As projeções retornaram ao antigo Cine Odeon, no prédio em estilo Art déco, no Bairro Floresta, Região Leste de Belo Horizonte. Em vez da telona, as imagens foram projetadas na parede pela Polvo Súdio, enquanto uma DJ comandava a festa no salão principal de baixo onde fica o palco. Em um dos mezaninos, tatuadores da Crooked Tree recebiam uma iluminação para não errar no traço.
O Cine Odeon se tornou palco para a diversidade, o Odeon Hub. Inaugurado em 8 de julho, o equipamento cultural está dividida em quatro ambientes, um salão principal e três mezaninos numa área de 700 metros quadrados. A reportagem esteve lá no show da rapper carioca Ebony e da DJ Kingdom. A festa foi uma produção da Bronka e Enxame, produtores que têm a diversidade no DNA.
Ebonye DJ Kingdom se destacam na música brasileira, levando para o palco a representativida da mulher negra. Para assisti-las um público jovem lotou a casa, esbanjando estilos nas roupas, penteados e na convivência com a diferença.
Na pista, casais de diferentes orientações sexuais, ostentando com orgulho tranças e black power. Jovens vindos de diferentes lugares da cidade. A noite foi um encontro para celebrar a diversidade de quem vem da Zona Sul ou da Zona Norte da cidade. O que não cabia no rolê eram barreiras e preconceitos.
“A gente procura sempre se colocar no lugar do público. A gente pensa muito sobre acessibilidade, os produtos que serão ofertados (bebida e comida), o acesso ao espaço”, afirma Laio Guimarães, da Enxame Produção. “Não queremos que seja só um show. Queremos que seja uma experiência divertida, que os corpos sejam respeitados e que todas as pessoas sejam bem-vindas e bem tratadas, não importa a origem delas nem o poder aquisitivo.”
Diferentes públicos
Os eventos da Enxame são pensado para tornar a experiência única. E o desejo da Enxame casou com a proposta do Odeon Hub. A diversidade está a concepção do equipamento cultural. Também está na escolha dos artistas. “A montagem de nossa line up é muito pensada a partir da diversidade. Trabalhamos com artistas, que abrangem diferentes públicos. Quando a gente conversa com artistas que já trabalham com a diversidade fica fácil atrair esse público. Trazemos pessoas que respeitam o nosso público e respeitam a nossa cidade”, afirma Laio.
O historiador e músico Bodô Alcântara, que esteve no show, destaca que a localização do Odeon, na Avenida do Contorno e próximo ao Centro, facilita a vinda de pessoas de diferentes partes da cidade. “O Cine Odeon está cravado na Avenida do Contorno. O local abriga o ensaio do Samba Queixinho e abriga uma diversidade cultural, uma nova forma de ser jovem na capital”.
A ocupação do Cine Odeon espelha o movimento de ocupação da cidade. Na próximidade, temos o Viaduto Santa Teresa, que abriga diversas manifestações culturais, entre elas o Duelo de MCs, o Teatro Espanca, que recebe o Segunda Preta, e própria Praça da Estação, onde nasce a Praia da Estação.
“O Odeon se tornou um espaço para a juventude, a juventude negra, a juventude trans, que nega a violência de gênero e luta por novos ideais. É uma arquitetura humana”, completa BodÔ. Ele destaca que Belo Horizonte é “uma cidade que pulsa e não comporta a limitação de pensamento.”
Desbravadores
A ocupação do espaço começou há um ano pelo Unidos Samba Queixinho, bloco de carnaval fundado em 2009, que se tornou referência quando o assunto é percussão. “Uma de nossas ações é ensinar às pessoas a tocarem um instrumento. É um processo de um ano”, afirma Gustavo Caetano, fundador do bloco e um dos idealizadores do Odeon Jub.
O grupo ensaia nos espaços públicos da cidade, praças e ruas. No entanto, apesar da importância do espaço público, Gustavo destaca que o o bloco ficava à mercê das intempéries, por isso passou a ensair em locais fechados.
O Queixinho ensaiou, por seis anos, em um barracão do Carlos Prates. Mas, depois do auge da pandemia, passou a ocupar o antigo Cine Odeon. Há oito meses, o bloco realiza o ensaio no Odeon. “A ocupação do Cine Odeon é importantíssima para a cidade porque é um equipamento feito para ser ocupado pela cultura. Cinemas e teatros têm que cumprir a função ao qual foram destinados. O Cine Odeon foi criado na década de 1940 para ser o cinema. O mais importante é a gente devolver para a cidade um espaço que pode receber diversas manifestações culturais”, avalia.
O Odeon Hub é a sede do Samba Queixinho e recebe outros movimentos plurais e diversos. "O Odeon Hub recebe vários movimentos plurais e diversos, como aulas de dança, oficinas para pessoas da melhor idade, oficinas para mulheres egressas do sistema prisional, shows, eventos, feiras, teatro, cinema". Ele adianta que Odeon terá exibição de filmes novamente, em uma mostra de cinema prevista para setembro.