Jornal Estado de Minas

AFROEMPREENDEDORISMO

Projeto leva empreendedores negros para o Vale do Silício



Jovens empreendedores pretos de todo o Brasil têm até o dia 27 de fevereiro para se inscrever no projeto “Do Silêncio ao Silício”, que tem como objetivo conectar a periferia ao maior polo de inovação do mundo, o Vale do Silício, no estado norte-americano da Califórnia. Serão selecionados dez participantes que possuam um negócio já validado, ativo e com base tecnológica em qualquer segmento, para embarcar neste ano rumo ao Vale.





“O 'Do Silêncio ao Silício' teve o nome inspirado no que Monique Evelle, empresária e ativista, chama de Vale do Silêncio, ou seja, as zonas suburbanas. Isso, no entanto, não significa que esses espaços estão silenciosos e que não há inovação por ali: na verdade, essas pessoas são silenciadas, apagadas quando o assunto é tecnologia”, afirma Danielle Marques, idealizadora do projeto, administradora e especialista em Diversidade e Inclusão para startups.

Os selecionados participarão de uma imersão ao longo de uma semana, com visitas aos polos das principais empresas de tecnologia do mundo. Também participarão de palestras e workshops sobre novas estratégias, modelos de negócio disruptivos, tendências do mercado de trabalho e formas de gestão inovadoras para o desenvolvimento das suas carreiras como empreendedores. 

Todos os participantes terão a oportunidade de se conectarem com altos executivos e players americanos, com potencial de negócios e parcerias internacionais, além de receber certificado internacional pelo hub internacional StartSe University, situado em Palo Alto. Ao retornarem, os selecionados deverão ter disponibilidade para mentorear um empreendedor periférico, a fim de retornar o conhecimento para sua comunidade.




Correndo atrás da diversidade

Nascida e criada em Ribeirão Preto, Danielle Marques foi incentivada pelos pais a valorizar a educação. Ela conta que isso a tornou uma pessoa criativa, resiliente e comunicativa, iniciando no mercado de trabalho aos 16 anos como jovem aprendiz. Anos mais tarde, ao ingressar na faculdade de administração, aprendeu sobre afroempreendedorismo.

“Comecei a pesquisar sobre afroempreendedorismo e percebi que várias pessoas ao meu redor eram empreendedoras, mas diferente do que eu vi nas universidades, elas não tinham acesso e oportunidade para criar seus negócios, era muito por sobrevivência. Aí eu fiquei muito indignada que o conhecimento da universidade não chegava na periferia”, conta Danielle.

A partir de então, a administradora começou a criar e participar de feiras e eventos focados na população negra. O objetivo era entender como poderia desenvolver soluções para transferir o conhecimento da universidade para dentro da comunidade que vivia de uma forma que fosse acessível.




Em 2022, participou do programa de imersão da StartSe no Vale do Silício, no qual era a única mulher negra em aproximadamente 70 pessoas. Danielle então percebeu que, apesar de se falar muito sobre diversidade, a mesma era mais cultural do que racial ou de gênero.

“Para mim, o vale do silício foi sobre oportunidade, sobre entender que eu poderia e tinha o direito de acessar um lugar daquele e que a partir dali eu poderia fazer o que eu quisesse”, afirma Danielle.

Outro ponto que chamou a atenção da administradora foi a identificação que muitas das inovações desenvolvidas são, na verdade, um processo de automatização. Por exemplo, um robô que passa na porta das casas vendendo fruta, faz o mesmo trabalho que um homem na periferia que vai de casa em casa vendendo frutas. Danielle afirma que a diferença da periferia para o vale do silício é que eles conseguiram automatizar esse processo. 

A experiência foi tão transformadora, que Danielle voltou para o Brasil com o objetivo de proporcionar a mesma experiência para outras pessoas que também fossem pretas e periféricas. 

“As inovações que acontecem dentro da periferia acontecem no vale do silício, a gente também tá criando, só que dentro da periferia a gente cria para sobreviver, e fora dela as pessoas criam porque tem oportunidade para isso. Se a gente tivesse acesso à capital como o Vale do Silício, a gente também teria condições de criar soluções grandiosas e globais”, afirma.   


Serviço
“Do Silêncio ao Silício”
Período de inscrição: até dia 27 de fevereiro
Inscrições através do link: www.dosilencioaosilicio.com.br





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