Uma pele viçosa e hidratada é desejo da maioria das mulheres e também dos homens. Mas num mercado de produtos de beleza dedicados quase exclusivamente às peles brancas, encontrar produtos que combinem com sua estrutura é uma dificuldade diária para pessoas pretas. Conversamos com a fundadora e curadora da marca Negra Rosa, Rosangela Silva, sobre a indústria de cosméticos e os padrões de beleza para entender mais sobre os desafios desse mercado.
"Ter um produto que atende às suas necessidades não é futilidade, é essencial, porque a nossa estética faz parte da gente. Então, é importante ter produtos pensados para as nossas características e se ver representado na indústria da beleza. Principalmente de uma forma diversa e múltipla, não em um padrão de beleza”, afirma a empresária fluminense, nascida em Duque de Caxias.
No início de 2023, a fabricante Farmax anunciou a aquisição da Negra Rosa. Agora, o nome faz parte de uma das maiores indústrias nacionais de itens de saúde e beleza, que pretende investir R$ 100 milhões na marca criada por Rosangela até 2027. Rosangela segue à frente da marca, como consultora e curadora.
Ao passar sacrifícios para encontrar produtos qualificados para sua pele e perceber que outras mulheres também não se identificavam com os produtos disponíveis no mercado, Rosangela decidiu, em 2016, dedicar-se a preencher essa carência. O Negra Rosa nasceu para suprir suas necessidades, incluindo um grupo próximo de mulheres pretas que a acompanhavam em seu blog. No entanto, a marca alcançou dimensão nacional.
Impacto da marca impulsionado
A Farmax quer ampliar presença no mercado e consolidar a marca, assegurando recursos em pesquisa, desenvolvimento e distribuição. Um cenário que apresenta a Rosangela boas perspectivas. “Quando a Negra Rosa começou, eu queria realmente que mulheres negras tivessem uma marca de beleza forte, pensada para elas e que não padronizasse as pessoas negras, porque nós somos diversas.”
Rosangela ainda destaca que a marca não vislumbra um padrão de beleza perfeita, que a sociedade impõe sobre os corpos negros. “Sempre quis que a Negra Rosa fosse uma marca de inclusão desses corpos que não estão no mercado de beleza, em um padrão aceitável das marcas. Não queria ser mais um peso para as consumidoras acharem que têm que se encaixar no padrão Negra Rosa. Não, a Negra Rosa é para todas as mulheres negras, para toda a comunidade negra, que se sintam representadas, goste dos nossos produtos e entenda a proposta”, afirma.
De mulheres pretas, para pessoas pretas
Com mulheres pretas no comando, a Negra Rosa lançou as primeiras linhas após a parceria com a Farmax. As novidades contam com oito produtos em três esferas de tratamento: capilar, facial e corporal. Todos formulados com base em muita escuta e pesquisa sobre as características da pele negra.
Os itens para os cuidados com a pele incluem água micelar, sabonete esfoliante e gel-creme hidratante, além de dois séruns de tratamento. Os outros produtos são óleos antissinais, antiestrias e antiquebra. Com o propósito aumentar o alcance da marca e atender um leque amplo de pessoas, os produtos estarão disponíveis no mercado com preços entre R$ 20 e R$ 50.
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De acordo com a empreendedora, um dos destaques da linha em comparação com outros produtos que prometem cuidado com a pele, além da formulação, é que os testes clínicos foram realizados em peles retintas. A experiência foi essencial para o resultado efetivo. Contudo, a principal diferença está na equipe composta por pessoas pretas. “Nos testes clínicos, os biotipos pedidos foram com pessoas negras, então, a conclusão clínica também foi com pessoas negras”, explica Rosangela.