Jornal Estado de Minas

QUALQUER MANEIRA DE AMOR

Animação mineira 'Placa-Mãe' celebra as diferentes formas de amor

A animação mineira ‘Placa-Mãe’, dirigida por Igor Bastos, tem como foco a celebração da família não convencional. De forma leve e divertida, o filme, que estreará em dezembro, aborda temáticas presentes no Brasil atual, ao mesmo tempo que contempla o futuro. 





Carinhosamente apelidado por Igor de ‘sci-fi da roça’, o filme é o primeiro longa-metragem de animação produzido no interior de Minas Gerais e o segundo quando se trata do estado de Minas. Ao todo, foram mais de 250 profissionais envolvidos ao longo de quatro anos e meio, nas cidades de Divinópolis e Nova Serrana.
O filme se passa em Minas Gerais, mais especificamente, em Divinópolis. Nadi é uma androide com cidadania que ganha o direito de adotar duas crianças, David e Lina. No entanto, Asafe, um político e digital influencer sensacionalista, cria diversas polêmicas sobre o caso com o intuito de gerar popularidade para sua candidatura a presidente do Senado. Em meio a tudo, um mal-entendido leva David a fugir e viver aventuras – consequentemente, Nadi deve decidir entre manter a sua cidadania ou avisar a fuga
às autoridades.

Nadi foi inspirada em Sophia, a primeira robô a receber cidadania, em 2017, na Arábia Saudita: “Comecei a me questionar sobre o que era ser um cidadão. Cheguei à conclusão, até um pouco simplória da minha parte, que cidadania seria cuidar do outro”.





Inicialmente, apenas uma criança seria adotada, entretanto, ao pesquisar mais sobre o assunto, Bastos percebeu um padrão: irmãos, mais velhos e negros são aqueles com menos chances de serem adotados.

Segundo o Observatório do 3º Setor, que fez uma pesquisa apurando dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 26,1% dos candidatos a adotantes desejam crianças brancas, 58% querem crianças até 4 anos, 61,5% não aceitam adotar irmãos e 57,7% preferem crianças sem nenhuma doença. Quando se trata de crianças um pouco mais velhas, apenas 4,52% das pessoas aceitam adotar maiores de 8 anos.

Nadi, a carismática androide, é, na verdade, uma metáfora: “Ela é qualquer família que é reprimida. Acho legal que cada pessoa enxergue na Nadi uma família diferente. Por exemplo, já tive relatos de mulheres negras que falaram ‘Pô, é claro que é uma mãe solo negra’, e aí um casal LGBT, fala ‘É lógico que é um casal LGBT’. O exercício do filme é um pouco isso mesmo, de refletir sobre como as nossas percepções de família têm mudado”, relatou o cineasta.

‘Qualquer maneira de amor vale amar’


Frango com quiabo, pão de queijo e truco: o filme é recheado de ‘mineiridades’, inclusive, em sua trilha sonora. Uma música recorrente no filme é ‘Paula e Bebeto’, de Milton Nascimento:  “Essa é a mensagem principal do filme, que qualquer maneira de amor vale a pena. David e Lina só querem viver a vida deles, como qualquer criança. O mais importante é a relação ‘olho no olho’, é ter carinho, o resto é detalhe. Acho que essa música é especial por representar bem isso”, disse Igor.





De Minas Gerais para o mundo


A animação está selecionada para a 24ª Semana Internacional do Cine Fantástico de Costa del Sol, na Espanha e para o 4º Festival Infantil Tejiendo Cine, no Equador. 

Além disso, concorre na 14ª edição do Festival Internacional de Cine con Valores (FIC Valores), do México, a Melhor Filme; no Lisboa Indie Film Festival (LISBIFF), de Portugal, a Melhor Diretor e Melhor Filme; e no New York International Film Awards (NYIFA), dos Estados Unidos, a Melhor Filme e Melhor Roteiro.

Segundo Igor, levar o filme para festivais internacionais foi ‘muito prazeroso’, mas também ‘inesperado’: “Quando começamos Placa-Mãe, não esperávamos que a animação fosse ganhar o mundo nessa velocidade ou que iríamos concorrer com live-actions e documentários. Foi uma surpresa muito boa. Estamos felizes em dar visibilidade ao nosso trabalho”, completa o cineasta.






Preocupação com a igualdade que vai além das telas


Segundo Igor Bastos, houve uma enorme preocupação em pagar os homens e mulheres envolvidos no filme de forma igualitária. As dubladoras tiveram seus cachês aumentados para receberem o mesmo que os dubladores homens, que propuseram cachês não negociáveis de maior valor. 
A presença de mulheres em cargos-chave da produção do longa também foi uma grande preocupação do cineasta. Os cargos de Controller e Direção de Arte foram atribuídos a mulheres, assim como o Storyboard, que duas das três pessoas envolvidas eram mulheres. 

A animação também foi majoritariamente feminina: dos 15 envolvidos, 10 eram mulheres.