Jornal Estado de Minas

REPRESENTATIVIDADE

Blogueira com fraqueza muscular compartilha seu life style nas redes

Os tutoriais de maquiagem e a resenha de produtos de Marina Melo nas redes sociais conquistaram 28 mil seguidores no Instagram e 23,6 mil no TikTok. Mas os seus vídeos têm uma diferença: Marina tem fraqueza muscular, causada por uma condição chamada Atrofia Muscular Espinhal tipo 2 (AME II). 





Assim, mais do que uma simples resenha de como funciona uma maquiagem, ela mostra se a embalagem é difícil de abrir e se é possível ser utilizada por uma pessoa com deficiência. Ela também mostra como as roupas de grandes lojas ficam no corpo de alguém que usa cadeira de rodas e avalia se os lugares são acessíveis ou não.


Carismática, Marina tem 18 anos e está no primeiro período do curso de Design Gráfico. E claro que a rotina da faculdade não poderia ficar de fora do conteúdo produzido pela influenciadora, seja no formato “arrume-se comigo”, seja mostrando como são as aulas.


Há dois anos como criadora de conteúdo, Marina acompanha os influenciadores desde a infância, quando já existiam os youtubers. Seus vídeos favoritos eram os de maquiagem e os jogos.

“Eu sempre acompanhava os youtubers de maquiagem e de video game e eu sempre vi futuro nesse mercado. Mas eu via os vídeos e sempre me perguntava onde estavam as pessoas com deficiência. E como na época, não tinha contato com outras pessoas com deficiência, na minha cabeça, eu achava que não tinha pessoas com deficiência jogando ou se maquiando”, conta. 



 


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Em busca de representatividade

(foto: Reprodução / Instagram)
 


Em 2020, durante a pandemia, Marina foi incentivada por um amigo a criar um perfil sobre estudos nas redes sociais, para se distrair. Como gostava de cadernos coloridos, ela decidiu se dedicar ao tema, mas sem mostrar o rosto.

A partir daí, ela pôde conhecer outros influenciadores com deficiência e se reconheceu. “E aí eu vi a Mariana Torquato (influenciadora com deficiência) e eu descobri o que era capacitismo e vi que eu sofria isso e não sabia o nome. Depois, eu conheci outros criadores com deficiência, como o Dudu, e Ana Clara, que tem o mesmo tipo de deficiência que eu. Foi muito importante para a minha aceitação”, lembra.


Apaixonada pelo mundo do K-pop, Marina começou a estudar coreano e a criar conteúdo sobre o tema.  “Eu não via pessoas com deficiência no K-pop. Sabia de pessoas com deficiência em outros ritmos, como o funk, mas no k-pop não. E eu senti que precisava falar sobre isso”, relata.



“E aí comecei a sentir que precisava explicar mais sobre capacitismo e comecei com a militância. Mas começou a sobrecarregar, porque quando você está na militância, passa a receber coisas que você não gosta”, relembra.  

 


Isso fez com que ela mudasse o conteúdo que produzia e decidiu trazer mais sobre o seu dia a dia. “Eu queria continuar a ensinar e mostrar meu ponto de vista, a forma que vejo o mundo, de forma espontânea e alegre. Então, eu comecei a mostrar minha vida, a falar sobre maquiagem porque é minha grande paixão, é uma das coisas que consigo fazer 100% sozinha, eu amo arte e é uma forma de se expressar, de aprender a se amar”, afirma.  



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Luta anticapacitista

 


O capacitismo é a desvalorização ou desqualificação das pessoas com deficiência, baseado no preconceito em relação à capacidade corporal ou cognitiva. Nos últimos termos, o movimento anticapacitismo ganhou força, especialmente nas redes sociais. Para Marina, a luta já apresentou alguns resultados, mas ainda é um caminho longo.


“O capacitismo está tão atrelado na nossa sociedade que eu acho que vai ser um processo difícil. Mas já estamos vendo algum resultado, vendo o posicionamento de marcas, a presença de pessoas com deficiência em eventos, em novelas. Até a Barbie”, conta. Mas ela ressalta que ainda há muito a ser feito. Especialmente no que ela chama de ‘capacitismo inconsciente’ das marcas de maquiagem, que são tema recorrente de seus vídeos.


“A marca não pensa, eles têm que aprender, que ver. A marca de maquiagem da Selena Gomez está vindo para o Brasil e, como ela tem lúpus, as embalagens que ela fez foram pensadas para pessoas com fraqueza muscular conseguirem abrir. Com a chegada da marca dela, é hora de cobrar as outras marcas. Eles vão ter um olhar, vão conseguir ver esse mercado”, analisa.





Sonhos

 


Há dois anos trabalhando na internet, Marina conta que ainda não consegue se sustentar com a produção de conteúdo. Mas isso não desanima: “Todo mundo fala que eu era muito tímida, que muita vergonha. Eu odiava o fato de estar em uma cadeira e, com a internet, deixei de ser tímida e pude me aceitar. Trouxe uma qualidade de vida muito positiva”, avalia. 


E, mesmo que um dia a recompensa principal das redes sociais seja financeira, ela não pretende parar a faculdade de Design Gráfico pois acredita que a formação é um passo importante para realizar o sonho de trabalhar na Disney. “Eu sempre gostei de animação, desde a infância, especialmente Frozen, acho que me identifico com a Elsa. Quando lançou Frozen 2, a Disney postou um documentário de como foi o processo de criação e vi um animador com deficiência, como funciona o processo criativo e eu me apaixonei. Aí eu fui atrás e mudei: queria psicologia e agora quero trabalhar na Disney”, relembra. 


Além da faculdade, Marina já está estudando inglês e pesquisando sobre o processo seletivo da gigante das animações.