Uma atividade pedagógica abordando a temática LGBTQIA+ tem sido criticada por segmentos conservadores. O trabalho “Dicionário de Humanidades: (des)construindo saberes” foi proposto por professores da Escola Estadual Ilacir Pereira Lima, localizada no Bairro Cachoeirinha, na Região Nordeste de Belo Horizonte. No entanto, o pai de uma aluna procurou a vereadora Flávia Borja (PP), que publicou um vídeo em sua conta no Instagram condenando a temática.
Flávia defendeu o posicionamento cristão frente ao assunto. “Uma afronta a respeito daquilo que a criança traz, que o adolescente traz, de formação dentro de casa. Não é assim que se constrói respeito à diferença. Fica aí o meu repudio a essa atividade dessa escola e nós vamos tomar as providências necessárias. Não a esse massacre, a essa militância LGBT dentro das escolas. Não à ideologia de gênero”, disse em vídeo.
Em nota envidada ao Estado de Minas, a Secretária de Estado de Educação (SEE/MG) informou que a atividade cumpre determinações curriculares e que não há nada a ser questionado.
“A equipe de inspeção escolar apurou o caso, em que foi constatado que não houve violação da liberdade de crença e de consciência dos alunos na atividade realizada, estando em consonância com as temáticas previstas no currículo escolar, com o objetivo de desenvolver competências e habilidades específicas”, informou a SEE em nota.
A atividade
Os professores passaram para os alunos a atividade interdisciplinar “Dicionário de Humanidades: (des)construindo saberes”, com data prevista de entrega para quinta-feira (29/06), no valor de cinco pontos. A atividade interdisciplinar, que seria avaliada nas disciplinas de História, Sociologia, Filosofia e Geografia, pedia aos alunos para identificar termos do universo LGBTQIA+, como homofobia, homem/mulher cis, identidade sexual, transgênero, bissexual, entre outros. Vale lembrar que junho é o mês do orgulho LGBTQIA+.
Conteúdo LGBTQIA+ está previsto no currículo
A SEE/MG informou que trabalha com a temática de gênero e diversidade de forma transversal nos conteúdos disciplinares seguindo as diretrizes do Currículo Referência de Minas Gerais (CRMG).
No currículo é previsto que o estudante exercite a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos, e a cooperação, como forma de promover o respeito aos direitos humanos e valorizar a diversidade dos indivíduos.
Sobre as atividades realizadas na Escola Estadual Deputado Ilacir Pereira Lima, a secretaria esclarece que as mesmas fazem parte de um projeto interdisciplinar realizado desde 2016 com turmas do ensino médio, com o objetivo de trabalhar com os estudantes a compreensão e a capacidade de lidar com as diferenças geográficas e territoriais que perpassam questões físicas, étnico raciais, linguísticas, religiosas, sensoriais, intelectuais e às diferentes formas de linguagens.
Estudos de gênero
O termo “ideologia de gênero”, usado pela vereadora no vídeo, foi cunhado pelo cardeal alemão Joseph Ratzinger na década de 1990, antes de ele ter recebido o título de papa Bento XVI. A expressão passou a ser usada pelos conservadores para definir qualquer referência ao debate de sexualidade e gênero.
No entanto especialistas afirmam que essa definição é considerada incorreta, uma vez que o termo “ideologia” se refere à conjuntos de valores políticos ou uma vertente de pensamento político, o que não se aplica ao caso.
Questões relacionadas ao gênero, por exemplo, não se enquandram em uma ideologia, fazem parte do reconhecimento de diferentes formas de as pessoas existirem.
O termo correto é “estudos de gênero”, que visa compreender diferentes possibilidades de identidade de gênero, ou seja, como cada indivíduo se reconhece e se identifica com seu próprio corpo, e sexualidade, que é como cada pessoa se relaciona com as outras amorosamente ou sexualmente.
A reportagem entrou em contato com a vereadora e aguarda um retorno.
*Estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz
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