Jornal Estado de Minas

CINEMA

Oscar: Michelle Yeoh é primeira asiática amarela indicada a 'Melhor Atriz'


Michelle Yeoh é a primeira asiática amarela a ser indicada para a categoria de “Melhor Atriz” no Oscar, considerado o prêmio mais importante do cinema. Nascida na Malásia, ela foi indicada pelo filme “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” (2022), no qual interpreta Evelyn Wang, uma imigrante chinesa que precisa lidar com problemas relacionados aos negócios e à família.





A atriz, que já é uma grande estrela do cinema asiático e começou a receber maior destaque no cinema hollywoodiano nos últimos meses, também recebeu seu primeiro Globo de Ouro como “Melhor Atriz de Comédia” durante a cerimônia que ocorreu no dia 10 de janeiro deste ano.

A edição do Oscar de 2023 também já é a que mais indicou atores asiáticos na história, com nomes como Ke Huy Quan para “Melhor Ator Coadjuvante” e Stephanie Hsu para “Melhor Atriz Coadjuvante”, ambos por “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, além de Hong Chau por “A baleia”, para a mesma categoria de Hsu.
 
 

Histórico de indicadas a Melhor Atriz

A categoria do Oscar de “Melhor Atriz” é considerada, historicamente, uma das mais brancas e menos diversas da Academia. Em 95 anos de Academia, cerca de doze mulheres negras foram indicadas e apenas uma foi vencedora da categoria: Halle Berry pelo filme “A Última Ceia” (2001), o que aconteceu há mais de 20 anos. Mulheres latinas totalizam quatro indicações, sendo a primeira delas em 1999, com Fernanda Montenegro por “Central do Brasil” (1998); e indígenas foram duas, com a primeira indicação em 2004 com Keisha Castle-Hughes por “Encantadora de Baleias” (2002).





E até esta semana, não havia nenhuma indicação de uma mulher que se autodeclarasse asiática e amarela à categoria de “Melhor Atriz”. Antes de Michelle Yeoh, a Academia já havia indicado duas mulheres nascidas na Índia: Oberon Merle foi nomeada por “The Dark Angel” (1936) e Vivien Leigh chegou a ganhar duas estatuetas por seus trabalhos em “...E o Vento Levou” (1939) e em “Um Bonde chamado Desejo” (1951). No entanto, por terem passabilidade branca, ambas negavam sua ascendência asiática.

Outras indicações notórias, como as de Salma Hayek (ascendência libanesa) e vitórias, como as de Cher (ascendência armênia) e de Natalie Portman (ascendência israelense/russa), também se fazem presentes. Apesar disso, nenhuma delas, que afirmam ter antepassados vindos da Ásia Ocidental, se autodeclaram asiáticas.

Curiosamente, a personagem de Michelle Yeoh em “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” não é a primeira personagem asiática reconhecida pela Academia. Na décima edição do Oscar, a atriz Luise Rainer, que é branca, chegou a ganhar o Oscar de “Melhor Atriz” por seu papel em “Terra dos Deuses” (1937), no qual interpretou O-Lan, a esposa chinesa de um fazendeiro camponês – também interpretado por um ator branco, Paul Muni.




 

Trajetória da atriz

Antes de se tornar atriz, Michelle Yeoh era bailarina e procurava uma carreira no ballet. Após uma lesão em 1983, no entanto, ela precisou mudar de planos. A mãe a inscreveu no concurso da Miss Malásia, de onde saiu vencedora e, logo, foi contratada para contracenar com Jackie Chan em um anúncio publicitário de uma produtora que também trabalhava com cinema. A partir daí, cresceu na área e tornou-se uma estrela na Ásia, protagonizando diversos filmes de ação no circuito de Hong Kong, utilizando suas habilidades físicas para realizar manobras em cenas de luta.

Em 1995, pensou em abandonar a carreira de atriz após uma série de lesões provocadas pelas cenas de luta nos filmes, mas uma visita de Quentin Tarantino, que promovia o filme “Pulp Fiction” (1994) em Hong Kong, a fez mudar de ideia. Ele, que é grande fã do cinema de artes marciais, se mostrou tão admirador de Yeoh que a motivou a continuar na carreira.

Curiosamente, em 2022, a atriz afirmou que gostaria de ter participado do filme “Kill Bill - Volume 1” (2003), mas que na época Quentin Tarantino a recusou com o argumento de que não seria crível para os espectadores que ela apanhasse de Uma Thurman. “Já perguntei ao Quentin por que ele não me chamou pro filme. Ele é muito inteligente, e disse: ‘Quem acreditaria que a Uma Thurman consegue acabar com você?’”, disse ela em entrevista à Variety.





Seu primeiro grande papel em Hollywood foi conquistado em 1997, quando interpretou Wai Lin no filme “007: O Amanhã Nunca Morre”, enquanto o agente secreto era interpretado por Pierce Brosnan. Com este filme, novas ofertas surgiram, mas com o passar do tempo Michelle Yeoh foi restringindo os projetos que aceitava participar, ficando sem papéis em Hollywood por três anos por não querer dar vida a personagens que estereotipassem as mulheres e/ou a comunidade asiática.

Em 2000, aceitou ser uma das protagonistas de “O Tigre e o Dragão”, dirigido por Ang Lee, filme que foi indicado a seis categorias do Oscar e vencedor de quatro delas. Desde então, tem participado de diversos projetos, como “Memórias de uma Gueixa” (2005), “A Múmia: Tumba do Imperador Dragão” (2008), “Kung Fu Panda 2” (2011), Guardiões da Galáxia Vol.2” (2017), “Podres de Ricos” (2018) e "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” (2021).

“Podres de Ricos”, inclusive, fez tanto sucesso nos Estados Unidos, que foi feita uma campanha para que Michelle Yeoh fosse indicada a um Oscar, o que não chegou a acontecer, “Mas talvez uma semente tenha sido plantada”, disse Kevin Kwan, autor do livro que inspirou o filme, à revista Time.





Desde então, tem acumulado outros projetos grandes, como a série “Star Trek: Discovery”, e a dublagem de Master Chow em “Minions 2: A Origem de Gru” (2022), até chegar a “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, filme pelo qual já recebeu um Globo de Ouro e foi indicada ao Oscar de “Melhor Atriz”.

“Levou um bom tempo, mas acho que isso vai além de mim”, disse Yeoh ao The Hollywood Reporter na terça-feira depois que as indicações foram anunciadas. “Já pensei sobre isso, e não sou só eu. Acredito que toda a comunidade asiática tem pensado sobre isso. Atual e constantemente, a todo momento, ter asiáticos chegando e dizendo ‘Você consegue, está fazendo isso por nós’, para mim, é tipo: ‘Eu entendo. Entendo completamente’. Por todo esse tempo, eles não foram reconhecidos e nem ouvidos”, completou.
 
 
 
A atriz, que em 2022 foi nomeada Ícone do Ano pela revista Times em 2022, ainda tem muitos projetos na agenda. Em dezembro estreou na minissérie “The Witcher: Blood Origin”, na qual interpreta uma das personagens principais, e está confirmada na adaptação dos livros de Agatha Christie dirigidos por Kenneth Branagh, além de participar de “Transformers: O Despertar das Feras”, previstos para lançamento ainda em 2023.





A partir de 2024, também já há garantias: ela será uma das novas personagens dos próximos filmes da franquia de “Avatar” – 3, 4 e 5 –, nos quais interpretará a cientista humana Karina Mogue, e estreará como a protagonista de “Malvadas”, adaptação de um grande musical da Broadway.
 

Ouça e acompanhe as edições do podcast DiversEM




podcast DiversEM é uma produção quinzenal dedicada ao debate plural, aberto, com diferentes vozes e que convida o ouvinte para pensar além do convencional. Cada episódio é uma oportunidade para conhecer novos temas ou se aprofundar em assuntos relevantes, sempre com o olhar único e apurado de nossos convidados.