Nesta quarta-feira (4/1), a ex-jogadora e medalhista olímpica de vôlei Ana Moser assumiu o comando do Ministério do Esporte que, durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (PL), esteve como secretária especial subordinada ao Ministério da Cidadania.
Em seu discurso de posse, Moser afirmou que “o esporte tem muitas dimensões, e todas têm, e podem, trabalhar juntas para construir um país mais justo, solidário e capaz”, além de ter prestado homenagens a Pelé e Isabel Salgado, ambos falecidos em 2022.
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‘Esporte para todos’
Em seu discurso de posse, Ana Moser falou sobre seu grande foco como ministra: esporte para todos. A esportista é uma das diretoras do grupo Atletas pelo Brasil, que luta para promover mudanças em políticas públicas e busca avanços sociais a partir do esporte, além de ter fundado o Instituto Esporte & Educação (IEE), cuja metodologia é fundamentada em priorizar a iniciação esportiva ao invés de privilegiar o esporte de alto rendimento.
“Aceitei a missão em nome da causa, que é garantir o direito de todos ao esporte. Foi um pedido do presidente Lula: fazer uma revolução no esporte, oferecer acesso ao esporte na vida de todos e todas os brasileiros e fazer evoluir o esporte amador”, afirmou ela.
Moser também anunciou ao seu grupo de trabalho Marta Sobral, referência no basquete, como nova secretária do Esporte e Rendimento; e Diogo Silva, destaque no taekwondo, ainda sem cargo. Ela também prometeu "encaminhar as questões de todas as dimensões do esporte, que são muitas e diversas, e que a gente possa enfim ter um espírito de muita conversa, e contribuição, e colaboração, para que a gente efetivamente construa algo novo. Maior do que a gente tem hoje. E que aumente muito a relevância que o esporte tem frente à sociedade em geral".
A nova ministra falou sobre a importância da conversa com outros ministérios, como Educação e Saúde – com os quais pretende ter suas duas primeiras agendas – e que ainda conversará com todos os setores, como comitês paralímpicos, que terão atenção especial durante sua gestão. “Nosso público é o mesmo. Crianças e jovens que estão na escola; população em geral; atendidos pelo SUS. A missão é que tenham acesso a todos os serviços. Esporte é transversal, e precisamos que isso se reflita na prática”, explicou.
Além disso, Moser destacou que a inclusão de todos é importante para o processo de reconstrução do esporte brasileiro. “O esporte, segundo Manuel Sérgio, é participação e integração. Todas as políticas atendem à mesma população, e é necessário criar pontes de integração entre as políticas que queremos mostrar para o povo brasileiro. O esporte tem o potencial para exercer esse papel, e é essa a nossa proposta”, afirma.
“O esporte tem muitas dimensões, e todas têm, e podem, trabalhar juntas para construir um país mais justo, solidário e capaz de produzir; viver e conviver bem; cuidar da comunidade e dos espaços públicos; incluir mulheres, negros, gays, ricos e pobres, deficientes, autistas: todas as pessoas. Todos são todos”, completou.
Homenagens
A ministra também fez um apelo para que escolas do Brasil sejam rebatizadas com o nome “Rei Pelé”, em homenagem ao ex-jogador que faleceu na última quinta-feira (29/12) devido a um câncer. Moser defendeu que a história do Rei do Futebol está lado a lado com a do esporte do país e do Brasil.
“Já nomearam avenidas e estádios, mas deveriam dar o nome de ‘Rei Pelé’ para várias escolas. Os alunos vão aprender a história dele, pois é também a história do esporte brasileiro e muito da história do Brasil, e isso precisa ser mantido”, afirmou ela.
A esportista também homenageou os ex-atletas Sócrates e Isabel Salgado, falecidos em 2011 e 2022, respectivamente. De acordo com a ministra, ambos se encaixam no perfil de “atleta que se posiciona politicamente”: o ex-jogador de futebol teve papel importante no projeto Caravanas do Esporte, que é ligado à ONG de Ana Moser; e a ex-jogadora de vôlei e de vôlei de praia, que chegou a jogar com a ministra, chegou a ser anunciada no grupo de transição do governo Lula, mas faleceu subitamente no dia seguinte.
Moser também chegou a elogiar as torcidas organizadas de futebol e afirmou querer se aproximar dos grupos pelo trabalho social que segue a linha do “esporte como direito de todos”, avaliando como positiva a humanização e a ampliação dessas relações.
Ao final do discurso, a esportista também falou de sua família, agradecendo à sua esposa, a jornalista Adriana Saldanha, e aos seus filhos, Estefani e Pedro, explicando que este não estava presente por ser do espectro autista.
Quem é Ana Moser
Ana Moser ficou conhecida pelo desempenho nas quadras. A ex-esportista nasceu em Blumenau (SC) em 14 de agosto de 1968 e começou a jogar vôlei aos sete anos de idade. Passou pela seleção brasileira infanto-juvenil antes de chegar à equipe principal.
Participou, pela primeira vez, de uma edição de Olimpíadas em 1988, em Seul, na Coreia do Sul, mas o Brasil acabou com a sexta colocação. Esteve no time que conquistou a primeira medalha olímpica do vôlei feminino brasileiro, de bronze, nos Jogos Olímpicos de Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996, com o bronze conquistado na vitória por 3 sets a 2 sobre a Rússia. Em 1998, disputou o Campeonato Mundial com a Seleção Brasileira, que terminou na quarta colocação. No ano seguinte, anunciou a aposentadoria do esporte.
“Eu sou atleta e defendi a seleção por 15 anos. Mas nunca tirei a camisa da seleção. Eu defendo todos os atletas, técnicos, profissionais. Sei das dores, das glórias e dos valores que distribuímos”, disse a esportista durante a posse.
Fora das quadras, a vocação social de Ana Moser se manifesta há anos. Em 2001, ela fundou o Instituto Esporte & Educação, que já atendeu cerca de 6 milhões de crianças e jovens e capacitou mais de 55 mil professores e educadores pelo Brasil. Na posse, Ana Moser exaltou o legado e afirmou que se licenciou do comando do instituto.
“Vamos buscar as parcerias para ampliar o acesso ao esporte em todo o país. Assumo essa missão para inverter a pirâmide e garantir o acesso a todos ao esporte, como está previsto na Constituição. Nossas propostas têm referências internacionais. Elas têm base e são prioridade na nossa pasta”, explicou.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata
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