Jornal Estado de Minas

RACISMO

'Nos chamou de macacas': hacker racista invade atividade da Unegro


Um ataque racista foi registrado durante uma atividade online de formação política realizada na última terça-feira (7/6) pela União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro) de Minas Gerais. Segundo os participantes, um usuário nomeado “Ruan Pacheco”, ainda não identificado, invadiu a atividade com palavras de exaltação à escravidão via chat e áudio, interrompendo as falas da vice-presidente estadual da organização, Terezinha.





Alexandre Braga, presidente estadual da Unegro, explica que a organização está realizando uma série de atividades internas de formação política para seus membros. A roda de conversa realizada nesta terça-feira, pela relevância do tema “Abolição e Pós-abolição em Minas Gerais”, foi aberta para que outras entidades pudessem participar e contou com a participação de Simone de Assis, professora mestra em História pela Universidade Federal de São João del Rei.

Hacker racista


Segundo Alexandre, o hacker entrou na reunião do Google Meet através de um link já no final da atividade e interrompeu a fala de Terezinha. “Estávamos quase encerrando e reparamos que tinha um nome estranho lá no meio, e o que chamou nossa atenção foi a foto de perfil, que era a bandeira dos Estados Confederados”, afirma.

A bandeira em questão foi utilizada pelos estados do sul dos EUA durante a Guerra de Secessão (1861-1865). Nesse período, um modelo escravagista de expansão territorial por esses estados e, atualmente, a bandeira é muito utilizada por grupos racistas e supremacistas brancos dentro e fora dos EUA.





Para não interromper a fala da palestrante, ninguém chegou a comentar sobre o usuário, que em pouco tempo começou a enviar diversas mensagens racistas repetidas. “Ele começou a nos chamar de macacas, que era para voltarmos para a África e que aqui não era nosso lugar”, conta Terezinha. "Achamos que fosse um vírus, mas ele começou a xingar as mulheres pelo áudio”, complementa Alexandre.

Segurança online


Para o presidente da Unegro em Minas Gerais, eventos realizados de forma online ainda apresentam uma estrutura fragilizada, principalmente quando divulgados em redes sociais. “Não tem segurança nenhuma. Era uma atividade interna, mas mesmo assim temos que tomar cuidado. Na confiança, não tivemos um pré-cadastro para essa atividade, e acho que foi um erro nosso. Agora, é pensar em como nos proteger para as próximas atividades”, afirma ele.

Devido ao incômodo pela presença do hacker e pelo volume intenso de mensagens na sala, a solução encontrada pelo Unegro foi a de encerrar a reunião e tentar continuar a conversa por outro link.

Em nota, a Unegro afirma que se “sente fortalecida, apesar do susto e do desconforto pela atitude preconceituosa e claramente racista”. Para a organização, a interrupção de uma atividade planejada foi uma tentativa de silenciamento, mas que “esse tipo de agressão não intimidará a entidade nos rumos da luta contra o racismo e o fascismo no país, que ficaram ainda mais agudizados com as recentes falas e posturas do governo federal”.





A Unegro


Criada por negras e negros marxistas em 1988 dentro da Biblioteca Pública dos Barris, em Salvador (BA), a Unegro tomou as ruas como principal campo de atuação, tendo realizado diversas ações na luta antirracista e contra o extermínio da população negra já pouco tempo depois de o Brasil ter saído da Ditadura Militar (1964-1985). Entre seus principais objetivos, estão a defesa dos direitos culturais da população negra, a luta contra o racismo em todas as formas de expressão e a defesa de uma sociedade justa, sem exploração de classe, raça ou gênero, além de pautarem mulheres negras no centro da estrutura social.
 
"Marcha de 300 anos de Imortalidade de Zumbi dos Palmares" promovida pela Unegro, em Brasília, pressionou o então presidente FHC a implantar políticas públicas para a população negra (foto: Fernando Cruz / Acervo CSBH/FPA)
 

Desde seu surgimento, a Unegro ampliou sua atuação para mais de 20 estados e no Distrito Federal, tendo abrangido algumas das principais frentes sociais e compondo diversos conselhos de políticas governamentais ao longo dos anos. Além disso, participou de várias conferências internacionais que pautaram racismo, tendo recebido o prêmio "Rescate de Valores Culturales" (Resgate de valores culturais), da organização chilena Corparación Procasur em 2012.

Na pandemia, a organização realizou campanhas político-sociais voltadas para a população em situação de vulnerabilidade, distribuindo cestas básicas a partir da campanha Panela Cheia, além de auxiliar financeiramente mães solo moradoras de favelas a partir da “Bolsa Mãe de Favela”, da Central Única das Favelas (CUFA).




 

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