Jornal Estado de Minas

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Estátua de Mãe Stella de Oxóssi é incendiada em Salvador



Na madrugada deste domingo (01/12), a estátua de Mãe Stella de Oxóssi, localizada na avenida que leva o nome da ialorixá em Salvador, foi alvo de vandalismo ao ser incendiada. O ato foi entendido como intolerância religiosa e tipificado pela Policia Civil como "ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo".



Inicialmente foi levantada a hipótese de o incêndio ter sido iniciado como resultado de um curto circuito na iluminação do monumento, mas foi constatado que se trata de um incêndio criminoso. Registros feitos no local mostram que apenas a imagem de Mãe Stella de Oxóssi, de dois metros de altura, foi atingida e que a imagem de Oxóssi, de 6,5 metros, localizada logo atrás, segue inteira. 

“Lamentável o incêndio criminoso na estátua de Mãe Stella de Oxóssi, ocorrido nesta madrugada. Não é a primeira vez que esse símbolo passa por uma situação de vandalismo atrelado à intolerância religiosa. Estamos apurando o caso para que os responsáveis sejam identificados e punidos”, escreveu Bruno Reis, prefeito de Salvador.



O boletim de ocorrência foi registrado pela Fundação Gregório de Mattos (FGM) na 12ª Delegacia, em Itapuã, que também solicitou à Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal) a remoção da obra incendiada para recuperação, o que deve ser consentido após a perícia. 





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Histórico de depredação

A homenagem à Mãe Stella de Oxóssi foi confeccionada em resina de poliéster e fibra de vidro pelo artista plástico Octavio de Castro Moreno Filho, mais conhecido como Tatti Moreno, e instalada em abril de 2019. Em setembro de 2019, as duas obras foram pichadas, e os responsáveis não foram presos. 

Também em 2019 a escura que representa Oxumaré foi degradada e teve um dos braços arrancados. A peça faz parte de uma instalação de Tatti Moreno no Dique do Tororó representando Oxalá, Iemanjá, Oxum, Ogum, Oxóssi, Xangô, Nanã e Iansã nas águas, cada uma com sete metros de altura.
 
Os outros quatro monumentos representando Oxumaré, Ossain, Logun-Edé e Ewá, com 3,5 metros, encontram-se na calçada de entorno do dique. Todas as obras passaram por restauração em 2021.

Mãe Stella de Oxóssi

Maria Stella de Azevedo Santos, mais conhecida como Mãe Stella de Oxóssi, é considerada uma das maiores ialorixás do país e grande conhecedora dos cultos e tradições do candomblé.




 
Natural de Salvador, faleceu aos 93 anos, em dezembro de 2018. Mãe Stella foi a quinta ialorixá do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, um dos mais tradicionais da Bahia.

Oxóssi, uma das principais entidades do candomblé, era o orixá de cabeça de Mãe Stella. Representando o conhecimento e as florestas, Oxóssi é representado pela figura de um homem portando um arco e flecha.

Apesar de sua importância no candomblé, Mãe Stella de Oxóssi defendia os princípios da liberdade religiosa para todos as crenças.

“O Estado é laico. Em Salvador existem símbolos, monumentos e logradouros enaltecendo religiões judaico-cristão. O monumento em homenagem a Mãe Stella de Oxóssi, é uma das poucas referências da religião do candomblé, como as estatuas do Dique do Tororó, onde reafirma-se nossa religião, que deve ser respeitada, e não apenas tolerada. Respeito sim, tolerância não”, afirma pronunciamento da Rede de Mulheres de Axé do Brasil. 



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