A diretoria de uma escola infantil no centro de São Paulo registrou um boletim de ocorrência por ameaça depois que o entorno da unidade foi pichado com ataques e frases racistas. No último dia 10, postes ao redor da Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Monteiro Lobato foram pintados com mensagens como "viva voz é coisa de macaco" e "música, se eu escolho você morre".
As frases acompanhavam o desenho de um alto-falante cortado por um X. Entre pais de alunos, surgiu a suspeita de que algum morador do bairro tenha feito as pichações, incomodado com o barulho do recreio das crianças ou de alguma atividade promovida no local - professores costumam ensinar cantigas e instrumentos tradicionais brasileiros para os estudantes.
"Eu acho que o cidadão que fez isso está incomodado com a presença de crianças e pais negros, gente de outras classes sociais frequentando o bairro", afirma o músico Thiago França, que tem uma filha matriculada na escola. A unidade fica no parque Buenos Aires, em Higienópolis.
Procurada, a Secretaria Municipal de Educação confirmou o registro da ocorrência no 4º DP (Consolação), mas disse que não há provas de que as pichações foram direcionadas à escola. "Escola sem educação, escola sem respeito, escola sem noção" e "pedagogia da violência" estão entre as mensagens deixadas nos postes.
A Secretária de Segurança Pública do governo estadual confirmou que o caso está sendo investigado.
A diretora da Emei, Maria Cláudia Fernandes, conta que depois do episódio uma viatura da GCM (Guarda Civil Metropolitana) começou a fazer a segurança da escola durante o período de aulas. "A gente não tem clareza de onde vem o ataque", disse.
Além de comunicar a diretoria de ensino, Fernandes diz que solicitou à Polícia Civil acesso às imagens de câmeras de segurança de um prédio vizinho, que podem ter registrado o momento em que os postes foram pichados. Ainda segundo a diretora, a administração do condomínio forneceu um relatório da equipe de segurança, segundo o qual o autor das mensagens seria um "homem aparentemente idoso".
Professores, pais e alunos devem realizar uma manifestação em frente à escola na próxima quinta-feira (22). O grupo também tenta mobilizar moradores e comerciantes do bairro. "Acho que no mínimo essa pessoa tem que entender que ela está sozinha, ou pelo menos muito pouco amparada nas opiniões dela", disse França.
A mobilização prevê uma caminhada com cartazes e a limpeza e decoração dos postes depredados com desenhos feitos pelos alunos. Fundada em 1952, a Emei Monteiro Lobato atende hoje 250 crianças de 4 a 6 anos.
Segundo a diretora, a unidade de ensino sofre ataques virtuais desde 2018. As intimidações teriam sido desencadeadas pela divulgação de um vídeo questionando a abordagem de temas como equidade de gênero em sala de aula. O material em questão foi produzido e publicado pelo pai de um aluno em redes sociais.
Em 2021, a diretora Fernandes denunciou as ameaças à Comissão de Educação, Cultura e Esportes da Câmara Municipal. Na ocasião, ela relatou ter recebido "ameaças por telefone, denúncia e visita da polícia civil à unidade e denúncia na Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos".
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