Jornal Estado de Minas

EMPREENDEDORISMO

Minas: 89% dos empreendedores nas favelas trabalham sozinhos


Um estudo feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Minas em parceria com o Data Favela/Instituto Locomotiva mostrou o perfil dos empreendedores e negócios das comunidades mineiras. A pesquisa “Empreendedorismo nas favelas de Minas Gerais” foi feita entre setembro e novembro de 2022 com 1.004 empreendedores de comunidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte, de Araçuaí, Montes Claros, Araguari e Congonhas.





De acordo com o relatório, entre os empreendedores das favelas mineiras, 87% são de baixa renda (classes CDE), 73% são negros e 53% cursaram até o ensino fundamental. Para uma grande parcela deles, os negócios começaram por necessidade e são essenciais para compor a renda domiciliar. Boa parte dos empreendedores são informais e, entre os formalizados, a maioria é microempreendedor individual (MEI).

A pesquisa também revela que o setor de serviços é o mais representativo nas favelas, com 37%, seguido pelo comércio (31%) e a produção e comercialização de bens artesanais (23%). Entre as principais áreas de atuação, estão: alimentação e bebidas (24%); beleza e estética (14%); e vestuário e acessórios (10%).

Grande parte dos empreendedores atuam sozinhos – apenas 11% têm funcionários e, desses, 93% possuem apenas um funcionário; 88% empregam pessoas da própria comunidade; e 46% contratam informalmente. 

Os morros e os empreendimentos

Em Minas Gerais, 3% dos domicílios do estado estão localizados em favelas, correspondendo a mais de 231 mil moradias na capital e em cidades do interior. Em Belo Horizonte, mais de 12% das habitações estão nessas localidades, de acordo com o Intituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).





O estudo “Empreendedorismo nas favelas de Minas Gerais” foi realizado nas comunidades de Belo Horizonte (Aglomerado da Serra, Alto Vera Cruz, Conjunto Taquaril, Morro Alto e Nova Contagem), Araçuaí (Calhauzinho), Montes Claros (Bairro Cidade Conferência Cristo Rei), Araguari (Bela Suíça – I, II e II, Independência, São Sebastião, Monte Moria e Vieno) e Congonhas (Residencial Gualter Monteiro).

perfil dos empreendedores das favelas mineiras é, majoritariamente, maior de 30 anos (83%), masculino (72%), negro (73%), chefe de família (61%) e apenas com ensino fundamental completo (58%). Grande parte dos entrevistados (91%) têm empreendimentos na própria comunidade onde residem, sendo 41% deles funcionando em um ponto comercial; 26% na própria residência; e 18% na rua.

Sobre prós e contras de empreender e não ter a carteira assinada, 46% dos entrevistados afirmam que ser seu próprio chefe é a principal vantagem de empreender e 35% dizem que a flexibilidade de horário também é interessante. No entanto, entre os pontos desfavoráveis estão não poder ter um salário fixo (44%) e não ter acesso a benefícios como vale refeição/alimentação, transporte e plano de saúde.





O estudo também aponta que metade dos empreendedores das comunidades mineiras começou a empreender por necessidade, e 45% abriram o negócio por enxergar uma oportunidade no mercado. Para 90% deles, seus negócios são essenciais para compor a renda domiciliar e o faturamento representa ao menos metade da renda da casa.

Apesar da importância do negócio para a renda em casa, 69% dos empreendedores das comunidades são informais. Entre os 31% dos formalizados, a maioria (79%) são microempreendedores individuais (MEI). Para o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Marcelo Souza e Silva, quanto mais vulnerável o empreendedor, menor tende a ser sua taxa de formalização. “Vimos uma proporção de formalização maior do que a média entre os empreendedores mais escolarizados, com maior renda e não negros, que têm faturamento mensal acima de R$ 2 mil e que moram na capital mineira ou na Região Metropolitana”, afirma ele.

“Mas também é importante lembrar que o estado conta com quase 2 milhões de empreendedores, que movimentam mais de R$ 84 bilhões por ano. Somente os empreendedores de menor renda injetam mais de R$ 30 bilhões anualmente na economia do estado”, complementa Marcelo Souza e Silva.  

Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva e fundador do Data Favela, diz que, apesar de muitos dos empreendedores terem começado a empreender por conta de oportunidades, outros tiveram a necessidade disso para complementar a renda de casa. “A maioria ainda não se enxerga como empreendedor, imaginam que o termo se refere somente a negócios mais estruturados, com maior faturamento e clientela”, explica.





Crescimento na pandemia

Logo no início do período de pandemia da COVID-19 em 2020, o Brasil registrou o maior número de empreendedores de sua história. Nos nove primeiros meses daquele ano, o número de microempreendedores individuais (MEIs) no país cresceu 14,8% na comparação com o mesmo período de 2019, chegando a 10,9 milhões de registros.

Impulsionados pela crise gerada pelo coronavírus, os brasileiros procuraram no empreendedorismo uma alternativa de renda. Uma estimativa feita na época pelo Sebrae mostrou que aproximadamente 25% da população adulta estaria envolvida na abertura de um novo negócio ou com uma empresa com até 3,5 anos de atividade.

“Diante da situação econômica do país agravada pela pandemia, muitos trabalhadores ficaram desempregados ou tiveram dificuldades de recolocação no mercado, impactando diretamente na redução da renda familiar. Foi justamente no empreendedorismo, mesmo que sem muito planejamento, que homens e mulheres encontraram uma alternativa de ocupação e renda. Uma realidade vivenciada tanto por empreendedores da capital como também do interior do estado”, explica Marcelo Souza e Silva.





Para Carlos Melles, presidente nacional do Sebrae, "o desemprego está levando as pessoas a se tornarem empreendedoras. Não por vocação genuína, mas pela necessidade de sobrevivência".

Incentivo ao empreendedorismo

A pesquisa “Empreendedorismo nas favelas de Minas Gerais” faz parte das ações do programa “Comunidade Empreendedora”, uma iniciativa do Sebrae Minas para impulsionar a competitividade dos pequenos negócios das favelas mineiras, ampliando o desenvolvimento local por meio da geração de emprego e renda.

“Nosso objetivo é melhorar a gestão desses empreendimentos, estimulando a cooperação, criatividade e protagonismo dos empreendedores locais, oferecendo qualidade de vida aos moradores das comunidades e gerando novas oportunidades de negócios”, justifica o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas.





O próximo passo do programa será a realização de um diagnóstico sobre a maturidade dos empreendimentos das comunidades para a criação de um plano de ação, que inclui capacitações individuais e coletivas sobre gestão empresarial.

Inicialmente, o projeto vai ser implementado nas comunidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte e deverá se estender para outras favelas do interior do estado.
 

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