O Museu da Diversidade Sexual (MDS), instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, apresenta a exposição online “Dando Pinta no Brasil Colônia”, que celebra a coragem daqueles que encontraram brechas para poder existir mesmo diante da perseguição inquisitorial e portuguesa.
“Quem entra numa exposição dessas chega com a ideia de que vai ver um número pequenino de registros da dissidência sexual e de gênero, mas já nos primeiros documentos percebe que a questão é muito mais ampla do que conseguiam imaginar”, destaca.
A pesquisadora explica que os brasileiros têm uma visão muito “comportadinha” e “heterocisnormativa” da história do Brasil, dando a impressão que as pessoas que de hoje chamamos de LGBTQIA só começaram a existir há uns 100 anos, no máximo.
“Jogar luz sobre esses documentos é uma forma de mostrar que sempre estivemos aqui, e, além disso, que o projeto colonial sempre nos tratou como a maior das ameaças existentes”, afirma. “Daí a importância dessa exposição: permitir que a história do país seja contada por uma outra perspectiva, a LGBTQIA ”, completa.
LGBTQIA+ na história
Amara conta que desde o começo de sua atuação como militante se deu conta da importância de se pensar a história do Brasil a partir da perspectiva LGBTQIA+. Assim, começou a buscar documentos e registros referentes à dissidência sexual e de gênero ao longo dos tempos, iniciando por períodos mais próximos, como a Ditadura.
“No entanto, rapidamente percebi que esses registros iam muito além desse período, abarcando momentos bem recuados da história desse território, e, nisso, percebi também que o combate a nosses antepassades era um ponto central do projeto colonizador”, afirma Amara.
A pesquisadora ressalta que figuras como Luiz Mott e Ronaldo Vainfas foram essenciais para a descoberta de boa parte dos textos coloniais que mostram a experiência LGBTQIA no Brasil Colônia. Entretanto, o foco destas pesquisas era na questão da orientação sexual mais do que a da identidade de gênero.
“A minha contribuição principal, então, foi propor novos olhares sobre esses registros, de forma a revelar que o borramento das fronteiras rígidas de gênero sempre esteve presente nesse território, junto das experiências homo e biafetivas”, explica.
Descobertas no Brasil Colônia
Amara conta que há registros mostrando nitidamente que experiências transgêneras já existiam em solo brasileiro desde o começo da colonização. Ela também percebeu que a Santa Inquisição, uma das instituições mais repressoras da época, ironicamente foi responsável por gerar grande parte dos documentos que confirmam a presença de pessoas LGBTQIA+ no Brasil Colônia.
Além disso, há a redescoberta dos dispositivos jurídicos criados para coibir as existências LGBTQIA+, o que revela o quanto o poder institucional estava de olho nesse grupo desde os primeiros momentos da chegada dos europeus por aqui.
História, direitos e cidadania
Amara acredita que o direito à história é uma das formas mais importantes de acesso a cidadania e por isso luta para construir uma consciência de que não é possível contar a história desse país sem dar centralidade às dissidências sexuais e de gênero.
“À medida que a História vai incorporando a nossa perspectiva e assumindo que nós também construímos essa História, vamos junto firmando tanto o nosso direito de existir, quanto a compreensão de que esse território também nos pertence”, afirma.
Serviço
Exposição: “Dando Pinta no Brasil Colônia”
Onde acessar: Museu da Diversidade Sexual
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