Jornal Estado de Minas

EMPREENDEDORISMO NA PERIFERIA

Projeto oferece formação para empreendedores periféricos de todo o Brasil



As inscrições para o “Corre Criativo” 2022, programa de empreendedorismo voltado para aceleração de negócios de alimentação, estão abertas até 14 de agosto. A iniciativa da ONG FA.VELA selecionará negócios de todo o país, sendo 20 de Belo Horizonte e Região Metropolitana e 15 das demais cidades brasileiras. Os selecionados recebem bolsas de R$1,8 mil e premiações.





O “Corre Criativo” fomenta negócios criados em periferias, oferecendo aulas e oficinas para desenvolvimento de habilidades empreendedoras, digitais e de liderança do público. A edição deste ano tem como tema a alimentação.

“O setor da alimentação é uma porta de entrada desse público no universo empreendedor. Isso se intensificou na pandemia, com o índice de desemprego muito alto”, explica Tatiana dos Santos Silva, diretora executiva da FA.VELA.

Tatiana ainda explica que o acesso às informações que podem facilitar a jornada no empreendedorismo é limitado.  Não apenas a cursos e especializações em gestão de negócios, por exemplo, mas também a investimento financeiro e rede de conexões.



Para sanar essa dificuldade de acesso, o “Corre Criativo da Alimentação” oferecerá mentorias, oficinas, aulas e diversas outras atividades para empoderar jovens a desenvolver e consolidar os seus empreendimentos.
 
O programa abordará conteúdos, como transformação digital e futuro da alimentação; comportamento e letramento empreendedor; gestão de negócios de impacto; noções financeiras e jurídicas; comunicação e marketing e práticas seguras e eficientes para o preparo, manuseio e apresentação de alimentos. 

FA.VELA

Equipe da ONG FA.VELA (foto: Divulgação/ FA.VELA)


Criada em 2014, a ONG FA.VELA nasceu da vontade de compartilhar conhecimentos e saberes. Atualmente,  organização conta com mais de 30 funcionários. Atua no desenvolvimento de metodologias de ensino, trilhas de inovação e impacto social elaboradas para preparar as pessoas para o futuro do trabalho.



 “Começamos com o objetivo de desenvolver habilidades, compartilhar ferramentas e informações, que pudessem impulsionar o desenvolvimento de nossos pares, que são as pessoas negras, LGBTQIA+, pessoas de baixa renda que estão em uma jornada empreendedora”, conta Tatiana.

Corre Criativo

O projeto “Corre Criativo” promove a formação de novos empreendedores nas periferias, oferecendo letramento empreendedor, gerenciamento de negócios, estratégias de informação, gestão da marca, cuidado com os alimentos, documentos necessários para a formalização de um negócio, entre outros assuntos.

O diferencial da FA.VELA é ser gerida por pessoas com o mesmo perfil de quem é atendido. Dessa forma, a ONG lança olhar  mais atento para as necessidades de quem vai vivenciar a jornada empreendedora. Um exemplo é o auxílio financeiro oferecido para proporcionar uma estabilidade financeira mínima para que as pessoas consigam participar.





Uma vez que grande parte das iniciativas no empreendedorismo costuma ser  voltada para um público elitizado e com mais recursos. O projeto apresenta exemplos próximos da realidade dos participantes e utiliza linguagem acessível, criando conexão com essa realidade invisibilizada.

“Às vezes têm ideias boas dentro da comunidade, mas quando a gente vai participar de algum curso, ou não tem um diálogo,n ou a gente não consegue entender a linguagem ou são organizações que não compreendem a lógica de vida de pessoas da periferia”, conta Luhh Dandara, empreendedora que participou do primeiro “Corre Coletivo”.

Aura da Luta

Luuh Dandara na comunidade Dandara usando a camisa do projeto "Corre Criativo" (foto: Arquivo pessoal)


Luhh Dandara participou da primeira edição do Corre Criativo, em 2017. Na época tinha vontade de criar um espaço de acolhimento e acompanhamento para mulheres em situação de violência. Assim, o projeto possibilitou a criação do “Aura da Luta”, para atendimento das mulheres da comunidade Dandara, na região da Pampulha, em Belo Horizonte.



 “Para mim foi importante estar em um espaço em que temos mesma linguagem, em que conseguimos nos comunicar e trocar conhecimento de uma forma leve e sem perder a nossa essência enquanto pessoas faveladas. Nos orgulhamos disso, o que precisamos é do acesso. O FA.VELA é esse espaço que nos ensina a alcançar esses acessos”, afirma Luhh Dandara.


O “Aura da Luta” conta com uma rede de apoio e oferece acompanhamento de mulheres para denúncia e encaminhamento de mulheres em situação de violência para casas de acolhimento e para acompanhamento jurídico, além de contarem com psicólogas que fazem atendimento voluntário.
 
Durante a pandemia conseguiram acompanhar quase todas as famílias da comunidade Dandara com a doação de cestas básicas e produtos de higiene, aplicando conhecimentos que aprendeu no Corre Criativo.
 
“Não foi só orientações de como gerir um negócio, mas de como ‘gerir um negócio juntos’. Não são somente as aulas, as orientações, tem todo um processo de caminhada juntos”, conta Luuh Dandara.



Produtora Jaci

Dominique acelerou sua produtora durante sua participação no projeto "Corre Criativo" (foto: Arquivo pessoal)


Dominique Jaci, indígena não-binária de Manaus, participou da edição do “Corre Criativo” de 2021, o primeiro de abrangência nacional, com sua recém-criada Produtora Jaci. Devido à pandemia, houve a necessidade de que fosse para o ambiente digital para que continuasse acontecendo, o que possibilitou a expansão para todos os estados brasileiros.

“Tive essa primeira formação empreendedora mais intensa, porque eu nunca tinha tido contato com informações de gestão de projeto, finanças, de marketing. Aí iniciou-se um ciclo muito importante para mim”, conta Dominique.

A produtora desenvolveu uma lógica de trabalho, planos de ação, estratégias de mercado e estruturação de forma geral. Dominique ainda teve a oportunidade de participar da formação continuada da FA.VELA e permaneceu na ONG por nove meses, aprendendo sobre empreendedorismo.



Dominique acredita que a periferia tem que ser mais ouvida e considerada enquanto detentora de conhecimento. “Tem uma crença, que é uma crença limitante, de que as pessoas que têm a condição de ensinar vêm da academia. O Brasil acaba invisibilizando as pessoas que não estão na academia, que possuem um outro tipo de conhecimento, da vida, da prática, de quem está sendo massacrado diariamente”, afirma.  

Serviço
Projeto “Corre Criativo”
Inscrições até 14 de agosto pelo link

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