Um servidor público de 43 anos afirma ter sido vítima de injúria racial na churrascaria Fogo de Chão, em Brasília (DF), na última quinta-feira (6/4). Gilberto Martins estava com colegas de trabalho em uma confraternização quando percebeu que, em sua comanda, um dos funcionários do estabelecimento escreveu “preto” para identificá-lo.
Assim que percebeu a palavra, escrita em tinta azul, o servidor público questionou um dos funcionários que, nervoso, afirmou se tratar da cor da camisa que usava, apesar de estar vestindo cinza.
“Eu chamei o garçom e ele ficou muito nervoso. Disse que não sabia quem tinha escrito aquilo, mas achava que tinha sido uma referência à minha camisa, mas a minha blusa era cinza. E se fosse realmente uma referência a ela, não deveria estar escrito com a palavra no feminino? Por que não estava escrito a cor da camisa na comanda de mais ninguém?”, questionou Gilberto.
Ao site Metrópoles, a vítima disse ter se conformado com a explicação no momento para não atrapalhar a confraternização, mas assim que chegou em casa, percebeu que devia ter reagido ao pensar em seus filhos.
“Não sabia sequer como reagir. No primeiro momento, o que pensei foi: não vou estragar a noite dos meus amigos com tantos questionamentos, deixa isso para lá. Paguei a conta e fomos embora. Quando estava voltando para casa, fiquei com aquilo martelando na cabeça. Fiquei muito triste, angustiado, comecei a pensar nos meus filhos. Tenho um casal de filhos, negros. Fiquei pensando: será que meus filhos vão ter que passar por isso?", declarou.
No dia seguinte, Gilberto foi até a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (DECRIN) em busca de orientações sobre o que fazer a respeito do caso. Foi instruído a registrar um boletim de ocorrência de injúria racial e assim o fez.
O servidor público conta que foi procurado por um funcionário da unidade em questão restaurante. “Quando ele me ligou, o absurdo maior foi ele ter me dito o seguinte: que essa situação era muito absurda e que isso era impossível de ter acontecido porque eles não usam caneta de tinta azul no estabelecimento”, afirmou.
Um representante nacional pela franquia chegou a entrar em contato com Gilberto, afirmando que os responsáveis foram identificados e serão punidos.
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga a denúncia e o suposto autor do ato será ouvido nesta quinta-feira (13/4) pela DECRIN.
O que diz a Fogo de Chão
Em nota, a churrascaria Fogo de Chão informou que a empresa não apoia “nenhuma forma de discriminação ou sequer a percepção da mesma”, possuindo “uma política rígida e que repudia veementemente todo e qualquer ato discriminatório”.
O restaurante também garantiu que “medidas internas cabíveis ao caso já foram providenciadas, tal como o reforço do nosso programa de treinamento a todos os colaboradores da rede”. Afirmou, também, que a empresa pauta o “fomento da diversidade, respeito aos direitos humanos e incentivo ao desenvolvimento das pessoas”, lamentando que a vítima tenha se ofendido.
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