A bailarina brasileira Ingrid Silva, integrante do grupo Dance Theatre Harlem, de Nova York, relatou ter sido vítima de racismo na Filadélfia, cidade do estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Em suas redes sociais, ela conta que estava passeando em um parque com o marido e a filha quando foi abordada por um estadunidense que ouviu a família conversando em português e ficou curioso quanto à sua nacionalidade.
Ingrid afirma que, durante a conversa, o homem disse ter estado no Rio de Janeiro há duas semanas e perguntou se ela morava na Filadélfia, ao que respondeu que vivia em Nova York, mas estava na cidade a trabalho. “Cleaning? [Limpeza?]”, perguntou o estadunidense, querendo saber se ela era faxineira.
A bailarina relacionou o episódio ao racismo estrutural e pediu para que as pessoas brancas estudassem sobre o tema para que não emitam comentários como o do estadunidense. “É tudo estruturado para que as pessoas pretas não tenham oportunidade de crescer. Ou quando elas crescem, não são vistas dessa forma. [...] Pessoas brancas, estudem, se eduquem, parem de falar essas m*rdas, a gente está cansado de ouvir. Sempre revejam a forma que vocês educam seus filhos, como vocês têm esses tipos de diálogo, como vocês ensinam a respeitar o próximo, independentemente da sua cor, sexualidade, do que a pessoa é”, disse em suas redes sociais.
Ingrid e suas sapatilhas
Criada em Benfica, no Rio de Janeiro, Ingrid também é autora do livro infantil “A bailarina que pintava suas sapatilhas”, que será lançado em fevereiro de 2023, e do livro autobiográfico “A sapatilha que mudou meu mundo” (2021), no qual conta sobre como tingia suas sapatilhas de balé para que a cor se aproximasse do tom de sua pele. O caso viralizou nas redes sociais no mesmo ano de publicação de seu primeiro livro por trazer à tona discussões sobre o que é a “cor de pele”, entendida pelo senso comum como um tom rosado e claro até aquele momento.
A bailarina começou a estudar dança em um projeto social no Rio de Janeiro e, hoje, ocupa o cargo de Primeira Bailarina no Dance Theatre of Harlem, além de ser a primeira brasileira a ter entrado na companhia, que é mundialmente conhecida por priorizar dançarinos afrodescendentes em seu casting.
Fundadora do EmpowHer NY, entidade sem fins lucrativos que atua como um catalisador social para estimular o diálogo de autonomia feminina entre mulheres, também ajudou a co-fundar, em 2020 – quando cresciam as discussões sobre o movimento Black Lives Matter –, o Blacks In Ballet, uma rede digital que funciona como uma biblioteca para destacar bailarinos negros no mundo da dança e compartilhar suas histórias. No mesmo ano, suas sapatilhas tingidas que foram usadas ao longo de sua carreira passaram a integrar o acervo do Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana Smithsonian, nos Estados Unidos.
Em 2021, Ingrid entrou para a lista das 20 Mulheres de Sucesso da Revista Forbes Brasil e, pouco antes, foi eleita uma das 100 negras abaixo de 40 anos mais influentes do mundo pela Mipad (Most Influential People of African Descent) 2020, quando também foi capa digital da Vogue Brasil de novembro.
A bailarina foi a primeira brasileira a palestrar na Harvard Lead Conference, conferência de empoderamento e desenvolvimento de mulheres latino-americanas, e já recebeu prêmios no Festival Cannes Lions com as produções “The Call” e “SkinDeep”, que tratam do direito de mulheres negras e a injustiça racial nos EUA.
Em 1 de janeiro de 2023, Ingrid Silva também se apresentou no Festival do Futuro, que ocorreu no dia da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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