O racismo estrutural, como o termo indica, reflete em diversos aspectos da sociedde, inclusive na nomeação de um lápis de colorir, que passa a ser nomeado de “cor de pele”. E é isso que a pequena Katlin questiona no vídeo postado por seus pais na página paisde3.
Os pais explicaram à menina que o problema não estava na cor de sua pele, e sim em uma perspectiva racista que ignora a existência de pessoas negras. Ela conta também que os pais a ensinaram sobre ancestralidade, cultura africana e sobre racismo.
“A minha cor existe! E eu descobri que tem um monte de cores de pele. A minha cor é essa e ela é linda!”, finaliza o vídeo.
“Dúdú e o lápis cor de pele”
Uma obra que aborda as mesmas questões de Katlin é o curta “Dúdú e o lápis cor de pele”, produzido pela Take a Take Films. Durante uma aula, Dúdú fica inseguro sobre qual cor usar para colorir as pessoas em um desenho, ao que a professora diz para usar o lápis “cor de pele”.
O questionamento de Dúdú de quem seria da “cor de pele” faz com que a mãe dele procure a escola para denunciar o episódio de racismo. O menino sai pela cidade buscando alguém que correspondesse ao tom do lápis de cor.
Impactos da falta de representatividade
Um estudo realizado em 2018 pelo Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), “O ‘lápis cor de pele’ e seus conflitos: Um estudo de caso cobre a produção de autorretratos de estudantes e o pertencimento racial”, mostrou que em uma sala na qual a maioria dos alunos era negra, o lápis conhecido como “lápis cor de pele” foi o mais usado na hora de colorir os desenhos, inclusive entre os alunos negros.
“Concluímos que o ambiente escolar tem sido lugar de perpetuação de práticas racistas, e que como reflexo vemos em nossos alunos uma carência muito grande de identidade, pois os mesmos, em sua grande maioria, possuem imagem distorcida de si. Nota-se que de forma geral nosso alunado busca o embranquecimento”, afirma o estudo.
A naturalização em chamar um lápis de “cor de pele” gera uma ideia de que colorir de marrom ou outras cores é errado, transformando essas cores em “feias” e o bege claro em “bonito”. Essa percepção contribui para a manutenção do racismo estrutural, renegando a diversidade.
O que seria “cor de pele”?
Tradicionalmente é recorrente as pessoas denominarem o tom bege claro ou rosa claro de “cor de pele”. Isso coloca a pelo branca como universal.
No universo do material escolar, a primeira linha desenvolvida para representar diferentes tons de pele foi em 2016 pela marca gaúcha Koralle em conjunto com a Uniafro (Programa de Ações Afirmativas para a População Negra). A caixa de giz de cera apresentava doze opções de tons de pele.
Em 2018 a Faber-Castell, uma das maiores empresas de material escolar do mundo, lançou no Brasil a linha “Caras & Cores” com curadoria do MOOC, um coletivo de artistas negros. Nas caixas de 12 e 24 cores, vinham três lápis extras com seis tonalidades de “cor de pele” em três lápis de pontas duplas.
Atualmente grande parte das fabricantes de materiais artísticos apresenta uma linha de lápis de cor para representar diversos tons de pele, com canetinhas e tintas, além do lápis de cor e do giz de cera.
Para além do material escolar, o problema de representatividade dos tons de pele também afetava a indústria de cosméticos, que durante décadas, apresentou bases para o rosto, corretivos e pós compactos em uma gama de beges, que não abarcava mulheres de pele negra.
Apenas na década de 2010, as indústrias de cosméticos começaram a diversificar a gama de cores. Atualmente, é possível encontrar base para peles negras retintas, apesar de ainda não serem uma opção em todas as marcas.
O mesmo problema de representação de diferentes tons de pele também se estende para brinquedos. O mais comum é encontrar bonecas de pele clara e cabelos loiros nas plateleiras das lojas, levando pais a terem dificuldade de encontrar bonecas negras para suas crianças.
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