Um estudo recente revela que as ações de garimpo e invasões na Terra Indígena Yanomami, situada em Roraima, afetam 59% dos rios próximos às comunidades indígenas. A pesquisa, realizada pelo grupo Geo-Yanomami, composto por especialistas de várias instituições, incluindo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Universidade Veiga de Almeida, Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Amazonas (Ufam), juntamente com a InfoAmazonia, utilizou métodos de geoprocessamento e sensoriamento remoto para identificar as áreas mais prejudicadas pela ação dos garimpeiros desde 2015.
O estudo analisou aproximadamente 25 mil km de extensões de rios dentro do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) da região. Desses, cerca de 1.900 km possuem comunidades indígenas a uma distância de até 1 km das margens. Entre esses rios, 59% estão atualmente sob a influência do garimpo e invasões, com alta possibilidade de contaminação por mercúrio, concluíram os pesquisadores.
Diego Xavier, pesquisador da Fiocruz envolvido no estudo, esclarece que 'essa é uma estimativa conservadora'. Ele aponta que os indígenas transitam bastante pelo território para caça, pesca, agricultura e visitas a outras comunidades, o que pode ampliar o risco.
Os pesquisadores identificaram que aproximadamente 62% dos yanomamis residem em áreas de risco. Nathália Saldanha, antropóloga e pesquisadora da Fiocruz, sublinha que esses dados sugerem 'o extermínio progressivo desse povo'. A contaminação dos rios afeta todos os aspectos da vida dos indígenas, incluindo alimentação, sanidade, demografia e aspectos sociais.
Maurício Ye'kwana, diretor da Hutukara Associação Yanomami, relata que devido ao impacto das invasões, alguns indígenas são forçados a solicitar comida aos garimpeiros. 'Isso provoca a dispersão e a alteração da convivência comunitária: entram drogas, bebidas alcoólicas', explica.
Relatório recente da Comissão Pastoral da Terra indica que os indígenas representaram 38% dos homicídios em áreas rurais do Brasil em 2022, ressaltando a violência sofrida pela população yanomami.
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