Ivan Baron esbanja personalidade nas redes sociais em seus vídeos sobre capacitismo e mostrando o dia a dia de uma pessoa com deficiência. Também conhecido como “Influenciador da Inclusão”, ele adota uma postura informativa para seus seguidores, se tornando uma voz cada vez mais potente quando o assunto é inclusão, integração social e pertencimento.
O influencer é natural do Rio Grande do Norte. Com apenas três anos de idade contraiu meningite viral, ocasionando paralisia cerebral e mobilidade reduzida. A condição não o impediu de ter uma infância feliz e se tornar um jovem conectado às novas tecnologias, descolado e criativo.
Muito engajado nas causas sociais, sentia falta de ver a causa das pessoas com deficiência tendo visibilidade na política e se incomodou com a falta de debate na sociedade.
Na internet encontrou material sobre capacitismo e a luta de pessoas com deficiência, mas com linguagem muito acadêmica. Foi partir desse sentimento de falta que decidiu ocupar as redes sociais para transmitir conhecimento sobre PDCs em uma linguagem mais didática e acessível.
Vencendo barreiras
O início não foi nada tranquilo, porque ele tinha muita vergonha do seu corpo, sua voz e seu trejeitos, então primeiro teve que derrubar suas próprias barreiras. Mas à medida que ia superando esses desafios, foi aumentando sua autoestima, e o que antes escondia, hoje faz questão de mostrar para as câmeras.
“Hoje faço questão de usar da imagem que eu tenho e expor meus defeitos, no sentido de que isso não seja uma barreira na minha vida. Se eu acho alguma coisa feia em mim, procuro expor para, de alguma forma, cuidar e superar. E para que outras pessoas com corpos imperfeitos se sintam vistos, se sintam de alguma forma representados, porque não tem graça um ambiente virtual só de corpos perfeitos e de vozes padrão”, afirma Ivan Baron.
No início tinha alcance apenas entre os amigos, mas quando começou a falar, de forma a informar os erros de pessoas famosas na mídia, seus vídeos ganharam mais visibilidade.
Baron já corrigiu Juliette, Supla, Ana Maria Braga, Mariana Ximenes, Xuxa e muitos outros, sempre com o posicionamento de educar, instruir e ensinar, convidando as pessoas que cometeram algum erro a aprender. Alguns chegaram a aceitar o convite ou repostaram os vídeos do influencer.
O influencer defende que todos são passíveis de errar, até mesmo ele, mas o importante é reconhecer o erro e buscar aprender mais sobre o assunto. Hoje, com o avanço das tecnologias, o acesso à informação está muito mais difundido, dependendo muito mais do interesse de cada um em querer aprender.
Além disso, Ivan Baron produz conteúdo informativo sobre diversas deficiências, divulga iniciativas e projetos que beneficiem a população com deficiência e busca sempre naturalizar sua imagem mostrando que viaja, encontra amigos, vai a shows e faz atividades do dia a dia, como ir ao dentista, assim como uma pessoa sem deficiência.
O que é capacitismo?
O capacitismo é o preconceito sofrido por pessoas com deficiência devido a sua condição. Pode ser desacreditando que possam realizar alguma tarefa, taxando-a de incapaz, ou por meio de violência física, piadas, comentários, e até mesmo mascarada de uma atitude bondosa.
“O capacitismo é da mesma família que o racismo, a misoginia, a LGBTfobia, a gordofobia... É uma grande família de preconceitos e opressões, sendo que o capacitismo é o preconceito exclusivo voltado para pessoas com deficiência”, explica Baron.
Apesar do termo ser relativamente recente, o preconceito existe há milhares de anos com registros ao longo da história de pessoas com deficiência sendo escondidas da sociedade e até mesmo assassinadas.
Pedagogia e internet: a dupla perfeita
Neste ano, Ivan Baron concluiu o curso de pedagogia e aplica o que aprendeu na faculdade nos vídeos que publica no Instagram. “Eu acho que dá para juntar internet com educação, é a combinação perfeita. E ainda mais com uma pitada de humor. Existem várias formas pedagógicas de transmitir um conteúdo, e a internet é uma aliada nisso”, afirma.
Para entregar conteúdo de qualidade e diversificado, o influencer convida colegas que possuem deficiências diversas para poderem falar de suas vivências com propriedade.
“São pessoas com deficiência, não é só uma pessoa com deficiência, não é só o Ivan. A comunidade PCD é a maior minoria, porque nós também somos pretos, LGBT, mulheres, indígenas, gordos, enfim, estamos em todos os lugares, então seria muito egoísmo só o Ivan Baron para representar toda essa galera, eu não dou conta e nem quero essa responsabilidade”, explica.
O poder do voto
Com 25% da população apresentando alguma deficiência, o Brasil é rico em termos de legislação para pessoas com deficiência, entretanto, não são colocadas em prática ou implementadas de fato no espaço público. Para que haja inclusão de fato dessa comunidade, é preciso que os ambientes sejam acessíveis, que suas vozes sejam ouvidas e que convivam com o restante da população.
Ivan Baron acredita que as pessoas com deficiência devem estar politizadas, saber mais sobre política e se posicionar, porque é na política que é possível conquistar direitos. O influencer defende que só se combate a desigualdade votando e elegendo representantes que estejam alinhados com a diversidade e a inclusão.
“Muitos de nós não estão ocupando espaços, a gente ainda está muito escondido dentro de casa. Então quando a gente começar a sair de casa, através de políticas públicas que garantam isso, aí vão ver a nossa multidão. Ainda são poucas as pessoas com deficiência empoderadas que botam a voz e falam o que querem”, afirma.
* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata