A 23ª edição do Big Brother Brasil (BBB23) estreia nesta segunda-feira (16/1) na Rede Globo já com um novo recorde: dos 22 participantes, 11 são negros, configurando o maior elenco não-branco já visto em 23 anos de programa. Há 5 participantes negros no grupo “Camarote” – composto por celebridades –, enquanto há outros 6 no grupo “Pipoca” – composto por pessoas consideradas anônimas.
Nas últimas edições, notou-se uma tendência de tentar aproximar o elenco do programa à realidade brasileira. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 56,1% dos brasileiros são negros – contabilizando pessoas autodeclaradas pretas e pardas –, mas o reality show sempre teve uma porcentagem maior de protagonistas brancos ao longo dos anos.
O formato do Big Brother pertence à empresa holandesa Endemol e, nas regras, não prevê nenhuma restrição quanto à raça ou a qualquer outra característica dos participantes, mas os Estados Unidos, a CBS (Columbia Broadcasting System) decidiu, em 2020, que seus reality shows, incluindo o Big Brother estadunidense, teriam 50% de participantes não-brancos.
A decisão parece ter refletido nas últimas edições da versão brasileira do programa, juntamente com a influência da vitória de Thelma, uma mulher negra, na edição de 2020. Em 2021, o BBB bateu seu primeiro recorde de pessoas negras em uma edição: foram nove dos 20 participantes. Em 2022, foram oito de 20 e, agora, em 2023, serão 11 de 22 participantes.
Apesar desse crescimento de diversidade no programa nos últimos anos, Maíra de Deus Brito, pesquisadora e doutoranda em Direitos Humanos e Cidadania pela Universidade de Brasília (UnB), afirma que essa adequação ao perfil racial da sociedade brasileira atende a demandas que crescem na sociedade e, consequentemente, cede a pressões comerciais.
“Acho ingenuidade acreditar que a mudança desse perfil está apenas interessada na representatividade. O BBB é um programa altamente rentável e deve seguir discursos e tendências para obter sucesso. As questões de raça e gênero estão mais fortes do nunca e o reality segue essa onda”, avalia Brito.
Conheça as personalidades negras no BBB23:
Camarote:
A cantora tem 41 anos, nasceu na cidade de São Paulo e foi criada em Cachoeira Paulista, no mesmo estado. Hoje mora no Rio de Janeiro, é casada e tem um filho. Em 2002, depois de vencer um reality musical, tornou-se uma das integrantes da banda Rouge. Antes da fama, estudou teatro, trabalhou como telefonista e como empregada doméstica para se sustentar. Depois que a banda acabou, se “reencontrou” como atriz de espetáculos musicais. Desde 2008, participa de grandes montagens da Broadway e de peças brasileiras, e acumula trabalhos no teatro, na TV e no cinema. Em 2022, participou da segunda temporada do ‘The Masked Singer Brasil’ e, recentemente, uma reunião do Rouge mobilizou uma legião de fãs, que lotou os shows da banda.
A modelo e ativista social tem 38 anos e nasceu na comunidade do Morro da Conceição de Recife, em Pernambuco. Também é atriz, empreendedora e foi eleita Miss Alemanha, em 2022. Defende pautas como sustentabilidade, trabalho digno para mulheres da periferia e a arte como forma de mudança de vida. Na adolescência, deu aulas de alfabetização na ONG criada por seus pais, que atendia crianças e adolescentes em situação de risco. Aos 15 anos, foi reconhecida pela Unesco com o prêmio Sonhadores do Milênio. Formou-se em Serviço Social e, em 2006, conseguiu uma bolsa para fazer mestrado na Alemanha, cuja tese defendeu em quatro idiomas. Na mesma época, começou a trabalhar como atriz e modelo no exterior.
O médico e fisioterapeuta tem 35 anos e nasceu em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Ganhou destaque nas redes por conta da sua profissão e, em 2022, chegou a apresentar um reality show. Casado há três anos, mora com o marido em Bauru, em São Paulo. Filho de pai militar e mãe dona de casa, cresceu em um lar religioso. Morou dentro de um CIEP (Centros Integrados de Educação Pública) porque os pais desempenhavam a função de “pais sociais” para crianças carentes. Mais tarde, seu pai abriu uma empresa e a família se mudou para uma casa no centro da cidade, o que considera ter sido um choque social. Afirma ter sido uma criança sensível, inserida em um ambiente machista.
O ator tem 23 anos e é natural da capital de São Paulo. Começou a participar de comerciais aos dez anos e interpretou seu primeiro papel em “Chiquititas” aos 13, quando ficou conhecido pelo público. Na TV Globo, participou da série ‘Carcereiros’ (2017), de ‘Malhação: Toda Forma de Amar’ (2019) e fez seu trabalho mais recente como o Renato no remake de ‘Pantanal’ (2022). Também tem trabalhos no cinema e no teatro. Fez muitos cursos na área e formou-se bacharel em Artes Cênicas. Este ano, completa dez anos de carreira. Identifica-se não só como ator, mas também como artista, de forma mais ampla. Por ter escrito bastante, considera-se poeta e tem vontade de ser roteirista. Arrisca cantar, dançar e tocar violão.
Carioca da Zona Norte, é cantora e tem 23 anos, conhecida como “A Pagodeira”, título de uma de suas músicas mais famosas. Integrante de uma grande família, sempre viveu em dois ambientes distintos: do lado materno, teve uma criação mais rígida; do lado do paterno, conviveu com um grupo festeiro, que ama samba. Na igreja, descobriu a paixão pela música. Seguiu o estilo gospel no começo da carreira, mas se encontrou no pagode. Em 2016, participou do ‘The Voice Brasil’ e a experiência reacendeu sua vontade de ser famosa na música. Na pandemia, lançou o primeiro single e o sucesso foi tanto que decidiu gravar um DVD, que bateu a marca de mais de 40 milhões de streams de áudio e vídeo. Em 2022, realizou o sonho de cantar no palco Favela do Rock in Rio.
Pipoca:
É natural de São José da Laje, cidade de Alagoas que fica na divisa com Pernambuco. Tem 32 anos e é atendente de farmácia. Conta que em sua região é conhecido como “princesa das fronteiras”, e que é muito querido pelos clientes que atende no trabalho. Também afirma ter um ótimo relacionamento com os pais, com quem mora até hoje, além de ter tido uma infância muito feliz – cresceu brincando na rua e fazendo muitos amigos. Revela que seu sonho é mudar a sua vida e a de sua família, e que não nasceu para ser um cidadão pacato do interior, mas para brilhar.
Natural de Salvador, na Bahia, o enfermeiro Cezar tem 34 anos e, atualmente, mora em Brasília, onde trabalha na UTI neonatal e na emergência de dois hospitais. Conta que o pai esperava que ele seguisse seus passos na Engenharia, mas que a Enfermagem foi a sua primeira escolha. Depois de formado na faculdade, deixou seu estado apenas com uma mochila nas costas e se mudou para Brasília com o objetivo de melhorar sua realidade financeira. Também já morou no Mato Grosso do Sul a trabalho. Nas redes sociais, costuma compartilhar seu estilo de vida, mas garante que não se trata de ostentar e, sim, de saber aproveitar os momentos.
Natural de Jacundá, no Pará, a biomédica tem 28 anos e trabalha em um laboratório de análises clínicas de sua cidade. Teve uma infância permeada por boas lembranças nas ruas da pequena Jacundá. Aos 16 anos, saiu da cidade para estudar em Goiânia e, aos 20, voltou para a terra natal em função das responsabilidades que tinha em casa. Tem muito orgulho de sempre ter cuidado da mãe e de ter pagado a faculdade do irmão. Foi escolhida para entrar na casa pelo público depois de alguns dias na Casa de Vidro.
O biomédico tem 30 anos e é natural da capital de Sergipe. Hoje, mora na cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo, onde trabalha atendendo moradores de periferia com exames de emergência. Conta que uma grande virada na vida financeira da família, quando ele era criança, foi um choque com que teve que lidar. Depois disso, como atleta de handebol e futebol, conquistou uma bolsa de estudos no melhor colégio de sua cidade. Também por meio do esporte, mais tarde, conseguiu uma bolsa na faculdade de Ribeirão Preto. Orgulha-se de ter saído de casa apenas com a passagem de ida e ter se estabelecido em São Paulo, onde também cursou seu mestrado. Ainda sonha cursar Medicina e atender à terceira idade como geriatra.
Psicóloga e analista de Diversidade, ela tem 25 anos e é de Osasco, em São Paulo. Cresceu em um lar cristão de pais missionários que visitavam unidades de detenção de menores infratores cantando rap e dando uma nova visão de mundo para os jovens. Foi quando teve seu primeiro contato com o mundo das artes, pelo qual é fascinada. Teve muitos empregos para conseguir custear a faculdade de Psicologia e, hoje, orgulha-se de morar sozinha no apartamento que montou com tudo o que gosta graças ao próprio trabalho.
A analista de marketing e modelo tem 29 anos e é nascida em Angola, mas mora há nove anos na capital de São Paulo. Veio para o Brasil para estudar e, por aqui, se graduou em Jornalismo e fez pós-graduação em Marketing. Atualmente, também atua em comerciais e como influenciadora em suas redes sociais. Conta que consumia cultura brasileira desde a infância com a mãe e os sete irmãos, que vir para o Brasil era um sonho e que pretende seguir no país daqui para frente. Em Angola, em 2012, foi eleita Miss Benguela (cidade da região oeste do país). Já foi casada por oito anos e tem duas filhas do relacionamento.
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