Jornal Estado de Minas

MÊS DO ORGULHO

Quem é Gisella Lima, primeira mulher trans a assumir diretoria LGBT da PBH

A Diretoria de Políticas para a População LGBT da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) tem, pela primeira vez desde a sua criação em 2017, uma mulher trans no comando. Gisella Lima, que é ativista do movimento LGBTQIAPN+ há pelo menos duas décadas e atua na defesa dos Direitos Humanos há mais de 17 anos, assumiu a Diretoria oficialmente em 25 de abril deste ano, mas teve uma cerimônia de posse popular no último sábado (3/6), celebrando simbolicamente no mês em que se comemora o Orgulho LGBTQIAPN .





"Assumir este cargo é um marco histórico na cidade de Belo Horizonte. É um lugar desafiador e de total comprometimento. A Diretoria já existia antes da minha chegada, mas ter a direção pela primeira vez de uma pessoa trans é muito importante para que as pessoas LGBTQIAPN consigam se reconhecer na gestão da sua cidade”, afirma Gisella

“Meu objetivo como gestora não será de caminhar isolada. Uma das nossas prioridades é aproximar a diretoria da população e dos movimentos sociais. Fazer com que a população também participe das construções de políticas públicas e abrir um espaço de diálogo", completa.

Apesar de ter começado sua carreira pública, de fato, ao assumir a Diretoria na PBH, Gisella tem um histórico extenso envolvendo trabalhos sociais nos âmbitos municipal e estadual em organizações não governamentais (ONGs) e na administração pública, tendo destaque em conselhos, comitês e organização de eventos. Ela já foi conselheira dos Direitos da Mulher e integrante do Comitê Técnico de Saúde Integral LGBT do Estado de Minas Gerais, colaborando na criação do Ambulatório Trans, que tem como prioridade o atendimento do processo de transsexualização.

“Estar aqui é fruto de muitos trabalhos de lideranças, de referências com as quais eu já trabalhei dentro das pautas de direitos humanos, com alguns recortes, como o movimento LGBTQIAPN, o movimento negro, a interseccionalidade destes dois, o feminismo e o transfeminismo”, explica Gisella.





A ativista também afirma que seu pioneirismo no cargo está acompanhado de muita responsabilidade – e representatividade.

“Para mim, é uma questão de responsabilidade, porque tem uma população que acredita em mim, então isso me deixa com ainda mais responsabilidades. Reconheço a importância de estar à frente, até porque eu trago vivências que podem servir de exemplo para pensar em políticas públicas mais próximas da realidade”, conta a diretora.

"Muitas vezes é necessário causar esse incômodo entre pessoas conservadores e preconceituosas. Mas não quero ser uma caminhada isolada, e sim coletiva. Posso ser a primeira, mas não posso ser a última. A sociedade precisa se acostumar com a gente nesses espaços", complementa ela.

A posse popular

Gisella conta que a posse popular que ocorreu no último sábado já era uma vontade desde que assumiu o cargo de diretora. Para ela, que é ativista há cerca de 20 anos, o movimento social tem papel importante no direcionamento do poder público.





“Era um desejo meu me apresentar para a sociedade e abrir esse diálogo. O mérito é do movimento social, que organizou isso na figura do Cellos-MG (Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais), uma instituição que tem o respaldo e um compromisso sociais e entende que é importante chamar outras instituições, outras lideranças, outras instâncias de poder para demarcar esse espaço e esse momento, afinal todo poder emana do povo”, conta ela.

“Meu ativismo partiu, primeiro, do princípio pessoal, compreendendo e buscando referências de luta por sofrer na pele a transfobia e o racismo. Quando percebi que havia um movimento em que se discutia, ainda que em espaços diferentes, todas essas questões, senti a necessidade de me organizar. Eu não estou sozinha no mundo, há pessoas organizadas discutindo com muita propriedade o combate a esses preconceitos”, completou Gisella.

Antes da posse, o Cellos-MG declarou que “a nomeação de Gisella significa o protagonismo popular e uma reparação histórica no poder público de Belo Horizonte. É uma dupla conquista: de Gisella e do movimento social. Com isso, queremos estreitar as relações, ampliar as políticas públicas e abrir novos caminhos”.





Ações na Diretoria

Como diretora de Políticas para População LGBT, Gisella pretende fortalecer os equipamentos voltados para essa comunidade já existentes em Belo Horizonte e torná-los cada vez mais acessíveis à sociedade. Também pretende investir em políticas de afirmação e incentivar o diálogo com a população civil, sendo a ponte entre ela e o poder público.

“A gente ainda não tem um conselho LGBT, mas temos outros espaços respaldados institucionalmente para fazermos esse espaço de escuta e de participação cidadã. É nítido, por exemplo, que pessoas trans estão em desvantagem com relação à escolaridade, emprego, renda, cultura e lazer. Nossa vontade é erradicar de vez , mas nosso trabalho é impactar a médio e longo prazo", disse Gisella.

Um levantamento interno será feito para identificar onde há ausência de profissionais LGBTQIAPN nas demais secretarias do município.

A Diretoria

A Diretoria de Políticas para a População LGBT é um órgão da PBH que compõe o organograma da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania (SMASAC). Seus objetivos estratégicos envolvem a elaboração e a implementação de políticas públicas que busquem combater a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero e promovam e garantam os direitos humanos e a cidadania da comunidade LGBTQIAPN no município.





O Decreto 16.580/2017 criou a Coordenadoria dos Direitos da População LGBT, e reconheceu o Centro de Referência LGBT enquanto equipamento público constante na estrutura da Prefeitura de BH. Na reforma administrativa de 2017, as Coordenadorias vinculadas à pasta de Direitos Humanos assumiram status de Diretorias, passando a chamar Diretoria de Políticas para População LGBT.
 

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