A Associação Comunitária Rio Cipó e o Quilombo do Açude, na Serra do Cipó, Região Central de Minas Gerais, receberão o evento “Tradições seculares afro-mineiras e afro-baianas: Intercâmbio cultural em terras quilombolas”, entre 7 e 10 de setembro.
Durante os quatro dias de programação serão realizados seminários, oficinas e confraternizações mediados por mestres e professores da capoeira, além da primeira formatura em Capoeira Regional de Minas Gerais e da tradicional Festa do Candombe.
O projeto apoiado pela Lei de Incentivo à Cultura foi escrito pelo mestre Cristiano Asa Branca ainda em 2020. Porém, por causa da pandemia, a organização teve que ser paralisada e retomou as atividades em 2022.
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Para participar do evento, que será gratuito, é necessário realizar a inscrição, a ser feita presencialmente em diversos pontos de Belo Horizonte e da Região Metropolitana a partir deste sábado (16/7).
“A intenção [do intercâmbio cultural] é fazer um encontro dessas duas famílias [comunidade do Quilombo do Açude e a família de Mestre Bimba], porque eu percebi que, apesar de elas não se conhecerem, ambas estão envolvidas com culturas afro-brasileiras", explicou Cristiano.
“Eu, por frequentar esses dois meios, sempre percebi muita coisa em comum: nas questões de resistência cultural; do tratamento muito humano com as pessoas; do compartilhamento dos conhecimentos. São pessoas que trazem a mesma raiz: cada um com sua cultura, mas o sentimento vem do mesmo berço, da mesma repressão”, complementou.
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Convidados
O evento será conduzido por personalidades importantes da capoeira, como Dona Nalvinha, Mestra Preguiça, Mestre Canguru, Professor Simba, Mestre Cuta, Mestre Garrincha e Mestre Cafuné, além de contar com a presença de Mestre Nenel, filho de Mestre Bimba, e seus familiares e discípulos.
“Estamos fazendo um encontro de duas tradições seculares: afro-mineiras e afro-baianas. Uma é a comunidade do Açude, da Serra do Cipó, e a outra família que está vindo é muito importante na capoeira, que são os descendentes do Mestre Bimba, que foi uma figura extremamente importante para a história da capoeira no Brasil, um dos principais mestres que tirou ela [a capoeira] da ilegalidade”, contou Cristiano Asa Branca.
Candombe do Quilombo do Açude
O intercâmbio cultural foi programado para coincidir com o segundo sábado de setembro, na tradicional Festa do Candombe no Quilombo do Açude, uma das principais celebrações afro-mineiras, com tradição centenária.
O candombe é uma reza em forma de canto e já foi retratado na música “Casa aberta”, interpretada por Milton Nascimento no disco Pietá, além de receber uma reportagem do Fantástico em 2004, o que fez com que a popularidade da festa crescesse.
“Depois disso [reportagem do Fantástico], teve um ‘boom’ lá na festa deles, a ponto de não suportar tanta gente indo, mas ao mesmo tempo levou para lá muitas pessoas que foram estudar a comunidade deles, mas só ‘sugaram’ e foram embora achando que podiam falar sobre a vida da família. Não foi um movimento muito bacana, mas eles já estão meio ‘vacinados’ contra essas questões e, apesar disso, muitas pessoas de coração bom vão para lá”, afirmou o mestre Asa Branca.
O candombe é uma reza em forma de canto e já foi retratado na música “Casa aberta”, interpretada por Milton Nascimento no disco Pietá, além de receber uma reportagem do Fantástico em 2004, o que fez com que a popularidade da festa crescesse.
“Depois disso [reportagem do Fantástico], teve um ‘boom’ lá na festa deles, a ponto de não suportar tanta gente indo, mas ao mesmo tempo levou para lá muitas pessoas que foram estudar a comunidade deles, mas só ‘sugaram’ e foram embora achando que podiam falar sobre a vida da família. Não foi um movimento muito bacana, mas eles já estão meio ‘vacinados’ contra essas questões e, apesar disso, muitas pessoas de coração bom vão para lá”, afirmou o mestre Asa Branca.
O candombe é um patrimônio da cultura mineira e é a principal manifestação do Quilombo do Açude, um espaço de manutenção das tradições da cultura negra onde vivem cerca de 200 famílias devotas à Nossa Senhora do Rosário.
Durante a pandemia, a festa não deixou de ser realizada, mas a família de Dona Mercês, matriarca do quilombo, pediu para que as pessoas não fossem ao local para conter a contaminação pelo coronavírus e suas variantes.
Durante a pandemia, a festa não deixou de ser realizada, mas a família de Dona Mercês, matriarca do quilombo, pediu para que as pessoas não fossem ao local para conter a contaminação pelo coronavírus e suas variantes.
Programação
7 de setembro (quarta-feira) - Associação Comunitária do Cipó
- 14h - Oficina de Puxada de Rede: Minha jangada vai sair pro mar
- 16h - Oficina de Capoeira I: Discípulo que aprende mestre quem dá lição
- 18h - Oficina de Dança Afro: Dança afro-mineira
- Confraternização
8 de setembro (quinta-feira) - Associação Comunitária do Cipó
- 14h - Oficina de Maculelê: Maculelê me chamou para guerrear
- 16h - Oficina de Capoeira II: Discípulo que aprende mestre quem dá lição
- 18h - Oficina de Samba de Roda: Lê lê ô, lê lê ô, a turma de Bimba chegou
- 19h - Seminário: “Dona Maria, como vai você?”
- Confraternização
9 de setembro (sexta-feira) - Associação Comunitária do Cipó
- 14h - Oficina Toques de Berimbau: Berimbau, o Mestre!
- 16h - Oficina de Capoeira III: Discípulo que aprende mestre quem dá lição
- 19h - Seminário II: “Troca de saberes afro mineiros baianos”
- Confraternização
10 de setembro (sábado) - Associação Comunitária do Cipó e Quilombo do Açude
- 10h - Cerimônia de Formatura: Show cultural e roda de capoeira
- 19h - Festa do Candombe
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O podcast DiversEM é uma produção quinzenal dedicada ao debate plural, aberto, com diferentes vozes e que convida o ouvinte para pensar além do convencional. Cada episódio é uma oportunidade para conhecer novos temas ou se aprofundar em assuntos relevantes, sempre com o olhar único e apurado de nossos convidados.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Arruda