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Estado de Minas DESIGUALDADE DE GÊNERO NA POLÍTICA

Candidatas em Minas recebem apenas 24,5% dos recursos para campanhas

Em Minas, das 2 mil candidaturas, 707 são de mulheres, o que corresponde a 35% do total, mas recurso não foi repassado de forma proporcional


29/09/2022 13:02 - atualizado 29/09/2022 15:05

Mulheres reunidas com a blusa do Vote Nelas
Vote Nelas é um coletivo que luta pela maior participação da mulher na política (foto: Instagram @VoteNelas)
 
 Em todo o Brasil, as candidaturas de mulheres receberam volume muito menor de financiamento em comparação com as candidaturas de homens. Em Minas, o cenário não é diferente do nacional. Das 2 mil candidaturas, 707 são femininas, o que corresponde a 35% do total. No entanto, elas receberam apenas 24,5% do acumulado de verbas públicas e privadas (R$ 451 milhões).
 
O percentual é bem menor do que, proporcionalmente, as candidaturas de mulheres deveriam receber em uma situação de equidade. Além disso, a mulher que mais recebeu verbas em Minas Gerais, Alê Silva (Republicanos), está em 33º no ranking de verbas 

As eleições de 2022 bateram recordes importantes: os de maiores números de candidaturas de mulheres e de pessoas negras. Entretanto, a três dias da votação, dados da plataforma “72 horas” mostram que a distribuição de recursos para as campanhas eleitorais foram desproporcionais entre homens e mulheres, entre candidatos negros e brancos.
 
Os homens brancos foram os que ficaram com fatia maior das verbas: candidatos homens receberam 71% dos repasses totais, verbas públicas e privadas. Quando se faz o recorte de raça, os homens brancos ficaram com 67,12% das verbas. 

Número de mulheres elegíveis ainda é baixo

Apesar do recorde de candidaturas femininas, neste ano, elas são de apenas 33,28% do total de políticos elegíveis. O percentual  ainda não reflete a realidade brasileira, uma vez que as mulheres representam 52% da população.
 
As mulheres são ainda menos representadas nos espaços de poder. Apenas 13,5% dos atuais vereadores são mulheres. Em 23% das câmaras municipais brasileiras não existem nenhuma mulher eleita vereadora, segundo a plataforma “Vote Nelas”.

“É importante falar do recorde, mas, ao mesmo tempo, ele camufla uma situação. Parece muito bom, e é bom por um lado, mas por outro lado, quando a gente olha como elas estão sendo tratadas pelos partidos, ou seja, quais são as reais chances dessas mulheres se elegerem, a gente vê que não é bem assim, não está tendo recorde de distribuição de verba para as mulheres”, analisa Drica Guzzi, cofundadora do movimento Vote Nelas e Coidealizadora do portal 72 horas. 

Dentro do recorte de raça, a discrepância entre o número de candidaturas entre homens e mulheres negros é menor, com 46% das candidaturas femininas, assim como a diferença na distribuição de verbas: os homens receberam 238 milhões e as mulheres 220 milhões. Indígenas receberam apenas 0,62% dos repasses totais.

72 horas

A plataforma “72 horas” promove educação política a partir da transparência e do acompanhamento da distribuição dos recursos de financiamento de campanha declarados pelas candidaturas. O nome, “72 horas” faz alusão ao tempo que um candidato tem para declarar o recebimento de uma verba e sua origem.

Na plataforma é possível acompanhar valores em nível nacional e também estadual. Ainda é possível aplicar filtros por partidos, cargos, etnias, tipos de financiamento, entre outros.

“Quando entra o financiamento público, em especial o FEFC (Fundo Especial de Financiamento de Campanha), torna-se quase um imperativo para nós, como sociedade, acompanhar como esse fundo é distribuído. Porque ele existe para tornar as candidaturas mais plurais e fornecer condições mais equilibradas para que as candidaturas tenham chances de fato de serem eleitas”, afirma Drica.

O FEFC é fundamental às candidaturas de mulheres, uma vez que o valor arrecadado por doações é muito mais baixo. “Se a gente depender só de doações, será mantida a estrutura atual, de homens brancos. O Fundo Eleitoral se justifica para equilibrar a competitividade das candidaturas”.

Além disso, Drica aponta que, por lei, pelo menos 30% dos recursos do FEFC devem ser distribuídos para candidatas mulheres e que a média do Brasil é de 31%, ou seja, muito próximo do valor mínimo. “A lei fala que é o mínimo, então o mínimo vira teto, vira o máximo”, afirma.

Vote Nelas

Para superar a disparidade de gênero na política foi criado, em 2018, o “Vote Nelas”. O movimento suprapartidário busca fortalecer a democracia brasileira inserindo mulheres na política e, com isso, estabelecer igualdade nos espaços de poder.
 
O movimento destaca que a ausência de mulheres nos espaços políticos as colocam à margem da elaboração das políticas públicas e enfraquece a democracia como um todo.



Além de atuar de forma nacional, em 2020, o movimento também criou embaixadas na maioria dos estados brasileiros para se aproximar das mulheres e definir estratégias específicas para fomentar e dar visibilidade para as candidaturas locais.

O foco este ano é uma campanha mais ampla, com o slogan “Escolha mulheres e mude a política”. “O Vote Nelas, como movimento, tem uma clareza que temos que agir junto, como uma rede de apoio. É importante essa visão de fazer uma rede ampla, de articular com todos os movimentos que tem essa pauta da representatividade”, explica Drica.
 
*Estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz 



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