A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) fará uma ação neste sábado (19/11) para inaugurar a Placa Indicativa do Largo do Rosário, registrado como Patrimônio Cultural de Belo Horizonte em maio deste ano. O evento faz parte da programação do Circuito Municipal de Cultura em parceria com o Instituto Odeon e acontecerá de forma gratuita entre 9h e 11h no cruzamento entre a Rua Timbiras e a Rua da Bahia.
A ação também integra a programação do Mês da Consciência Negra, desenvolvida pela Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura, que integra o “Novembro Preto: BH sem Racismo”. Durante a cerimônia de inauguração, serão realizadas apresentações das Guardas de Congado da capital Irmandade de Congo e Moçambique de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, da comunidade do Morro do Papagaio, e a Irmandade Os Carolinos, do bairro Aparecida.
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O Largo do Rosário
O Largo do Rosário era o nome dado ao espaço compartilhado no Curral Del Rey entre um cemitério com 60 sepulturas, inaugurado em 1811, e uma igreja de mesmo nome, inaugurada em 1819. O espaço foi construído pela Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, um dos grupos criados pela comunidade negra como alternativa à exclusão que sofriam das irmandades dos brancos, que já construíam suas próprias associações dedicadas aos santos de sua devoção.
Durante a construção de Belo Horizonte, entretanto, o Largo do Rosário foi demolido juntamente de todas as outras construções que ficavam onde, hoje, é a Avenida do Contorno, para dar lugar a outras edificações que abrigariam funcionários públicos vindos de Ouro Preto. O projeto da cidade não previa abrigar as massas de trabalhadores, majoritariamente compostas por negros e imigrantes europeus, que acabaram se deslocaram para as periferias.
"O Largo do Rosário é um espaço que já foi ocupado pela população negra e dentro do projeto de construção da nova capital colocava para fora a população que habitava o antigo arraial que era de sua grande maioria de negros e negras. Essa população é toda colocada para fora intencionalmente pelo projeto da construtora e pela administração dessa nova cidade que estava sendo construída", explica Padre Mauro.
Segundo a PBH, com a demolição das construções da região e a proibição do sepultamento ao redor de igrejas, os corpos enterrados no Largo do Rosário permanecem lá até hoje. Para a equipe do Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu), o reconhecimento do local como patrimônio cultural vai muito além da construção em si: "Debaixo do asfalto cinza da cidade de Belo Horizonte dos brancos, tem gente preta sepultada. Percebemos que muito já se fez e muito ainda está por fazer".
Com o registro do Largo do Rosário como patrimônio cultural imaterial de Belo Horizonte, surgem novas expectativas para a comunidade negra da cidade. Para o Padre Mauro, a ação representa a construção de uma nova relação com a capital.
"Não tínhamos o centro de Belo Horizonte como referência para a nossa cultura ou nossa religiosidade. (O registro) é uma referência de que nós (negros) já ocupamos o centro da cidade. Nós já estivemos aqui, já moramos aqui, mas fomos enviados para as periferias e favelas. Para mim, evidenciar essa história é a grande importância de reconhecer o Largo do Rosário como patrimônio cultural imaterial", comenta ele.
O Largo do Rosário também faz parte de outras iniciativas educativas da PBH, como cursos e visitas pedagógicas ao local com grupos escolares, pesquisadores e pessoas interessadas na história da cidade. Já aconteceram duas edições do “Projeto Expedições do Patrimônio” – uma virtual e outra presencial –, que convidaram o público a um passeio histórico pela área com explicações de pesquisadores e representantes do movimento negro.
Novembro Preto: BH sem Racismo
O “Novembro Preto: BH sem Racismo” é um projeto coordenado pela Diretoria de Políticas de Reparação e Promoção de Igualdade Racial (DPIR) da Subsecretaria de Direitos de Cidadania, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e a Fundação Municipal de Cultura, que realiza uma série de ações promovidas para marcar o dia 20 de Novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, com o objetivo de levantar a reflexão sobre a importância do povo negro e da cultura de matriz africana na cultura e na construção da capital mineira com impacto no desenvolvimento da identidade cultural brasileira.
A programação conta com exposições com visitas guiadas, rodas de conversa, mostra de cinema, apresentações artísticas e oficinas distribuídas em 14 centros culturais descentralizados da cidade ao longo do mês, além de integrar eventos como o Jornada CULTAA e o FIT BH 2022 (Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua de Belo Horizonte). A programação completa pode ser encontrada no Portal Belo Horizonte.
* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata
* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata
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