Jornal Estado de Minas

MEMÓRIA E ATIVISMO

Livro celebra vida do ativista trans Paulo Vaz, morto em 2022


O fotógrafo e jornalista Lucas Ávila acaba de lançar o livro “Paulo Vaz, fragmentos”, que conta com fotografias e textos inéditos do ativista e influenciador trans Paulo Vaz, mais conhecido como Popo, morto em 2022. A obra foi editada de forma independente e terá o lucro das vendas revertido à Antra (Associação Brasileira de Travestis e Transexuais) e ao Ibrat (Instituto Brasileiro de Transmasculinidades).





A ideia do livro surgiu ainda em 2022, logo após o falecimento de Paulo Vaz. Lucas, que firmava uma amizade com o ativista desde 2017, estava viajando na época e não pôde estar presente no velório. “Não pude estar com a família dele e isso ficou na minha cabeça. Então, tive a ideia de fazer esse livro. Conversei com a irmã dele, a Carla, e ela adorou a ideia”, comenta.

O fotógrafo também conta que a realização do projeto também é a realização de um sonho do próprio Popo. “Há alguns anos ele falou que tinha vontade de escrever um livro sobre sua vida e doar os lucros para o IBRAT. Na época, brinquei: ‘Espera, pelo menos, até os 50 anos de idade, porque ninguém quer merece ler a biografia de uma pessoa de 30 anos’. Então, a gente está fazendo a vontade dele, ajudando a comunidade e preservando a sua memória”, explica.

Trajetória de Popo Vaz

Popo Vaz era ativista, influenciador e investigador da Polícia Civil. Nascido em Belo Horizonte, morava em São Paulo e era casado com Pedro HMC, do canal “Põe na Roda”. Juntos, eram um dos casais mais admirados da comunidade LGBTQIA+ e praticavam o ativismo contra a homofobia e a transfobia.




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“O livro foi feito com muito cuidado nesse sentido, sempre comunicando a família sobre o conteúdo. A gente mandou tudo para eles aprovarem e o livro foi feito com todo o apoio de todo mundo que estava ao redor dele”, explica Lucas Ávila.

O livro traz a breve história de Paulo Vaz contada por ele mesmo, além de depoimentos de sua irmã, Carla Vaz, do amigo Paulo Bevilacqua – artista plástico responsável pelo design gráfico da obra – e do poeta Bruno Santana – que fez a curadoria poética e visual do projeto –, ambos ativistas pelos direitos da população trans do Brasil.

As fotos presentes no livro foram tiradas ainda em 2017, em quatro ensaios diferentes, e muitas delas são inéditas, de quando Popo começava a ganhar mais visibilidade na internet. “Ele estava sem trabalho e tinha vontade de fazer coisas de modelo, até porque ele era um cara muito bonito. Ele acreditava que, sendo modelo, poderia passar a mensagem de aceitação da transexualidade masculina, que era e ainda é muito invisibilizada”, afirma o fotógrafo.





Com o crescimento de sua popularidade, Paulo começou a ser sondado por jornalistas e passou a compartilhar textos sobre sua vida com Lucas, que guardou os registros. “Na época, até um produtor do Altas Horas entrou em contato com ele, porque o Serginho Groisman queria conversar com um homem trans. Acabou que isso não foi para frente, mas fui guardando esses textos que ele me mandava perguntando se estava bom”, relata.

De acordo com o fotógrafo, o objetivo da obra é levar aos leitores uma imagem positiva e inspiradora de Popo; preservar sua memória; e contribuir com as associações que lutam pelo direito e pela vida das pessoas trans no Brasil.

“O Paulo sempre mostrou para a gente que ele era uma pessoa muito alegre, que transparecia muita vida. A morte trágica dele deixou uma imagem muito pesada, de desistência, de violência, que a gente não quer perpetuar”, afirma.





“Eu não gostaria de estar fazendo esse livro. É claro que eu preferia muito mais que ele estivesse vivo, entre a gente. Mas é importante que a gente ressignifique essa morte para quem fica. Ele era uma inspiração para muitos meninos que começavam a transição; e a gente quer preservar a memória dele desse jeito, do lado positivo, para que as pessoas possam carregar esse legado bom com elas”, completa.

Lançamento

Inicialmente, o livro foi lançado apenas de forma virtual. As vendas se iniciaram na segunda-feira (19/6) pelo site www.paulovazfragmentos.com.br, pelo preço de R$39,50.

Ainda há a intenção de se realizar uma ação presencial na praça que recebeu seu nome em Belo Horizonte – cidade onde nasceu –, no dia 30 de maio. A Praça 4274, situada entre a Rua União Estudantil e a Avenida Itaú, no Bairro Vila Trinta e Um de Março, passou a se chamar Praça Paulo Vaz após a aprovação do projeto da então vereadora Duda Salabert (PDT), sancionado pelo prefeito Fuad Noman (PSD).





“A gente ainda não começou a organizar esse evento, primeiro, porque eu estou aqui em BH, o Paulo Bevilacqua mora em Porto Alegre (RS) e o Bruno Santana em Salvador (BA) e, segundo, porque conversei com o assessor da Duda Salabert e ele disse que ainda vai demorar um tempo para instalarem a placa com o nome do Paulo Vaz”, diz Lucas Ávila.

A ideia para o evento é que, além do lançamento físico do livro, também haja diversas atrações para o público. “Quando a placa estiver lá, faremos um evento com música, homenagem, quem sabe até plantar uma árvore. Estamos pensando em várias coisas, mas ainda não temos nada certo”, explica.

Livro: Paulo Vaz, fragmentos
Fotografia: Lucas Ávila
Design gráfico: Paulo Bevilacqua
Curadoria artística: Bruno Santana
Páginas: 48
Preço: R$ 39,50 (www.paulovazfragmentos.com.br)




  

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