Jornal Estado de Minas

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Autismo e TikTok: o ativismo e o cotidiano de Arthur nas redes sociais


"Eu não era uma mãe ativista do autismo, durante 20 anos meu filho viveu escondido e quase não interagia. Na pandemia, passei a gravar vídeos meus, do cotidiano, até que um dia o Arthur apareceu. Foi nas eleições de 2020. Ele perguntou se podia só justificar a ausência nas urnas. Quando questionei o motivo, ele disse que era porque ‘autista não precisava votar’. Achei engraçado, publiquei, e o vídeo viralizou."





Renata Oliveira e Arthur Douglas, mãe e filho, são ativistas pela causa autista e influenciadores nas redes sociais. Uma causa que neste 2 de abril é marcada pelo reconhecimento da data como Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A história da família faz parte da edição especial do podcast DiversEM, que você pode ouvir abaixo.


Em seu perfil no TikTok @arthuromeninoautista, Arthur conta com mais de 1,2 milhões de seguidores. Lá, ele e a mãe mostram cenas do dia a dia, desafios e experimentações. Arthur foi diagnosticado com autismo aos 12 anos, após um encaminhamento da escola para um psicólogo. Depois de passar por três instituições diferentes, a última acolheu melhor a sua diferença e apoiou Renata, que conseguiu bolsa de estudos, na busca do diagnóstico.
 


Arthur conta que nunca foi bem aceito pelos colegas de turma. Era visto como "diferente". Relembra, com certa dificuldade e resistência, momentos difíceis que passou na escola. "Lá eu estudava, mas não costumava falar com as pessoas ou fazer amizades. Normalmente, me achavam estranho ou não interagiam comigo", conta.






Renata é artesã e tem outros três filhos. Arthur hoje é programador e seu hiperfoco, característica comum entre pessoas autistas, permite que ele esteja concentrado na produção de um jogo on-line. O jovem domina as linguagens C e Java de programação e utiliza também conhecimentos de física para o desenvolvimento do game.

O jogo que Arthur desenvolve há dois anos já está na sua fase final (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


Cada avanço do jovem é comemorado pelos seguidores nos comentários dos vídeos. "Parabéns Arthur, estamos orgulhosos de você!", escreveu uma seguidora no vídeo em que Renata filma, da janela de casa, a primeira vez em que o menino saiu sozinho para comprar leite no mercado da rua. O post viralizou e tem mais de 3,8 milhões de visualizações.

"Acredite nos seus sonhos"

Renata conta que, com as redes sociais, Arthur passou a entender que nem todas as pessoas do mundo são más (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
O início nas redes sociais não foi tão fácil, e Arthur foi resistente para começar a aparecer com frequência após o vídeo viralizado. Tinha medo de ser julgado pelas pessoas como acontecia na época da escola. Foi Renata que o incentivou a começar, e disse que ele podia motivar outros jovens e crianças autistas. O seu lema passou a ser "acredite nos seus sonhos", que ele espalha por onde passa.





O perfil nas redes não se resume a falar apenas do TEA, algo reforçado pela artesã. Falam também sobre games, sobre cabelo cacheado, vida na cidade. Arthur tem, inclusive, outro canal no Youtube para falar apenas dos jogos, chamado de “Projeto ZombieCave”, que é o nome do game que ele está desenvolvendo.


Pouco a pouco, a discussão do tema tem alcançado mais públicos e trazendo o debate do que é a verdadeira inclusão. Recentemente, a dupla Renata e Arthur foi chamada para ser representante de uma marca de cosméticos para cabelo, já que eles sempre eram questionados pelos seguidores sobre como eles cuidavam dos cachos.

Arthur e a mãe compartilham também a rotina de cuidado com os cabelos cacheados (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


"A primeira empresa que aceitou o Arthur, nós temos um engajamento muito bom, mas as pessoas ainda não enxergaram o autista como a cara de uma empresa ou uma marca. Nós já usávamos os produtos, e os seguidores perguntavam qual a marca. Quando dissemos, eles passaram a marcar o arroba da empresa para que fizéssemos parceria. Foram milhares de comentários."




Desafios da pandemia

Algo colocado com frequência por muitas mães de crianças autistas é a dificuldade do uso de máscaras de proteção contra o coronavírus. Por terem alterações sensoriais, o equipamento pode se tornar um item bastante incômodo. "É uma das grandes dificuldades que a gente teve, e nos prende muito, por conta da pandemia. Por que como a gente vai para os lugares sem que ele use máscara?", diz Vanessa Cardoso, mãe de Arthur, também uma criança autista de 3 anos.

Karina Icasatti é mãe do Gabriel, de 9 anos, uma criança com síndrome de Down e autismo. Ela conta que "muitas vezes o tipo de tecido, etiquetas, incomodam. Não são todas as pessoas com autismo que não conseguem usar a máscara, mas um grande número de indivíduos com TEA não aceitam. Muitas vezes as crises das crianças são confundidas com birras e pirraças. E não ter na aparência algo que identifique a condição, algum traço físico, complica a vida de muitas famílias."

Ouça e acompanhe as edições do podcast DiversEM




podcast DiversEM é uma produção quinzenal dedicada ao debate plural, aberto, com diferentes vozes e que convida o ouvinte para pensar além do convencional. Cada episódio é uma oportunidade para conhecer novos temas ou se aprofundar em assuntos relevantes, sempre com o olhar único e apurado de nossos convidados.



*estagiárias sob supervisão do subeditor Rafael Alves