A conscientização do Transtorno do Espectro Autista vem ganhado mais espaço na sociedade, nos últimos cinco anos, por exemplo, o número de pesquisas deu um salto. Apesar de os diagnósticos estarem sendo realizados cada vez mais cedo, no Brasil a média de idade para o diagnóstico é de seis anos, quando o ideal é que seja feito antes dos dois anos.
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A luta de mães com filhos autistas para conseguir diagnósticoConheça Selma e Sophia: mãe e filha no espectro autistaInfluencer zomba de vagas para autistas: 'Vai ter para gordo estressado?'“Por exemplo, houve um momento que se pensava que o autismo era resultado da frieza materna, algo que não tem a menor base científica, mas vigorou por muito tempo. Logo, se esse profissional não estiver atualizado, ele pode fazer um encaminhamento de tratamento muito inadequado. Então existe isso no Brasil, ainda, esse resquício de leituras que são absolutamente equivocadas, mas que ainda reverberam um pouco”, explica a psicóloga.
Até mesmo as autoridades não tem uma linha de cuidados única. O Ministério da Saúde, por exemplo, possui duas cartilhas, “Linha de Cuidado para a Atenção às Pessoas com Transtornos do Espectro do Autismo” e “Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo”, que diferem a respeito de como pessoas diagnosticadas com autismo devem buscar auxilio do Sistema Único de Saúde.
Acesso a tratamento: a batalha após o diagnóstico de autismo
Dessa forma, mesmo na situação ideal de um diagnóstico precoce, conseguir o tratamento mais eficaz para a criança pode ser um desafio, seja pelo alto custo, ou pela necessidade de que seja um acompanhamento com uma certa frequência. Maria Luísa explica que o tratamento tem que ser pensado por uma equipe multidisciplinar e que cada pessoa precisa de um acompanhamento diferente, de acordo com suas necessidades.
“Quando a gente fala de intervenção precoce, não basta que essa criança tenha uma sessão de psicólogo, de fono e de terapia ocupacional por semana, não são 30 minutos com cada profissional que vai dar efeito, é importante que tenha intensidade. E não é isso que acontece no sistema único de saúde e nem nos planos de saúde”, diz Maria Luísa.
O SUS oferece alguns dos tratamentos necessários para pessoas com autismo, mas com sessões apenas uma vez por mês, o que diminui a eficácia. Com os planos não é muito diferente. Erika conta que conseguiu acompanhamento com fonoaudióloga e com terapeuta ocupacional para Miguel através do plano de saúde, mas não tinha regularidade nos atendimentos, poderia ser na semana seguinte ou com até trinta dias de espaçamento, então preferiram pagar profissionais particulares.
Falta de apoio do plano de saúde
Porém, como o gasto pesava no orçamento, insistiram com o plano de saúde para conseguir um apoio maior. “Não cheguei a processar o plano de saúde, mas comecei a ir atrás de ouvidoria e ficar o tempo todo discutindo com o plano, até que nós conseguimos uma vaga em uma equipe para pessoas do espectro autista, que ele está até hoje, com fono, psicólogo e terapeuta ocupacional”, conta Erika.
Apesar dos avanços nas pesquisas sobre autismo e um aumento na conscientização sobre o distúrbio, a verdade é que o Transtorno do Espectro Autista ainda é muito invisibilizado e com suporte deficiente, principalmente por parte do poder público, levando milhares de crianças a sofrerem por não terem o suporte necessário para poder lidar com o mundo ao seu redor.
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