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Estado de Minas COPA DO MUNDO 2022

Estrelas femininas superam recordes de craques no Catar

O DiversEM elenca os feitos de atletas do futebol feminino que superam marcas de estrelas do masculino, como Cristiano Ronaldo


05/12/2022 08:00 - atualizado 05/12/2022 09:49

Jogadora Marta, com a camisa da seleção brasileira, fazendo gesto de coração com as mãos
Marta tem mais conquistas que jogadores masculinos, mas não tem o mesmo reconhecimento (foto: reprodução/Instagram)


No primeiro jogo da seleção portuguesa, Cristiano Ronaldo fez um gol de pênalti e foi considerado o primeiro jogador a marcar gols em cinco mundiais diferentes. Com a confirmação da escalação de Daniel Alves como capitão da seleção brasileira, ele se tornou o brasileiro mais velho a disputar uma partida de Copa do mundo. Correto? As afirmações exemplificam o apagamento que o futebol feminino enfrenta no mundo.

Marta, atacante da seleção brasileira, conquistou o feito antes de Cristiano Ronaldo, em 2019. Ela marcou gols nas Copas de 2003, 2007, 2011, 2015 e 2019. A canadense Christine Sinclair foi a segunda pessoa a marcar gols em cinco mundiais. Também em 2019, a meia Formiga foi a atleta brasileira mais velha a disputar um mundial pelo Brasil, com 40 anos, mais velha inclusive que Daniel Alves com seus atuais 39. 

Além disso, Marta foi eleita melhor jogadora do mundo por seis vezes, mais que o maior vencedor do prêmio na categoria masculina: Lionel Messi com cinco bolas de ouro da FIFA, e é a maior artilheira da história das copas, entre homens e mulheres, com 17 gols, em segundo vem o alemão Miroslav Klose, com 16 gols. Entretanto, esses feitos só são reconhecidos quando realizados por um homem. 

“Isso acontece porque modalidade masculina é tida como a referência, a feminina não conta. Sempre que um homem alcança alguma coisa que nenhum outro homem alcançou, não se pensa em conferir se alguma mulher já fez aquilo”, reflete Ana Carolina Vimieiro, professora e pesquisadora da UFMG, e coordenadora do Coletivo Marta.

Misoginia no futebol

A profissionalização do futebol no Brasil ocorreu no início do século XX, com a criação dos primeiros estádios e posteriormente dos primeiros campeonatos. Entretanto, a prática do futebol foi proibida para mulheres até 1979, sendo regulamentada apenas em 1983. Para efeito de comparação a jogadora Formiga nasceu em 1978, quando o esporte ainda era proibido para mulheres.

Ana Carolina explica que existia uma ideia muito forte, até a década de 50, de que o esporte deveria servir para preparação das mulheres para a maternidade. Os esportes recomendados para mulheres seriam os considerados mais delicados, como ginástica, natação ou tênis. Modalidades vistas como mais violentas eram associadas ao mundo mais masculino e à virilidade, entre elas o futebol.

“A FIFA vai começar a enxergar a categoria feminina, quando ela começa a aparecer como uma possibilidade mercadológica. Então todos os incentivos que a gente vai ver no futebol de mulheres, desde dos anos 80 do século passado, são incentivos do ponto de vista mercadológico”, explica Renata Lemos, Especialista em Estudos Interdisciplinares do Esporte pela UNESAV e integrante do Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (GEFuT/UFMG). 

Mudança de cenário

Apesar da construção do futebol feminino no Brasil ter se dado de forma gradativa, ainda hoje existe uma grande falta de incentivo. Para acompanhar os jogos in loco, nem sempre elas jogam em locais acessíveis, nem sempre há comercialização fácil de ingressos, não há divulgação dos jogos, tornando difícil até para quem quer acompanhar um time feminino .

Apenas em 2016 a Conmebol obrigou todos os times que disputam a Copa Libertadores a terem um time feminino. Em 2019 a FIFA tornou obrigatória a presença de times femininos nos times que disputam campeonatos nacionais na série A. Este ano, pela primeira vez, a final do campeonato mineiro feminino ocorreu no Mineirão, algo comum na modalidade masculina. 

“A gente vê a obrigatoriedade da profissionalização vinda da FIFA, depois da Conmebol e aí a CBF e as federações estaduais e regionais. Começa-se a enxergar a categoria feminina porque foram obrigados. É um passo inicial, temos muito ainda a desenvolvermos, mas precisamos comemorar o que foi conquistado”, afirma Renata. 

Para além das atletas

Para além do campo, o futebol é constituído por todo um sistema, incluindo comentaristas, narradores, jornalistas, torcedores, entre outros. E mesmo nestes espaços a presença de mulheres é mínima. A copa do Catar é a primeira a ter um time de arbitragem feminino apitando em um jogo masculino. É também a primeira vez que temos uma narradora na TV aberta, Renata Silveira, pela Rede Globo, que detém os direitos de transmissão da competição no Brasil. 

Outro problema enfrentado pelas mulheres no universo do futebol é a frequente descredibilização. As mulheres precisam sempre se provar quando um homem questiona uma mulher se ela realmente entende do assunto, ou são imensamente criticadas quando cometem um erro, qualquer deslize, por mínimo que seja é usado para desqualificar todas as profissionais como uma prova de que não pertencem à esses lugares.

“Isso acontece com os homens também, mas em uma proporção muito menor. As críticas são mais duras para as mulheres, elas precisam provar o tempo inteiro que elas entendem, que são capazes, enquanto o homem ‘naturalmente’ já entende de futebol”, afirma Renata. “As mulheres são afastadas do futebol o tempo inteiro, inclusive em 2022. É uma barreira que a gente precisa superar, por mais que a gente tenha conquistado algum espaço”, completa.

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