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Estado de Minas ESTEREÓTIPOS

'Arigatô': Reserva é acusada de racismo e apropriação cultural em coleção

Repercussão nas redes sociais não resultou em pronunciamento, mas marca abandonou a proposta inicial, que dizia ser inspirada na cultura japonesa


29/03/2023 17:11 - atualizado 29/03/2023 17:11

Montagem com duas fotos de divulgação da Reversa. À esquerda, há duas mulheres brancas lado a lado, entre elas, a logo da Reversa e o título 'Arigatô'. À direita, a modelo branca anda entre outros três modelos amarelos, que aparecem em segundo plano e desfocados.
Reversa, linha feminina da Reserva, é acusada de apropriação cultural e racismo (foto: Reversa/Divulgação)
Na semana passada, a Reserva, marca de roupas carioca, foi acusada de apropriação cultural e racismo em sua nova coleção feminina, que recebeu o nome, a princípio, de “Arigatô: uma saudação ao Japão”. A proposta era ter inspiração na cultura japonesa, mas modelos amarelos (descendentes leste-asiáticos) não apareceram nas fotos do site e ficaram em segundo plano nas imagens de divulgação publicadas nas redes sociais.

Com um histórico problemático envolvendo dois casos relativamente recentes de racismo com manequins pretos, a Reserva fez as fotos da campanha no Bairro da Liberdade, em São Paulo (SP), conhecido pela forte presença da cultura japonesa, mas não deu protagonismo a quem dizia homenagear. Nas redes sociais, o caso repercutiu negativamente e fez a marca alterar o direcionamento da divulgação da coleção, mas não houve pronunciamento da empresa.

“Se nem as modelos protagonistas [da campanha] eram amarelas, imaginem quantas outras pessoas amarelas devem ter sido chamadas para esse projeto (maquiadora, estilista, pesquisadora…)”, escreveu uma internauta nas redes sociais. “E a gente fica realmente ‘servindo de enfeite’, algo que é bonito só de longe, nunca sendo realmente o foco”, respondeu outra.
 

Representação

A criadora de conteúdo Bruna Tukamoto publicou um vídeo falando sobre as problemáticas da campanha, relembrando, também, o caso da Arezzo, que escalou a ex-BBB Jade Picon para estampar os materiais promocionais de uma sandália que remete à ancestralidade africana. “O sentimento é basicamente o mesmo, a gente não se vê representado numa coleção que é, teoricamente, uma homenagem para a gente”, disse ela.

 
“Fazem de propósito, assim como a Arezzo, para gerar burburinho e vender mais. Como sempre, essas culturas ‘exóticas’ sendo exploradas”, comentou uma usuária do Instagram. “Amam usar a cultura japonesa para ganhar dinheiro, mas respeitar…[não]”, complementou outra.

Outro ponto levantado pelos internautas foi a reprodução de estereótipos relacionados à cultura japonesa, que distanciam nipo-brasileiros (descendentes de japoneses nascidos no Brasil) da sensação de pertencimento ao país. “O próprio nome da coleção, Arigatô, reforça a ideia de estrangeirismo sobre nós. É uma das palavras que mais escutamos durante a nossa vida, até de pessoas que não conhecemos”, explica Bruna.

No banner da campanha exposto no site da marca, também era possível ler “Contemporânea, moderna e igualmente tradicional, a estética da coleção Arigatô visita elementos icônicos. Carpas, leques, flores e dragões aparecem pintados a mão ou estampados por meio de técnicas orientais milenares”. Em um comentário, um usuário do Instagram comentou que “os elementos para ‘homenagear’ são os mais estereotipados possíveis”.

“[A Reserva é] uma marca de qualidade, porém falta muito embasamento nas campanhas deles. Acho que a equipe de marketing, designers e direção deveriam estudar mais para as campanhas. Estamos em 2023 e é um tipo de coisa que não deveriam mais pecar”, escreveu outro.
 

Consultoria

Apesar dos comentários apontando uma suposta falta de consultoria, a Reserva afirma nas publicações sobre a coleção que houve um trabalho conjunto com o Instituto Cultural Brasil-Japão mostrando, inclusive, parte do processo criativo das estamparias.

 
“O Instituto Brasil-Japão nos orientou e acompanhou pessoalmente durante todo o processo de criação e desenvolvimento da coleção com o objetivo de nos instruir e certificar que tudo estaria sendo verdadeiramente alinhado aos valores ‘orientais’”, disse Ivana Veríssimo em uma publicação no perfil da Reversa, linha feminina da Reserva.

Em atualizações recentes, a marca retirou o nome “Arigatô” da campanha no site substituindo por outras categorias, além de incluir fotos de uma modelo amarela para a exibição de alguns dos produtos.

 
Em um movimento contrário à campanha da Reserva, internautas começaram a indicar marcas independentes de pessoas amarelas nas redes sociais.



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