A população indígena contada em terras oficialmente delimitadas teve alta de 16% no Brasil em 12 anos. É o que apontam dados do Censo Demográfico 2022 divulgados nesta segunda-feira (7) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Esse percentual leva em conta 501 terras indígenas classificadas pelo instituto como comparáveis, ou seja, existentes tanto no Censo 2010 quanto no Censo 2022. Trata-se do recorte recomendado pelo IBGE para analisar o possível comportamento demográfico da população no interior desses locais.
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Nas terras indígenas, não houve mudança nas perguntas feitas pelo IBGE à população local. O instituto, porém, buscou refinar as técnicas de abordagem aos entrevistados. As adaptações envolveram o apoio padronizado de guias, intérpretes e reuniões com lideranças das comunidades.
Isso ocorreu para evitar as recusas dos entrevistados e a possível subenumeração apontada por especialistas no Censo 2010, segundo Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE.
"Dentro das terras, a metodologia das perguntas não mudou. A gente refinou um pouco a metodologia de abordagem e o uso dos guias. Vocês podem fazer as comparações com muito mais tranquilidade", disse.
Detalhes sobre o comportamento demográfico dos indígenas, contudo, ainda dependem da divulgação dos dados complementares do Censo, o que ainda não ocorreu.
Das 501 terras comparáveis, 319 (63,67%) tiveram aumento de indígenas, enquanto 171 (34,13%) mostraram redução. Três (0,6%) apresentaram os mesmos quantitativos em 2010 e 2022. Oito (1,59%) não registraram indígenas nos dois recenseamentos.
Conforme o IBGE, as cinco grandes regiões do Brasil tiveram crescimento da população contada nas terras comparáveis. O maior aumento foi verificado no Norte (22,76%). O Sul, por sua vez, teve o menor avanço (2,58%).
Entre as unidades da federação, Roraima apresentou a maior ampliação da população indígena registrada nas terras oficialmente delimitadas e comparáveis: 53,56%.
O contingente local subiu de 46,5 mil em 2010 para 71,4 mil em 2022. Acre (44,61%) e Maranhão (40,27%) vieram na sequência.
Quatro estados, por outro lado, tiveram redução na população indígena em terras comparáveis. São os casos de Alagoas (-17,72%), São Paulo (-14,24%), Santa Catarina (-6,22%) e Rio Grande do Sul (-1,48%).
Os critérios do Censo 2022 consideram como terras indígenas aquelas que apresentavam alguma delimitação formal da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) em 31 de julho do ano passado. É a data de referência do recenseamento.
No total, o Brasil tinha 573 terras oficialmente delimitadas até esse dia, conforme as informações da Funai utilizadas pelo IBGE. Nesses locais, a população indígena chegou a 622,1 mil habitantes em 2022. Em 2010, eram 505 terras, com 517,4 mil indígenas.
Considerando esses dados, a variação da população foi de 20,2% entre um recenseamento e outro. Porém, como há diferenças nas amostras, o IBGE desaconselha esse tipo de comparação para análise demográfica.
"Quando você quer avaliar a variação de população para entender o crescimento demográfico, o ideal é fazer a comparação com as terras comparáveis", disse Fernando Damasco, gerente de territórios tradicionais e áreas protegidas do IBGE.
"A gente está tendo esse cuidado para evitar erros de interpretação dos dados. Por exemplo, no Ceará, se você não usar esse critério , vai ter um crescimento acima de 100% da população em terras indígenas, porque de 2010 para cá foi incluída uma terra muito grande", acrescentou.
Os indígenas que viviam nas 573 terras oficialmente delimitadas (622,1 mil) correspondiam a 36,73% do total no Brasil em 2022 (quase 1,7 milhão). Ou seja, formavam a minoria dessa população.
Já a população indígena recenseada fora das terras foi de quase 1,1 milhão em 2022 –ou 63,27% do total (quase 1,7 milhão).
O Censo trabalha com três conceitos de localidades indígenas. O primeiro é o das terras indígenas oficialmente delimitadas pela Funai.
Os outros dois envolvem os agrupamentos indígenas e as outras localidades indígenas. Ambos são identificados pelo próprio IBGE, e não pela Funai, como no caso das terras oficialmente delimitadas.
Brasileiros que se declaram indígenas fora desses três tipos de localidades também entram na contagem.
Terra Yanomami é a mais populosa do Brasil
A Terra Indígena Yanomami, que abrange os estados do Amazonas e de Roraima, é a mais populosa do país. No local, o Censo 2022 identificou quase 27,2 mil indígenas –o número era de 25,7 mil em 2010.
Segundo o IBGE, a Terra Indígena Yanomami também é a maior do Brasil em área, compreendendo 9,5 milhões de hectares. Isso corresponde, aproximadamente, ao território somado dos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, diz o instituto.
"A terra yanomami tem um relevo muito desafiador. Não possui estradas de circulação. Os rios, em grande parte, não são navegáveis, ou têm uma navegação muito difícil", disse Damasco. Para fazer o recenseamento em parte desse território, o IBGE precisou utilizar aviões e helicópteros.
O povo yanomami ficou em evidência por sofrer uma crise humanitária em meio à invasão de garimpeiros ilegais, movimento que disparou durante o governo Jair Bolsonaro (PL).
Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que o garimpo ilegal no território yanomami quase triplicou em 2022, na comparação com 2020.
Para concluir a coleta dos dados neste ano, o instituto usou ferramentas de monitoramento por satélite e contou com a ajuda de outros órgãos do governo federal, incluindo forças de segurança.
"Essa metodologia viabilizou que encontrássemos novas localidades que os órgãos locais não conheciam. Visitamos localidades com postos de saúde fechados há alguns anos", afirmou Damasco.
"A gente tem certeza de que o dado que a gente está entregando da terra yanomami é o mais confiável, o mais abrangente, o mais seguro, em termos de população", acrescentou.
A população recenseada nesse território (27,2 mil) corresponde a 4,36% do total de indígenas em terras oficialmente delimitadas no país (622,1 mil).
O segundo maior número foi verificado na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. O IBGE contabilizou 26,2 mil indígenas no local. A Terra Indígena Évare I (20,2 mil), no Amazonas, vem em seguida.
Alto Rio Negro (18 mil), também no Amazonas, e Andirá-Marau (14,3 mil), no Amazonas e no Pará, fecham a lista das cinco terras indígenas mais populosas do país.
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