A atriz Deborah Secco, de 42 anos, escolheu um cropped e uma calça de cintura baixa que deixava à mostra a calcinha para estrear no Tá na Copa, programa no Sport TV que aborda a Copa do Mundo no Catar. O programa foi ao ar na segunda-feira (21/11), e o tema reverberou nas redes sociais.
Mais do que o aspecto estético, se a atriz fez uma boa escolha do figurino, o que se colocou em discussão é a participação da mulher nas coberturas esportivas. Daí o assunto deu pano para manga.
A crítica à roupa escolhida por Deborah foi feita pela repórter Flávia Jannuzzi, da TV Globo. "Pra quê? Sensualização pra comentar futebol não empodera mulher nenhuma. Podem me massacrar aqui. Achei o uó!" E ainda falou mais: "Bora cortar a blusinha pra distrair a galera, né? Só Jesus".
No Twitter, algumas críticas apontavam para o fato de Deborah Secco, assim como Jojô Todynho, tirarem o espaço de jornalistas profissionais do jornalismo - uma crítica justa.
O episódio envolvendo Deborah Secco não deixa de ser emblemático se levarmos em conta que a discussão de gênero é central na Copa do Mundo no Catar e também é um tema há muito discutido no jornalismo esportivo.
Nesta terça-feira (22/11), pela primeira vez na TV aberta, uma mulher narrou uma partida da Copa do Mundo. A conquista é da jornalista Renata Silveira, que narrou a partida entre a Dinamarca e a Tunísia. A cobertura esportiva, em especial o futebol, é uma área do jornalismo em que há desigualdade entre os gêneros - há muito menos espaço para as mulheres em relação aos homens.
Além do número reduzido de mulheres nas equipes, muitas vezes, elas já foram colocadas em funções decorativas como se apenas o aspecto físico contasse. No entanto, já de muito tempo, as jornalistas mulheres abrem espaços para demonstrar a capacidade técnica.
MULHERES DE BURCA
Muitos apontavam a inconsistência da crítica feita à roupa de Deborah Secco tendo em vista o contexto do Catar em relação aos direitos das mulheres. Um perfil compartilhou foto de um homem com roupa de banho e a mulher com o corpo todo coberto por uma burca em pleno deserto.
"A gente tá vendo a Copa do Mundo num país como o Qatar, torcendo para um jogador que apoia um sujeito misógino, racista e homofóbico, e a questão é a roupa da Debora? Pois eu tô achando o máximo", saiu em defesa de Deborah a atriz Maria Ribeiro. Sem citar nomes, a referência é ao jogador Neymar que apoiou a reeleição de Jair Bolsonaro, que perdeu nas urnas.
As mulheres não são proibidas de irem aos estádios de futebol no Catar. No entanto, devido à cultura, não é usual que sejam vistas nos estádios como torcedoras. Muitas delas pisaram em um estádio pela primeira vez nesta Copa. Felizes de participarem do momento históico, elas vestiam roupas tradicionais e cobriam os cabelos.
Aqui no Brasil, Deborah recebeu o apoio da comentarista Gabriela Prioli: "Poxa, vida. Em 2022 e as pessoas, na maioria mulheres, indo no perfil de outra mulher proferir ofensas? (...) Tanta gente por aí usando roupa que a gente não gosta sem causar em nós tamanha perturbaçaõ, não é mesmo? (...) Muitas vezes o nosso incômodo revela desejo. Vale a pena refletir" escreveu Gabriela Prioli.