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Estado de Minas INDÍGENAS

O Chamado do Cacique Raoni espera 600 convidados a partir desta segunda

Encontro convocado pelo cacique, ícone da luta pelos direitos dos povos originários, vai debater estratégias contra a tese do marco temporal


23/07/2023 20:26 - atualizado 23/07/2023 22:59
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Raoni usa um cocar colorido
Cacique Raoni é uma das lideranças indígenas mais conhecidas do mundo (foto: AFP)
"Se nós não cuidarmos da nossa terra e de nossas florestas, se deixarmos desmatar tudo, todos vão sofrer com as mudanças climáticas, com o intenso calor e com a poluição do ar. Faz tempo que eu tenho alertado o mundo, mas é preciso continuar alertando vocês."


Foi com essas palavras, em um vídeo curto, que o cacique Raoni Metuktire, ícone da luta por direitos dos povos originários brasileiros e pelo meio ambiente, convocou lideranças indígenas, guardiões da floresta e autoridades para um encontro que deve resultar em um compromisso conjunto "em defesa da Terra".


Esta será a segunda edição de O Chamado do Cacique Raoni, evento que começa nesta segunda-feira (24) e vai até sexta (28) no Parque Indígena do Xingu.


O encontro ocorrerá na aldeia Piaraçu, localizada na Terra Indígena Capoto Jarina, no município de São José do Xingu (MT), dentro do território kaiapó.


A aldeia fica a 952 km da capital do estado, Cuiabá, e a 42 km do centro da cidade, mas o acesso não é dos mais fáceis. Para quem vem de outros lugares do Brasil, é preciso voar até Sinop (a 476 km de distância) e, na sequência, viajar mais de oito horas por terra. Como alternativa, é possível fretar um avião também saindo de Sinop e voar por mais 1h15 até a aldeia.


São esperadas de 500 a 600 pessoas, entre indígenas de todo o país, convidados não indígenas e jornalistas. Para recebê-los, foram construídos redários com capacidade para centenas de pessoas, assim como um refeitório onde serão servidas três refeições ao dia.


O evento terá duas agendas. Nos dias 24, 25 e 26, a programação é apenas para os indígenas, com eventos com foco na formação de jovens lideranças, cosmologia indígena e combate às mudanças climáticas.


Está prevista a participação de nomes como a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), o cacique kaiapó Megaron Txucarramãe, o xamã yanomami Davi Kopenawa, o escritor Ailton Krenak e a líder munduruku Alessandra Korap.


Já nos dias 27 e 28 os eventos são abertos a convidados e parceiros não indígenas.

Vão ser discutidos temas como a história da resistência do movimento indígena e estratégias contra a tese do marco temporal.

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, é uma das autoridades confirmadas no evento. A participação da ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) também era prevista, mas ela estará em um encontro de ministros da área ambiental na Índia.


Marina deve ser representada pelos presidentes do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Rodrigo Agostinho, e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), Mauro Pires.


Era esperada ainda a presença do presidente Lula (PT), mas até a última sexta-feira (21) a agenda do mandatário não listava a participação no evento. No dia da posse do petista, Raoni subiu a rampa do Palácio do Planalto ao lado do presidente.


O cacique é uma das lideranças indígenas mais conhecidas do mundo. Não se sabe a data exata em que ele nasceu, apenas que foi no início da década de 1930, em Kapot, Mato Grosso, na região do Xingu –ele tem, portanto, cerca de 90 anos.


No vídeo em que faz o seu chamado, Raoni ressalta que os direitos indígenas estão constantemente ameaçados. Ressalta também a necessidade de união no movimento para que "alguns parentes [como os indígenas chamam a si mesmos] não entreguem as nossas terras e florestas para a exploração e destruição", numa aparente referência a grupos que se envolvem com o garimpo e outras atividades ilegais em terras indígenas.


O principal tema de debate do evento deve ser a defesa dos territórios, uma causa ameaçada pelo marco temporal — tese que restringe a demarcação das terras indígenas ao afirmar que o processo deve respeitar a área ocupada pelos povos até a promulgação da Constituição Federal, em outubro de 1988.


O tema está em pauta no Supremo Tribunal Federal e no Congresso, sob forte pressão de ruralistas, que têm interesse na adoção do entendimento.

Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), uma das organizações que apoiam o evento, afirma que a grilagem também deverá ser discutida no encontro.


"A grilagem vem crescendo bastante na Amazônia, em terras públicas —e as terras indígenas estão nesse bojo. Nos últimos anos, a invasão, a grilagem de terras e o desmatamento ilegal dentro das terras indígenas mais do que dobrou", diz.

Moutinho afirma que, do ponto de vista cultural, haverá uma passagem da liderança do cacique para os mais jovens. "Está prevista uma mensagem do Raoni aos jovens, para que assumam a luta que ele vem travando para garantir direitos, suas terras e seu modo de vida."


Ao final do evento, é esperado que as lideranças indígenas assinem conjuntamente uma carta com diretrizes para a defesa dos territórios e da floresta.

 

 


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