Por Fernanda Tiemi Tubamoto*
A empresa estatal federal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), especializada na produção de combustíveis de urânio, afastou uma gerente da unidade de Resende (RJ) por tempo indeterminado após ter analisado denúncias apresentadas por servidores. Cláudia Maria Rangel, ao criticar a contratação de um novo servidor por regime de cotas, emitiu uma série de comentários racistas e lgbtfóbicos, além de associar o funcionário ao ex-presidente Lula e ao PT em tom condenatório.
O caso ocorreu em meados de setembro, quando Rangel tomou conhecimento de que um novo servidor seria convocado para integrar sua equipe de comunicação. Ele foi aprovado em um concurso público de 2018 para cadastro de reserva e fazia parte da lista do regime de cotas dedicadas a pessoas pretas e pardas que, por lei, deve representar ao menos 20% das contratações da INB.
De acordo com funcionários da área de Recursos Humanos da empresa, Cláudia ficou indignada ao saber que, à época da prova, o servidor teria se inscrito como mulher, mas alterou seu nome civil recentemente por se reconhecer como homem transgênero. Em áudio gravado da conversa da gerente com outro funcionário, ela critica o sistema de cotas da empresa e ameaça agredir fisicamente o novo funcionário caso assuma apoio a Lula, do PT.
"Inclusão é o c..., passar na frente do outros? É p...", disse Cláudia Rangel. "Um monte de babaca, um monte de politicamente correto, vai pra p..., eles. Na hora que vieram me dar a notícia, 'primeiro transgênero da INB'. Eu falei 'me f...'. Todo mundo vibrando. Vai pra p.... Vai pra tua área então, c... Eu que tenho que ficar entubando essas p...? Eu, hein. Eu já te falei. E, por fim, deve ser petista. Deve, não, com certeza é petista. Vem de Lula lá, que vai levar é porrada", afirmou.
De acordo com a denúncia, feita pelo Sindicato dos Mineradores de Brumado e Microrregião à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) e ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), a gerente também teria afirmado ao gerente de RH que a contratação de um candidato negro e transgênero traria “vergonha à empresa” e que, mesmo se fosse contratado, ela o demitiria após três meses de trabalho. Ao sair da sala do setor, teria dito na frente de outros funcionários comentários condenatórios em relação à identidade do novo funcionário e seu suposto posicionamento político: "Essa p****, além de preto, é viado. Ainda deve ser petista, aposto".
Em nota, a INB afirma não concordar com nenhum ato discriminatório e que este princípio está fixado no Código de Ética, Conduta e Integridade da empresa, além de garantir que os processos de admissão dos concursados ocorreram normalmente, e que o candidato já assumiu o cargo na segunda-feira da semana passada (3/10).
As investigações estavam em análise pela INB até o dia 7 de outubro, quando a empresa decidiu afastar Cláudia Rangel por tempo indeterminado. Ela prefere não se pronunciar sob alegação de que o caso está sendo tratado pela empresa.
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