O primeiro debate dos presidenciáveis, realizado por um pool de veículos e trasmitido pela Band, nesse domingo (29/08), não contou com a presença dos dois candidatos negros ao Palácio do Planalto, Vera Lúcia (PSTU) e Leonardo Péricles (Unidade Popular).
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Léo Péricles, que não foi convidado, avaliou a ausência de candidatos negros "como um atentado à democracia". "A Constituição que prevê a liberdade da organização partidária, prevê princípios como a isonomia. A própria legislação, infelizmente, sofreu modificações. No pós-ditadura, todos os partidos participavam igualmente e depois foram criadas restrições."
Léo destaca que a minirreforma eleitoral de 2021 estabeleceu que os meios de comunicação devem convidar obrigatoriamente os candidatos cujos partidos tenham pelo menos cinco representantes no Congresso Nacional. No entanto, ele destaca que esta é a primeira eleição que seu partido, a Unidade Popular, participa.
"A lei não proíbe convidar os demais. O caso da Unidade Popular é bem específico. Somos o partido mais novo do Brasil. A gente nem existia antes da cláusula de barreira, de 2015. Nosso registro é de 2019. Evidentemente não temos representação no Congresso Nacional. É a primeira eleição que estamos participando."
Léo ainda destacou que a população negra é maioria no país. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), negros (pretos e pardos) são 54,1% do total da população brasileira.
"Num país de maioria negra, você tem um debate que está discutindo os rumos do Brasil, tendo representação negra disputando a Presidência da República, mas não ser convidada. Não convidaram candidatos negros, como também não convidaram nenhum jornalista negro. Isso escancara o racismo." Léo disse ainda que o Unidade Popular defende programa de esquerda que não é apoiado pelos proprietários dos meios de comunicação.
Na véspera do debate, Vera Lúcia lamentou não ter sido convidada. "Hoje terá o primeiro debate na TV na Band. Em tempos de ameaças golpistas de Bolsonaro, precisávamos da divulgação igualitária dos candidatos. Mas infelizmente não me convidaram para o debate. E olha que estou empatada com quem vai lá", escreveu.
A ausência de candidatos negros não permitiu tratar de temas como a morte da juventude negra, intolerância religiosa e as cotas raciais. Embora o tema educação tenha sido abordado diversas vezes, os candidatos não trataram da Lei das Cotas, que completa dez anos e passará por uma revisão no Congresso Nacional.
Lideranças negras questionaram ainda a ausência de jornalistas negros entre os escalados para fazer perguntas aos candidatos. "O pool de comunicação que organizou o debate na Band em 2022 não conseguiu achar jornalistas pretos ou é proibido, mesmo?", questionou o presidente da Central Única das Favelas (Cufa Brasil), Preto Zezé, em sua conta no Twitter. A ausência de negros foi apontada pelo portal Alma Preta na reportagem "Debate presidencial e a democracia da branquitude".
A jornalista Eliane Brum também pontuou a falta de diversidade no debate. Ela questinou os motivos de temas ligados à Amazônia, defesa dos indígenas, e combate ao racismo não terem sido tratados. "No primeiro debate das candidatas e candidatos à presidência do Brasil, a palavra 'Amazônia' mal foi pronunciada, não se ouviu a palavra 'indígena' nem a palavra 'racismo'", escreveu.
Presença marcante das mulheres
A diversidade faz muito bem ao debate. A participação das candidatas mulheres, Simone Tebet e Soraya Thronicke, foi considerada um dos pontos altos do debate. Tebet, inclusive, foi apontada por diversos analistas como a candidata que teve o melhor desempenho no embate entre os candidatos.
Soraya tratou da questão de gênero. Ela saiu em defesa das mulheres, quando a jornalista Vera Magalhães foi atacada por Bolsonaro. Âncora da TV Cultura, Vera lembrou que o presidente foi contra a vacinação dontra a COVID-19. "Tchutchuca com outros homens, mas vem pra cima da gente como tigrão', disse Soraya a Bolsonaro.
Bolsonaro também foi agressivo com Tebet e afirmou que ela foi uma "vergonha no Senado Federal." Analistas apontaram alguns pontos do debate que foram considerados misóginos.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Grupo Band e aguarda o posicionamento sobre essa questão.