Jornal Estado de Minas

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Conheça Selma e Sophia: mãe e filha no espectro autista


O Transtorno do Espectro Autista (TEA) vem ganhando mais visibilidade nos últimos anos com discussões, filmes, séries e campanhas como o Abril Azul, com o objetivo de conscientizar a população sobre a inclusão de pessoas com TEA. Esse avanço no debate sobre o autismo tem levado ao aumento do número de diagnósticos tanto em crianças quanto em adultos, muitas vezes ligado ao diagnóstico do filho.



“A gente tem falado muito mais, tem produzido materiais midiáticos, como filmes e séries, isso tudo é uma maneira de a gente acessar melhor o que é o autismo. Existe também um aumento de pesquisas, a gente tem mais publicações sobre autismo desde 2017 até hoje do que em todas as décadas anteriores, é uma curva impressionante”, explica Maria Luísa Magalhães Nogueira, psicóloga e professora do departamento de psicologia da UFMG.

Mãe e filha, ambas com TEA


Selma Sueli Silva teve dificuldade de conseguir um diagnóstico para a filha Sophia Mendonça, mesmo notando que ela era diferente desde que nasceu. Apesar de Sophia fazer terapia desde os 4 anos de idade, a mãe ouvia que não tinha nada de errado com a filha. Quando Sophia entrou no fundamental, aos 7 anos, ficou mais agitada e, quando chegava em casa tinha episódios de irritação.

Selma e Sophia mantém o projeto Mundo Autista, onde falam sobre diversidade e inclusão (foto: Arquivo pessoal)


“Ela não tinha esse comportamento normalmente. Quando começou esse comportamento mais agressivo via de regra era quando ela chegava da escola. Procurei saber na escola e ela também não tinha lá. Ou seja, ela chegava na escola, tinha um excesso que ela não dava conta de lidar e por educação ela não extravasava lá. Logo que chegava em casa ela extravasava”, conta Selma. Porém o diagnóstico só veio em 2008, quando Sophia já estava com 11 anos.





Com o diagnóstico, Selma teve um norte para lidar com as questões da filha, e notou a melhora na qualidade de vida dela. “O que eu descobri, que me feriu muito, foi o seguinte, os médicos também julgam com o achismo deles: ‘Não, mas esse aqui olha no meu olho, então não é autista não’, mas há autistas que podem olhar no olho. A gente que é leigo ter estereótipos, ok, mas o médico tem de estar antenado, sempre”, desabafa Selma.

Corrida contra o tempo

Apesar de Sophia ter se desenvolvido bem, sendo hoje formada em jornalismo, Selma afirma que o desenvolvimento do autista é uma corrida contra o tempo, e que se tivesse tido o diagnóstico mais cedo, Sophia teria se desenvolvido ainda melhor. Mesmo com o tratamento com psicólogo e psiquiatra, fez falta o acompanhamento de um terapeuta ocupacional, educador físico e fonoaudiólogo.

“Para mim me foi dito dessa maneira: ‘Conforme-se que sua filha será dependente para o resto da vida’. A minha filha dependente tirou mestrado agora em fevereiro, publicou 10 livros, dá palestras e passou em um concurso em uma área de TI, que é uma área diferente da dela. Mesmo com as limitações, até porque o diagnóstico dela foi tardio”, conta Selma.



Sete anos depois veio o diagnóstico de Selma, depois de uma observação da própria filha, que notou padrões de comportamento similares. Ela conta que se enquadrou no que a sociedade esperava dela, a um custo de sofrimento diário muito alto e percebeu que negar o acesso ao diagnóstico é condenar essa pessoa a uma vida de grande sofrimento.

O Mundo Autista 

Pensando na divulgação de informações sobre o TEA, Selma e Sophia criaram o canal do YouTube “Mundo Autista”. Com o slogan ‘Bem vindos a esse fascinante mundo do autismo’, mãe e filha tem o objetivo de aproximar as pessoas, dentro e fora do espectro, mostrando que somos todos seres humanos.



O projeto se expandiu e hoje também conta com site, Facebook, Instagram e Twitter. Para além do autismo, elas também tratam de temas sobre diversidade e inclusão como gênero, raça, religião e outros, buscando contribuir para uma sociedade mais inclusiva, humanizada e democrática.






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