Da inquietação do Slam Clube da Luta, o primeiro Slam de Minas Gerais, surge um novo formato de competição de apresentações, o Festival Performa Slam. A segunda edição do evento tem início nesta terça-feira (6/4). O festival é um hibrido entre o slam e o teatro, abrindo possibilidade de uso de objetos de cena para completar as apresentações.
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Pessoas com deficiência apontam falhas de acessibilidade em festivais 'Fui demonizada', diz ciclista trans barrada em competição femininaNão fale de cura: caminhos para inclusão de pessoas autistasSlam Interescolar leva poesia e escrita criativa para escolas de BHEspetáculo apresenta a religiosidade de matriz africana por meio da dançaO slam tradicional tem como regras que os poetas declamem uma poesia autoral, empregando apenas o corpo e a voz, no tempo máximo de três minutos. O Performa Slam mantém a regra da poesia autoral, mas aumenta o tempo para dez minutos e permite o uso de objetos cênicos, inclusive da própria plateia, e o poeta pode improvisar com ajuda do público.
Entre os dias hoje e sexta, serão realizadas quatro apresentações diárias. A plateia escolherá os finalistas.Na final, no sábado (9/4), os finalistas de cada dia realizam as apresentações em busca de vencer a competição.
Processo de experimentação
A primeira edição do Festival Performa Slam, que ocorreu em janeiro de 2022, apresentou o formato, que favorece a experimentação. A performance é aberta, o que permite múltiplas interpretações, e poder extrapolar o espaço da sala onde se inicia. “Ainda há possibilidade desse entendimento do que é a performance, do que é estar em risco e usar isso como estratégia”, diz Rogério. Na primeira edição, foram três finalistas, Thamara Selva, Katia Leal e Sarau Sexta Básica. Todos já participavam de Slams e viram o Performa Slam como um novo desafio.
O vencedor da primeira edição foi o grupo Sarau Sexta Básica, composto por Kadosh Miranda, Gabriel Poeta e D’Grego. Cada um dos poetas fez duas apresentações, uma nas classificatórias e uma na final, entre os temas estavam o corpo travesti, a loucura, suicídio, depressão e militância negra.
“No primeiro dia, foi um choque ganhar as seletivas para ir para a final. Na final, a Thamara me surmpreendeu com a performance dela, sobre pandemia. Quando a gente viu que a gente ganhou, foi uma surpresa também”, conta Kadosh.
Kadosh, com pai musico e mãe poeta, vê o palco como um lugar de conforto e liberdade, local em que ele pode unir performance e o improviso. “Minha poesia é puro caos, eu posso estar falando de amor e capitalismo ao mesmo tempo, eu trabalho com a arte do caos”, explica Kadosh.
Thamara faz parte do grupo de teatro Morro Encena, performer, poeta marginal, professora de teatro, arte educadora e produtora cultural e musical, e conta que se descobriu poeta em 2014. “Na realidade eu sempre escrevi, eu só não entendia que aquilo que eu escrevia era poesia. A gente tem hoje, academicamente falando, moldes muito elitistas sobre o que é e o que não é poesia”.
Este ano, com a performance “Jurada para morrer (de amor)”, Thamara conta que participar do Performa Slam é a realização de um sonho. Ela faz a junção de duas artes que ama, teatro e poesia.
“Estar em foco é sempre um desafio, estar sob o olhar de pessoas que aguardam algo de você, seja isso só você, seu corpo e a poesia ou seja você, objetos cênicos e poesia, ambas as situações são bem desafiadoras”, conta Thamara.
Poesia salva vidas
A finalista do 1º Festival Performa Slam Katia Leal começou a escrever poesias na adolescência para presentear os amigos e familiares. Ne entanto, foi apenas em 2011, quando participou do primeiro sarau, que a paixão pela poesia ganhou força. Se inspira em vivencias, musicas, frases, programas de tv, notícias para criar seus textos.
Em 2017, começou a participar de Slams, e representou Minas na etapa nacional. Porém, no mesmo ano, Katia começou um processo de depressão, que só foi diagnosticado anos mais tarde. Nesse período, não sentia vontade de escrever, ficou reclusa e chegou a ter pensamentos suicidas.
Em janeiro de 2022, com a divulgação das inscrições do Performa Slam, Katia sentiu vontade de participar, fez o vídeo de inscrição e foi selecionada. “De repente, depois de cinco anos, eu senti vontade de recitar. Eu achava que nunca mais ia recitar, então mandei sem intenção nenhuma”, conta Katia.
A poesia que declamou na final, “Menino bobo”, é inspirada em pessoas com deficiência, como seu filho, com autismo, e sua irmã, com Síndrome de Down. “É uma homenagem aos “bobos” que existem no mundo, mas que são mais inteligentes que todos a sua volta”.
A poeta conta que faz poesia por amor, e que é gratificante ver que uma pessoa saiu de lá e viu que o filho dela não é bobo, que pode ir na delegacia e denunciar uma agressão, por exemplo. Além disso, conta que declamando para uma pessoa, ou para uma multidão, faz com o mesmo amor, pois é algo que faz sem esperar nada em troca.
Nesta segunda edição, Katia irá falar sobre o período que esteve em depressão. “Acho importante eu falar, como eu estive naquele momento tão difícil. Chegar e falar como eu estava. Talvez a pessoa que está passando por uma depressão acredite que possa sair desse momento também”, explica.
Serviço
2º Festival Performa Slam - competição da poesia falada En-cena
06/04/2022 - C.C. Bairro das Indústrias - 19hs
07/04/2022 - C.C. Urucuia - 19hs
08/04/2022 - C.C. Lindéia Regina - 19hs
09/04/2022 - Viaduto das Artes - oficina de 14hs às 16hs + FINAL às 18hs
Realização
Projeto aprovado pelo Edital DESCENTRA CULTURA nº 1558/2021 LMIC pelo Fundo Municipal de Cultura de BH, por meio da Secretaria Municipal de Cultura.
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O podcast DiversEM é uma produção quinzenal dedicada ao debate plural, aberto, com diferentes vozes e que convida o ouvinte para pensar além do convencional. Cada episódio é uma oportunidade para conhecer novos temas ou se aprofundar em assuntos relevantes, sempre com o olhar único e apurado de nossos convidados.
*Estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz