A vereadora Duda Salabert (PDT) ressalta que é imprescindível cobrar do Estado mecanismos que garantam a segurança das mulheres, cis, travestis ou trans nas eleições de outubro deste ano. Duda participa do debate Violência Política de Gênero, que será realizado na arena da Fafich, na Universidade Federal de Minas Gerais, na Pampulha, nesta quarta-feira (13/4) às 18h. Na ocasião será lançado o livro “Sempre foi sobre nós: Relatos da violência política de gênero no Brasil”.
“É importante a gente cobrar das instituições do Estado, mecanismos que garantam que as mulheres, sejam elas travestis, transexuais ou cis gêneros, consigam enfrentar esse processo eleitoral sem sofrer tamanha violência politica como ocorreu em eleições anteriores. É um desafio e ao mesmo tempo uma cobrança que nós fazemos”, afirma a vereadora.
Acompanham Duda no debate a ex-deputada estadual Manuela D’Avila, a ex-deputada federal Jô Moraes (PCdoB) e a Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a mulher (Nepem), Marlise Matos. “A ideia é que a gente traga nessa roda de conversa um pouco do acumulo de experiencias e vivências e reflexões no que se refere à violência política, afirma Duda.
O crescimento da participação política das mulheres veio acompanhado do aumento no número de casos de violência política conta elas. “Eu mesma, na Câmara Municipal no Dia das mulheres no ano passado, fui vítima da violência política em que um vereador desconsiderou minha identidade de gênero e ainda comparou o feminismo à água de salsicha, ou seja, que na visão dele não tem serventia nenhuma”, relata a vereadora.
Duda conta que sofreu três ameaças de morte, no ano passado, fazendo-a se afastar do exercício de sua profissão como professora e ter que andar com escolta a fim de garantir sua segurança.
Violência política de gênero
Assim como na violência doméstica, a violência política de gênero pode ocorrer em várias esferas e de várias formas, como violência verbal, física, psicológica, econômicas e simbólicas. Além disso a estrutura patriarcal da sociedade auxilia a manutenção espaços de poder, dificultando a ação das mulheres na política e mantendo homens, em sua maioria brancos, em cargos políticos.
Casos como o da vereadora do Maranhão Katyane Leite (PTB), que foi interrompida e teve o microfone arrancado de suas mãos pelo vereador Emanuel Nascimento (PL) durante a sessão da Câmara Municipal de Pedreiras. A senadora Simone Tebet (MDB) foi chamada de “descontrolada” por Wagner Rosário durante a CPI da COVID-19.
A deputada estadual de São Paulo Isa Penna (Psol) foi apalpada durante sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). O mais marcante de todos os casos foi o assassinato da vereadora Mariele Franco, feminicídio político ainda não esclarecido.
Pesquisa do jornal O Globo mostrou que 80,8% das deputadas e senadoras afirmam que, durante o exercício do mandato, sofreram algum tipo de violência política de gênero. E segundo o Relatório de Violência Política Conta a Mulher de 2020-2021, nas eleições municipais de 2020, pelo menos nove candidatas foram assassinadas ou sofreram atentados.
Além das agressões visíveis e passíveis de judicialização, existem as microagreções diárias que sutilmente afetam a participação das mulheres no âmbito político, podendo chegar a afetar a sua saúde mental.
“As agressões silenciosas são as mais constantes e as que mais machucam. A violência no olhar objetifica nossa existência Também fazem isso em risos, piadas e na tentativa de deslegitimar e desqualificar nossa política”, afirma Duda. “É sutil, mas, nem por isso, deixa de ser violência”, completa.
Outra forma de violência é a tentativa de caricaturar a atuação política, colocando a mulher como qualificada apenas para discutir pautas ligadas à mulher, e não outras como saneamento básico, emergências climáticas e questões ligadas a economia, restringindo a atuação das mulheres e trans às pautas que tangem diretamente as mulheres ou a população LGBTQIA.
Sempre foi sobre nós
O livro, organizado por Manuela D’Ávila, conta com o relato de 18 mulheres, entre elas Anielle Franco, Áurea Carolina, Dilma Rousseff, Erika Hilton, Sonia Guajajara, Além de Jô Moraes Duda Salabert, Marlise Matos, que estarão presentes no evento na UFMG.
Além da cobrança, o livro tem o objetivo de materializar um pouco do que essas mulheres viveram e sensibilizar a sociedade para esse tema que foi historicamente apagado pela violência política, em uma tentativa de desnaturalizar essa pratica.
“Todas nós fomos coautoras do livro que a Manuela D’Avila idealizou”. Conta Duda. “Muitas de nós sofreram ameaças de morte. Daí a importância de ter esses registros escritos da violência que nos sofremos para cobrar dos órgãos responsáveis que ampliem a segurança das mulheres nesse cenário de eleição tão belicoso”, completa Duda.
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*Estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz