Educação sexual, planejamento de vida e diálogo sobre autoestima e autocuidado com o jovem são formas de combater a gravidez na adolescência, explicam especialistas. Nesta última reportagem da série especial "Antes da Hora", do Estado de Minas, mostramos como a educação e o diálogo são a base dessa luta e também contribuem para a formação fomentar o desejo de crescer na vida de jovens.
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'Antes da Hora': retrato da gravidez na adolescência no Brasil'Antes da Hora': projeto evita evasão escolar de mães adolescentesGravidez na adolescência: a importância das redes de apoio para mãe e bebêJovens criam copo que identifica presença de 'Boa noite Cinderela'A médica explica que os jovens têm acesso a preservativos e outros métodos contraceptivos. Mas, a falta de negociação com o parceiro faz com que, muitas vezes, o adolescente tenha uma relação sexual sem proteção, o que pode resultar em uma gravidez ou infecções. "A questão da educação sexual não é só usar camisinha. É mostrar para o jovem que ele pode fazer escolhas", afirma.
Especialistas dizem que a principal solução para essa questão sociocultural seria trabalhar a autoestima e amor próprio do jovem. Assim, teriam mais argumentos para resistir às pressões externas e negociar uma relação sexual segura. Para fazer isso, deve-se conversar abertamente com o adolescênte: sem tabus, julgamentos ou imposições.
"O diálogo faz com que o adolescente tenha mais noção do limite. No caso das meninas, já que a gente foca a questão reprodutiva nas meninas, você empodera a mulher para saber a forma com que ela quer lidar com a gravidez ou não", diz a médica. Ela explica que a educação sexual também incentiva a garota a procurar anticoncepcionais, como pílulas ou o DIU, que é colocado gratuitamente pelo Sistema de Saúde Único (SUS) para garotas a partir dos 14 anos ou quando a menstruação se regulariza.
'Alfabetização de emoções'
A estratégia do diálogo como forma de combater a gravidez na adolescência tem resultados em São Paulo com o trabalho da ‘Casa do Adolescênte’, organizado pela ginecologista Albertina Duarte. A médica conta que de 1998 até 2022, a gestação jovem caiu 69%.Ela defende o que chama de "alfabetização de emoções", que é a educação sexual dos jovens e o empoderamento por meio do autoconhecimento e amor próprio. A médica completa que o governo deve criar medidas para promover este diálogo. "Seja nas escolas ou nos espaços de saúde, temos que discutir a ‘vacinação’ contra a baixa estima, agressões e outras violências", disse.
A ginecologista Ligia Santos diz que a sociedade deveria pressionar os políticos que estão no poder para criar esse espaço de conversa com adolescentes. "O governo tem que se apropriar dessa responsabilidade e tem que treinar. Saúde não é só não ficar doente, é bem-estar. Bem-estar é um conjunto de família e governo. O governo vai fazer a parte dele, com treinamento de pessoas e leis, mas nada impede a família de participar também", comenta.
"Minha mãe não estudava por causa do meu pai"
A gestação no Brasil está concentrada nas cortes mais baixas, conforme Júnia Quiroga, assistente representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Cerca de 40% dos nascidos vivos brasileiros em 2021 eram filhos de mães de até 24 anos, sendo que o percentual de até 19 anos foi de 14% dos bebês. O problema é que muitas dessas gestações não são planejadas, conforme explica Júnia Quiroga, representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil.
Júnia diz que a mudança na perspectiva de futuro dessas mães afeta diretamente a decisão de continuar ou não os estudos, trazendo consequências nas perspectivas socioeconômica da família. Caso a adolescente seja de classe social baixa, a criança pode entrar num ciclo de pobreza, que é quando os pais não conseguem dispor de ferramentas para os filhos ascenderem de classe social e ter melhor qualidade de vida.
O Centro de Excelência Dr. Edelzio Vieira de Melo, em Santa Rosa de Lima (SE), oferece aos estudantes aulas de projeto de vida, disciplina do Ensino Médio Integral para a qual os professores recebem qualificação especial. A professora Nadja Rezende diz que a iniciativa é valorizada pelos alunos, que sempre fazem questão de participar.
Júnia diz que a mudança na perspectiva de futuro dessas mães afeta diretamente a decisão de continuar ou não os estudos, trazendo consequências nas perspectivas socioeconômica da família. Caso a adolescente seja de classe social baixa, a criança pode entrar num ciclo de pobreza, que é quando os pais não conseguem dispor de ferramentas para os filhos ascenderem de classe social e ter melhor qualidade de vida.
O Centro de Excelência Dr. Edelzio Vieira de Melo, em Santa Rosa de Lima (SE), oferece aos estudantes aulas de projeto de vida, disciplina do Ensino Médio Integral para a qual os professores recebem qualificação especial. A professora Nadja Rezende diz que a iniciativa é valorizada pelos alunos, que sempre fazem questão de participar.
"Minha mãe não estudava por causa do meu pai"
"É uma disciplina em que os professores ajudam a entender quem é você. O primeiro passo é entender quem você é, para depois ir para o projeto profissional. Se um aluno já tem a ideia do profissional, que ele tenha as bases, as teorias para concretizar. Se ele não tiver, que ele tenha força para sonhar. Mas não só sonhar, mas que ele tenha as ferramentas para fazer o sonho se tornar realidade", explica Nadja.Professores são referência de diálogo
O colégio de Santa Rosa de Lima é a casa do projeto Bebê a Bordo, criado em 2019 pela professora Gleide Leandro e que acolhe mães adolescentes e os filhos para a sala de aula. Iniciativa que tem evitado casos de evasão escolar. Além disso, a escola é um ponto de referência e segurança para outros estudantes que querem um futuro mais próspero do que o dos seus pais. Édila não pensa em ser mãe por enquanto e casos como o dela entre as alunas do Dr. Edélzio têm sido mais comuns.O professor Alex de Jesus, que dá aulas de biologia na escola da cidade, afirma que conversas sobre sexualidade não devem ser feitas para gerar medo nos jovens. "As pessoas têm essa cultura de falar que vai pegar uma doença e morrer. Mas é melhor sempre conversar e explicar do que os jovens fazerem a coisa errada", diz.
Aluna do terceiro ano do Dr. Edélzio, Emily Félix é uma das estudantes que elogiam o diálogo mantido na escola com os professores. "Acho essa liberdade tão ‘um máximo’, porque eu vejo que em outros lugares não tem isso. É só uma relação professor e aluno. Aqui a gente tem essa relação de amizade", comenta. Ela e um grupo de colegas está com um projeto para que a escola distribua nos banheiros absorventes e preservativos.