Lisboa — A família do brasileiro Jefferson Tenório, 29 anos, agredido brutalmente há pouco mais de uma semana por seguranças do bar Titanic, em Lisboa, está recebendo uma série de ameaças. A maior parte das mensagens diz para o rapaz abrir mão de pedir as imagens do dia da agressão, pois as consequências serão pesadas.
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Os últimos dias foram pesados para o alagoano Jefferson e o namorado dele, Luiz Almeida, 30, do Ceará, também vítima da violência. Os dois foram obrigados a sair de Lisboa para tentar se recompor dos traumas causados pela agressão. Desde então, enquanto alternam idas ao hospital e depoimentos à Polícia de Segurança Pública (PSP), os dois têm se submetido a sessões com psicólogos para recompor o emocional.
“É muito difícil passar por uma violência como a que enfrentamos. Nos sentimos frágeis e desamparados. Por pouco, o Jefferson não morreu afogado, pois os seguranças do Titanic o agrediram com socos e pontapés dentro do rio Tejo, que passa nos fundos do bar. Eles tentaram afogá-lo”, frisa Luís.
Jefferson conta que já constituiu advogados para levar o caso adiante. Segundo ele, todas as provas da agressão que quase lhe tirou a vida estão sendo levantadas e vão levar os responsáveis à prisão. “Vamos responsabilizar todos os envolvidos na violência, pedir condenação e indenização por tudo o que eu e o Luís estamos passando”, ressalta.
O namorado dele acrescenta que, além dos próprios advogados, os dois têm recebido amplo apoio do Consulado do Brasil em Lisboa, sobretudo na área jurídica. “O certo é que vamos nos posicionar sem medo, até para ajudar outros brasileiros que têm sido vítimas do mesmo tipo de violência ou de algo pior”, assinala Jefferson.
Estatuto de igualdade
Os dois rapazes chamam a atenção para a necessidade de os brasileiros que vivem em Portugal terem o mesmo tratamento dado a portugueses por parte das forças de segurança. No dia da agressão, que começou depois que Luís tentou entrar novamente no bar para ir ao banheiro, os agentes que atenderam a ocorrência não deixaram as vítimas darem a sua versão para o caso.
Prevaleceu sempre a voz dos agressores — um deles, inclusive, também deu um soco na cara da prima de Luís, Cinara, que mora na Itália e estava em Lisboa a passeio. Agora, o processo de investigação está sendo conduzido por outra delegacia, para não haver contaminação no inquérito e dar a real voz a todos os lados.
“Há um estatuto de igualdade assinado entre Brasil e Portugal, que garante direitos e deveres a brasileiros e portugueses nos dois países. Então, isso deve prevalecer. Pelo que vemos até hoje, na maioria das vezes, esse estatuto de igualdade não está valendo”, diz Jefferson. “Peço às autoridades brasileiras e portuguesas que façam o possível para que o estatuto de igualdade seja seguido à risca. Não pode ficar apenas no papel”, destaca.
Segundo Luís, nenhum caso de violência, de desrespeito aos direitos humanos, pode ficar sem resposta para não prevalecer a sensação de impunidade junto à população. “Queremos justiça, e vamos fazer de tudo para que o nosso caso não caia no esquecimento”, reforça Jefferson.
A violência contra os dois brasileiros ocorreu na madrugada de 22 de maio. Os dois e a prima de Luís decidiram encerrar um dia de muita alegria no Titanic, que fica no Cais do Sodré, região central de Lisboa. Divertiram-se um bocado no bar até às 3h da manhã, quando decidiram ir para casa. Logo na saída, Jefferson voltou para usar o banheiro.
Luís, que já estava do lado de fora, tentou entrar no estabelecimento para também ir ao toilete, mas foi barrado e empurrado por um segurança. A partir daí, uma simples discussão descambou para uma agressão desmedida contra os rapazes, a ponto de um deles quase perder a vida.