Jornal Estado de Minas

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Jogador trans é autorizado a atuar pela seleção masculina de tênis de mesa

Na última terça-feira (8/8), a Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF) deu o aval ao mesa-tenista brasileiro Luca Kumahara para que ele comece a participar de competições masculinas. A decisão da entidade foi comunicada à Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), que havia feito o pedido de mudança no ano passado, após o atleta informar que iniciaria o processo de transição de gênero.





O caso de transição de gênero é inédito na modalidade em todo o mundo e, por este motivo, a ITTF precisou montar um grupo de trabalho para analisar o tema e deu início a estudos que embasaram a decisão anunciada nesta semana.

“Na ITTF, entendemos que esta transição é um passo significativo em sua jornada e queremos garantir a você que a Federação apoia suas escolhas e decisões. Estamos empenhados em criar um ambiente que promova a inclusão e respeite as identidades individuais”, disse Raul Callin, secretário geral da ITTF, em mensagem de apoio a Kumahara.

O mesa-tenista tem 28 anos e carrega em seu currículo participações em competições femininas nas Olimpíadas de Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020. Seus resultados anteriores serão mantidos no seu histórico no site da ITTF e, a partir de agora, a CBTM fará o pedido oficial de Kumahara em competições masculinas, em formulário especial. Após os trâmites burocráticos, o brasileiro estará apto a jogar ao redor do mundo.





Caso inédito

Kumahara anunciou à CBTM que iniciaria sua transição ainda no ano passado, quando passou a adotar Luca como seu nome social nos torneios internacionais, ainda como integrante da equipe brasileira feminina de tênis de mesa.

O torneio Mundial de tênis de mesa, que aconteceu em Durban, na África do Sul, em maio deste ano, marcou a despedida do mesa-tenista da categoria feminina – na qual competiu individualmente e em dupla, com Bruna Takahashi.

Ele estava disposto a adiar sua hormonização – terapia hormonal utilizada por pessoas transgênero e travestis para se expressarem e serem reconhecidas dentro dos padrões de gênero com o qual se identificam – porque pretendia participar do campeonato Pan-Americano de Santiago ainda em 2023, além de disputar as Olimpíadas de Paris em 2024 na categoria feminina, mas uma troca repentina de técnico da seleção brasileira o fez repensar.





A CBTM substituiu Hideo Yamamoto por Jorge Fanck sem consultar a equipe, o que gerou ressentimentos entre os membros da seleção.

“O Hideo, nosso técnico desde 2021, era um dos pilares da equipe. Pela primeira vez na história, a gente teve um técnico fazendo um trabalho excepcional, muito profissional e com conhecimento. Além disso, ele vinha trazendo muita confiança para a equipe, porque estava trabalhando duro com a gente”, afirmou Kumahara.

“Quando a federação o desligou sem nos consultar, ficamos em choque. Nós, como equipe, tentamos argumentar e não fomos ouvidos, senti uma falta de consideração e de respeito. A partir daí, eu comecei a balançar e me questionar se fazia sentido continuar na equipe ou deixar para começar o processo de mudar todos os documentos, hormonizar e iniciar meu caminho na equipe masculina”, comentou.

Os conflitos entre a CBTM e a seleção acabam aí. De acordo com Luca, a entidade o apoiou muito desde que anunciou que é um homem trans.

“Eu sou grato a todo o apoio que a CBTM me deu desde o início, inclusive para tentar incluir o assunto na comunidade da modalidade, falar sobre pessoas trans, identidade de gênero e tudo mais. A forma como fui acolhido foi muito importante e valiosa para mim. Uma coisa não anula a outra”, comentou.




 

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