A pequena Duda Barbosa Campos de Sousa, de 4 anos, que conquistou o título de Miss Minas Gerais Kids, poderá trazer para o estado a faixa nacional na próxima quarta-feira (12/10), quando será anunciada a vencendora do Miss Brasil Kids.
Apesar da beleza da menina, que parece desenhada de tão perfeita, ela sofreu inúmeros ataques desde que ganhou visibilidade. O episódio mais recente ocorreu em um shopping onde a pequena havia sido convidada para um evento.
As ofensas são direcionadas ao cabelo da criança. Quando Duda estava entre outras modelos, aguardando para desfilar, uma mulher disse que ela tinha "cabelo de sussuarana" sem saber que a mãe da menina, Adriana Barbosa Campos de Sousa, observava tudo.
"Não mudamos a beleza dela para se encaixar em um padrão. Pelo contrário reforçamos o que é natural dela, o que é bonito dela, o cabelo. Ela é crespa", diz Adriana. "Uma menina negra e crespa pode ser miss", completa.
Mesmo diante dos ataques, a mãe eleva a autoestima da filha ao mostrar o quanto o cabelo crespo é lindo. "Ela vivenciou muitas circunstâncias no mundo miss. É de extrema importância ser miss e crespa, porque ela representa uma grande maioria de crianças e mulheres que não se veem em concurso de beleza, não se veem como referência".
Adriana destaca que a presença da filha em concursos de beleza não é apenas uma questão estética, e sim de identidade. "É um fortalecimento da idade dela. Mostrar a beleza na diversidade, a beleza no diferente, fugir dos padrões. Mostrar para a sociedade que ataca ela, que ataca outras pessoas, que elas estão sendo racistas a fazer isso. É dizer que há há beleza no afro, há beleza no crespo, há beleza na menina negra".
Para vencer, a menina teve que cumprir provas a exemplo do que fazem as misses adultas. As avaliações incluem tanto critérios de beleza quanto também de responsabilidade social. Duda participou de testes de fotogenia, com roupa de gala e de passarela, além de participar de campanhas de solidariedade.
Com a visibilidade que o título de Miss Minas Gerais Kids lhe deu, a garota usou as redes sociais para fazer a mobilização em prol da Creche Missão Malta Brasil. Conseguiu arrecadar 50 pacotes de leite em pó, 14 caixas de leite integral, 50 pacotes de biscoito e dois pacotes de fralda.
Nas provas de fotogenia, demonstrou que tem cada vez mais intimidade com as câmeras. Desde o resultado do concurso estadual até a final nacional, na semana que vem, passaram-se sete meses. Duda recebeu muita visibilidade e aproveitou o espaço para mostrar a beleza dos cabelos crespos.
Visibilidade e apoios
A pequena recebeu apoio para a realização das provas da Prefeitura de Sabará, sua cidade natal. A mãe destaca que preparar os looks, fazer as fotos e gravar os vídeos são tarefas que requerem investimento, e que elas não conseguiriam realizar sem o apoio do prefeito Wander Borges.
Duda também recebeu o apoio do governador Romeu Zema (Novo) com quem se encontrou como representante de Minas no concurso nacional.
O concurso de miss mudou a rotina da família. Duda tem sido procurada por diversas marcas para fazer campanhas publicitárias e atuar em desfiles.
Luta contra o preconceito
Entre as candidatas, Duda é a única que tem o cabelo crespo e black power. Nas redes sociais, o que é o traço da beleza única da menina passou a ser criticado, mas a família procura blindá-la do preconceito. "Eles vão ter que conviver e ver meninas com cabelo black participando e vencendo concursos de beleza", afirma Adriana.
Ela lembra que há um padrão imposto, de cabelos lisos, mas a representatividade que Duda traz já é um começo para tornar tais concursos mais diversos. "Ela rompe barreiras e padrões. Uma menina negra, de cabelo crespo, vinda de bairro de periferia pode ser miss, pode ser o que ela quiser", diz a mãe.
Quando Duda foi atacada nas redes sociais, Adriana pensou que a visibilidade poderia ser a causa. No entanto, quando ela vivenciou uma situação de preconceito no desfile no shopping, entendeu que a filha sofreria o preconceito mesmo se vivesse no anonimato. "O problema não é da Duda e nem é meu. O problema são os racistas", avalia.
Todavia, a família não se deixa abater pelo preconceito. "Ataques nas redes sociais, ataques diretos não vão nos fazer retroceder, nos rebaixar. Pelo contrário, queremos cada vez mais fortalecer. Soltar o black dela sem medo de ser feliz", avalia a mãe. "O mais importante de tudo é que Duda se sente linda com o cabelo crespo e se diverte. Ela se vê como a princesa que ela sempre sonhou", conclui Adriana.