"Anjo, eu sei que sua preferência sexual é diferente. Mas esse tipo de conduta sexual sua não vem do teu espírito, isso não é teu", escreveu Rose, propondo promover "essa mudança definitiva de Deus, orando e jejuando".
Você pode tirar, a seguir, algumas das suas dúvidas sobre o assunto.
O QUE É "CURA GAY"?
É o jargão mais conhecido para se referir a tratamentos cujo objetivo é converter pessoas LGBTQIA+ à heterossexualidade, oferecidos geralmente por psicólogos cristãos. Outros termos usados são "reorientação sexual", "reversão sexual" e "conversão sexual".
Algumas instituições religiosas e grupos de apoio afirmam que têm o direito de usar sua liberdade religiosa para ajudar as pessoas a mudarem sua orientação sexual.
A HOMOSSEXUALIDADE NÃO É UMA DOENÇA
Não. Em 17 de maio de 1990, a OMS (Organização Mundial da Saúde) retirou o "homossexualismo" (o sufixo "ismo" refere-se a doença na medicina) da lista oficial de distúrbios mentais.
Antes da mudança, a homossexualidade (o sufixo "dade" significa comportamento) estava no mesmo patamar de transtornos como a pedofilia. Em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria já havia banido a homossexualidade de sua lista de distúrbios.
No Brasil, a mesma medida foi tomada antes da chancela da OMS pelo Conselho Federal de Medicina em 1985, após pressão do Grupo Gay da Bahia.
A "CURA GAY" É PERMITIDA NO BRASIL?
Desde 1999, os psicólogos brasileiros são obrigados a cumprir a resolução 001 do Conselho Federal da categoria, que proíbe terapias de reversão sexual em pessoas LGBTQIA+. Não é possível curar uma doença que não existe, explica a entidade.
O serviço chegou a ser fornecido legalmente no Brasil de setembro de 2017 a abril de 2019, até que a ministra Cármen Lúcia, do STF, barrou a prática por meio de uma liminar que atendeu a um pedido do Conselho Federal de Psicologia.
POR QUE A "CURA GAY" CHEGOU A SER PERMITIDA NO BRASIL DE 2017 A 2019?
Em 2017, a Justiça Federal do Distrito Federal concedeu uma liminar que permitia a psicólogos tratar pessoas LGBTQIA+ como doentes e fazer terapias de "reversão sexual", sem que sofressem censura ou sanções do Conselho Federal de Psicologia.
A decisão atendia a um pedido de psicólogos cristãos, que aproveitaram-se de uma brecha deixada pela OMS. Mesmo depois de ter despatologizado a homossexualidade, em 1990, a entidade havia deixado em aberto a possibilidade de as pessoas que não se sentissem confortáveis com sua homossexualidade procurarem tratamento -para a OMS, essas pessoas tinham orientação sexual egodistônica.
Em 2019, a OMS tirou da egodistonia o status de transtorno psíquico na 11ª versão da CID (sigla em inglês para Classificação Estatística Internacional de Doenças). Naquele mesmo ano, Carmen Lúcia suspendeu a decisão de 2017 da Justiça Federal do Distrito Federal.
QUAIS MÉTODOS COSTUMAM SER USADOS NESSES 'TRATAMENTOS'?
Técnicas de condicionamento e repressão, terapias de aversão química e elétrica e até exorcismo, entre outras práticas pseudocientíficas.
O médico britânico Christian Jessen testou seis desses métodos no documentário "A Verdade Sobre a Cura Gay", lançado em 2014. Ao final do experimento, refez um teste de orientação de sexual e constatou que continuava "100% gay".