Como resposta ao caso da jovem de 22 anos estuprada no Bairro Santo André, Região Noroeste de Belo Horizonte, no último domingo (30/7), foi realizado nesta quinta-feira, (3/8), às 17h, na Praça Sete, um protesto contra a cultura do estupro na cidade.
Organizado pela "Frente 8 de Março Unificado", que reúne mais de 50 movimentos sociais e coletivos feministas da Região Metropolitana de Belo Horizonte, o ato visa cobrar as autoridades para que políticas públicas que garantam a segurança e integridade das mulheres sejam implementadas.
Conforme dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp), de janeiro a junho deste ano, foram registrados 294 estupros na capital mineira, caracterizando um aumento de 36%, quando comparado ao mesmo período do ano anterior, que registrou 216 casos.
“Fomos para as ruas hoje novamente movidas pela brutalidade da violência contra a mulher. Não admitimos a falta de indignação frente a um caso tão brutal como esse. Não dá mais para ficar de casa assistindo tudo pela TV. É muito importante ocuparmos as ruas e mobilizarmos a sociedade para lutar e cobrar justiça”, diz Yany Mabel, jornalista, militante feminista e uma das organizadoras da "Frente 8 de Março Unificado".
Pesquisas que abrangem o cenário nacional também evidenciam a gravidade do problema. Segundo um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em março deste ano, é estimado que duas mulheres sejam estupradas por minuto no Brasil, totalizando cerca de 822 mil casos por ano.
“Hoje pedimos um basta à cultura do estupro. Infelizmente aconteceu com essa jovem de 22 anos, mas poderia ser qualquer uma de nós”, conclui Yany.
Para a estudante de ciências sociais Sofia Amaral, de 22 anos, o protesto serve "para tirar a barbaridade que aconteceu do silêncio".
"Assim, conseguimos demonstrar apoio e solidariedade à vítima. Que os nossos corpos, historicamente violados, possam ser livres", avalia a militante do movimento, acrescentando que houve alguns poucos momentos de hostilização.
"Apesar da maioria estar ali para recepcionar o protesto de forma positiva, algumas pessoas que passavam de carro gritavam ofensas ou nos mandavam ir trabalhar. De todo modo, somos mulheres, trabalhadoras, e estávamos ali em busca de justiça", finaliza.
"Apesar da maioria estar ali para recepcionar o protesto de forma positiva, algumas pessoas que passavam de carro gritavam ofensas ou nos mandavam ir trabalhar. De todo modo, somos mulheres, trabalhadoras, e estávamos ali em busca de justiça", finaliza.
Para realizar uma denúncia de violência sexual, é necessário realizar um boletim de ocorrência ou ligar para o número 180 para entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher, que funciona 24h horas por dia, durante toda a semana. Em casos de violência contra criança e adolescentes, a denúncia pode ser realizada no conselho tutelar, no Ministério Público e/ou na Delegacia da Infância e da Juventude.
O que é relacionamento abusivo?
Os relacionamentos abusivos contra as mulheres ocorrem quando há discrepância no poder de um em relação ao outro. Eles não surgem do nada e, mesmo que as violências não se apresentem de forma clara, os abusos estão ali, presentes desde o início. É preciso esclarecer que a relação abusiva não começa com violências explícitas, como ameaças e agressões físicas.
A violência doméstica é um problema social e de saúde pública e, que quando se fala de comportamento, a raiz do problema está na socialização. Entenda o que é relacionamento abusivo e como sair dele.
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Como denunciar violência contra mulheres?
- Ligue 180 para ajudar vítimas de abusos.
- Em casos de emergência, ligue 190.
Onde procurar ajuda
A mulher em situação de violência de qualquer cidade de Minas Gerais pode procurar uma delegacia da Polícia Civil para fazer a denúncia. É possível fazer o registro da ocorrência on-line, por meio da delegacia virtual. Use o aplicativo 'MG Mulher'.Locais de atendimento e acolhimento às mulheres
- Centros de Referência da Mulher
Espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência. Devem proporcionar o atendimento e o acolhimento necessários à superação da situação de violência, contribuindo para o fortalecimento da mulher e o resgate de sua cidadania. - Casas-Abrigo
Locais seguros que oferecem moradia protegida e atendimento integral a mulheres em risco de morte iminente em razão da violência doméstica. É um serviço de caráter sigiloso e temporário, no qual as usuárias permanecem por um período determinado, durante o qual deverão reunir condições necessárias para retomar o curso de suas vidas. - Companhia de Prevenção à Violência
Dar acolhimento e segurança à mulher vítima de violência doméstica. Trata-se do corpo militar que atuava na Patrulha de Prevenção à Violência Doméstica (PPVD), criada em 2010, treinada para dar a resposta adequada à vítima de violência doméstica e atua em conjunto com outros órgãos do Governo de Minas Gerais. - Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs)
Unidades especializadas da Polícia Civil para atendimento às mulheres em situação de violência. As atividades das DEAMs têm caráter preventivo e repressivo, devendo realizar ações de prevenção, apuração, investigação e enquadramento legal, as quais devem ser pautadas no respeito pelos direitos humanos e pelos princípios do Estado Democrático de Direito. Com a promulgação da Lei Maria da Penha, as DEAMs passam a desempenhar novas funções que incluem, por exemplo, a expedição de medidas protetivas de urgência ao juiz no prazo máximo de 48 horas. - Núcleos de Atendimento à Mulher
Espaços de atendimento à mulher em situação de violência (que em geral, contam com equipe própria) nas delegacias comuns. - Defensorias da Mulher
Têm a finalidade de dar assistência jurídica, orientar e encaminhar as mulheres em situação de violência. É um órgão do Estado responsável pela defesa das cidadãs que não possuem condições econômicas de ter advogado contratado por seus próprios meios. Possibilitam a ampliação do acesso à Justiça, bem como, a garantia às mulheres de orientação jurídica adequada e de acompanhamento de seus processos. - Promotorias de Justiça Especializada na Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
A Promotoria Especializada do Ministério Público promove a ação penal nos crimes de violência contra as mulheres. Atua também na fiscalização dos serviços da rede de atendimento. - Serviços de Saúde Especializados no Atendimento dos Casos de Violência Doméstica
A área da saúde, por meio da Norma Técnica de Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes, tem prestado assistência médica, de enfermagem, psicológica e social às mulheres vítimas de violência sexual, inclusive quanto à interrupção da gravidez prevista em lei nos casos de estupro. A saúde também oferece serviços e programas especializados no atendimento dos casos de violência doméstica.
O que é violência física?
- Espancar
- Atirar objetos, sacudir e apertar os braços
- Estrangular ou sufocar
- Provocar lesões
O que é violência psicológica?
- Ameaçar
- Constranger
- Humilhar
- Manipular
- Proibir de estudar, viajar ou falar com amigos e parentes
- Vigilância constante
- Chantagear
- Ridicularizar
- Distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre sanidade (Gaslighting)
O que é violência sexual?
- Estupro
- Obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto
- Impedir o uso de métodos contraceptivos ou forçar a mulher a abortar
- Limitar ou anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher
O que é violência patrimonial?
- Controlar o dinheiro
- Deixar de pagar pensão
- Destruir documentos pessoais
- Privar de bens, valores ou recursos econômicos
- Causar danos propositais a objetos da mulher
O que é violência moral?
- Acusar de traição
- Emitir juízos morais sobre conduta
- Fazer críticas mentirosas
- Expor a vida íntima
- Rebaixar por meio de xingamentos que incidem sobre a sua índole
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