Jornal Estado de Minas

SUL DE MINAS

Artesã cria bonecas inclusivas e linha com personagens regionais

Crianças podem encontrar em brinquedos uma forma de se identificar com o mundo. Essa é a ideia da artesã Inês Machado ao criar uma linha de bonecas inclusivas que representam crianças negras, albinas, com autismo, síndrome de Down e deficientes. Ela mora e trabalha em Pouso Alegre, no Sul de Minas.





A inspiração veio da sobrinha albina e dois sobrinhos autistas. "Meus sobrinhos gostam muito de brinquedo molinho. E eles não têm como ser representados quando saem para algum lugar, pois o autismo não tem cara. Falei para minha irmã, que tal criar um boneco do autismo para ele? Deu certo, fiz o boneco e ele leva quando sai e agora as pessoas percebem que ele tem autismo."

Brinquedos da Turminha do Autismo usam roupas com desenho e cores que simbolizam o Espectro Autista (foto: Terra do Mandu)
Apaixonada por bonecas desde a infância, Inês começou a fabricação há sete anos, por hobby. "Na infância eu tinha vontade de ter aqueles bebezões e eram muito caros. Sempre gostei de boneca e um dia falei que ia comprar uma máquina e iria fazer. Comprei a máquina e comecei a fazer bonecos para o meu filho, com macacão de bebê dele."

Estilos e identificação


Inês participa do Programa de Gestão do Artesanato (Progeart) e faz bonecas humanizadas, tradicionais e inclusivas. "Criei a boneca deficiente física para brincar, tirar e colocar a prótese e se ver no brinquedo e vou fazer outros modelos como a de óculos."





O objetivo é ajudar as crianças a se relacionarem com o mundo "de forma lúdica, divertida e representadas no brinquedo".

Durante o curso o instrutor descobriu o talento para as bonecas inclusivas, um nicho de mercado ainda novo.

"O projeto fez a gente sair da caixinha, fazer um trabalho de identidade e puxar o artesanato na raiz. Criei meus moldes e pesquisei histórias de Pouso Alegre para criar bonecos representando a minha cidade e com identidade minha."

Assim surgiu a linha de bonecos inspirados em pessoas conhecidas e atuantes no Sul de Minas, como o maratonista pousoalegrense Sebastião Cezário, conhecido como Tião da Zica.

O atleta que participou de eventos esportivos como a Corrida Internacional de São Silvestre, em São Paulo (SP), morreu em 2015.





"Ele era casado com minha tia e gostava muito de criança. Ele tinha o sonho de criar uma horta comunitária para ajudar crianças carentes. E hoje tem uma creche que leva o nome dele e tem uma horta lá."

Devido ao sonho do tio, Inês aperfeiçoou o protótipo do boneco e quis acrescentar ao brinquedo sementes de hortifrúti. O objetivo é incentivar crianças a plantarem e se alimentarem de forma saudável, como Tião sonhava.

"Fiz o boneco voltado para minha linha infantil. Criei o Tiãozinho da Zica."

A bailarina Vitória Bueno, de Santa Rita do Sapucaí, é conhecida mundialmente e inspirou uma boneca. A adolescente de 18 anos nasceu sem os braços, devido a uma má formação congênita.





Ela emociona jurados e público ao participar do maior show de talentos do mundo, o American's Got Talent, em janeiro.

"Vi a história de superação de Vitória, me apaixonei. No outro dia sentei na máquina e saiu uma boneca que representa ela, é uma homenagem", conta a artesã.

Uma das linhas representa produtores de morango, idosos e com modelos, surpresa que serão lançados na feira da Progeart, em junho. Inês valoriza o artesanato colaborativo, a paixão por bonecas e quer fazer crianças felizes ao encontrarem a personalidade delas ou de pessoas da região, retratada em brinquedos.

(Nayara Andery/ Especial para o EM.)

Bonecas feitas por artesã são voltadas para crianças com autismo, deficiência física, síndrome de Down e inclusão (foto: Terra do Mandu)