, em que os participantes são convidados a cozinhar usando ingredientes que resgatam alguma memória afetiva, sem o uso de receitas, sendo o cardápio final, uma surpresa para os presentes.





 

O evento será realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura, em parceria com o Centro de Intercâmbio e Referência Cultural (CIRC).


O chamado da culinária 

Dona Carmem Virgínia iniciou na culinária sem  ter ideia da longa jornada, acompanhando a avó, que era merendeira, dentro da cozinha e admirava como sua comida alegrava e causava orgulho nas pessoas em volta.

 

Aos 7 anos, o orixá Xangô a escolheu como Iyabassé, ficando responsável pelo preparo dos alimentos sagrados para as divindades no candomblé. “Iyabassé é uma mãe que cozinha, uma pessoa que foi escolhida pelas divindades para cozinhar para ela. E não pode ser qualquer pessoa, ela tem que se preparar pra isso”, explica. “Ela que tem um saber e uma energia para que possa transmitir através da comida todo amor e todo axé, ao que é oferendado à natureza”, completa.





 

Dona Carmem cursou gastronomia. Ao optar pela formação superior, ela não pretendia abandonar a vocação como Iyabassé, mas entendia a importância de conhecer as técnicas, histórias dos pratos e referências. Encontrou o equilíbrio entre seus dois lados se mantendo fiel à identidade negra.  nunca deixando a mulher acadêmica, que conhece as técnicas da gastronomia ser maior do que o olhar que tem voltado para a simplicidade do que é uma cozinha e das pessoas que a ensinaram nos terreiros.

 

“Tenho uma relação estreita com a comida, com os ingredientes. Eles se transformam comigo, e eu acho que só consigo isso porque dentro de mim tem um querer tão grande que as pessoas se sintam felizes por comer a minha comida que esse é todo o sentido da palavra cozinhar”, declara.

 

Hoje, além de chef, é pesquisadora, influencer e jurada nos realities shows "Cozinheiros em ação", do GNT, e "FFF Brasil", do SBT. Além disso luta para que a gastronomia negra seja conhecida, e que essa seja plural uma vez que o continente africano tem 54 países com suas culturas e diversas cozinhas, cada com suas particularidades.





 

SERVIÇO: 

CONVERSA AO PÉ DO FOGÃO

Data: 31 de março

Bate-papo com Dona Carmem Virgínia: 19h
Espetáculo Mata Rasteira: 20h

Entrada: evento presencial gratuito

Local: Centro Cultural Usina de Cultura | R. Dom Cabral, 765 - Ipiranga

Ingressos: por ordem de chegada, sujeito à lotação


Para mais informações, acesse: 
www.circuitomunicipaldecultura.com.br

 


Ouça e acompanhe as edições do podcast DiversEM


 

*Estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz